PERDAS E LEMBRANÇAS, por Rubens Nóbrega

Humberto Lira, jornalista paraibano, morreu aos 77 anos vítima de Covid-19 — Foto: Arquivo Pessoal

Vítima da Covid, o jornalista Humberto Lira (foto de arquivo pessoal) faleceu aos 77 no 31 de agosto deste ano, em João Pessoa

Lendo Sílvio Osias, hoje, lembrando ‘Lennon, 40 anos esta noite’, lembrei-me de Antônio Vicente Filho, o AVF, com quem compartilhei muito batente de redação e alguma cerveja no balcão.

Lembro bem da gente no velho Correio de guerra, onde ele carimbava com o seu indefectível lamento qualquer notícia de morte sobre a morte de alguém de nossa estima, admiração profissional ou idolatria. 

“Fogo, né? A gente perde nosso amigo… Enquanto isso, Pinochet (por exemplo) fica por aí, vendendo saúde…”, martelava ele, realmente sentido com a falta que humanos como John Lennon (por exemplo) podem fazer à humanidade.

Faz tempo, não me comunico de alguma forma com AVF, que veio do seu Piancó, final dos setenta, para brindar amigos e colegas em João Pessoa com sua verve e incrível memória sobre expoentes e eventos da música popular brasileira.

Nesse tempo tanto, perdemos muitos dos nossos colegas mais queridos. Cristovam Tadeu, Bosco Gaspar, Wellington Seixas, Castor, Crispim, Ricardo Prado, Magidiel Lopes, Humberto Lira…

Lista tristemente imensa, merecedora dos três pontinhos que remetem ao infinito e além, para além das reticências da saudade, jamais da dúvida sobre tão imerecidos fenecimentos.

Porque pessoas do bem jamais terão dúvida quanto à dor verdadeira da perda dos bons e a sensação assistirmos, hoje no Brasil, a milhares de perdas evitáveis, mas desgraçadamente consumadas pela desgraça da Covid.

Por favor, AVF, tantos outros colegas, todo mundo, mas por favor mesmo… Cuidem-se. Cuidemo-nos. Para que vocês nem eu sejamos tentados a pronunciar – diante da pior notícia (pros seus ou meus) – aquela ‘frase dizendo assim’:

– Perdemos R… Fogo, né? Enquanto isso, esse psicopata genocida fica por aí, vendendo saúde…

ESCAPULIDAS, por Ana Lia Almeida

Sei que ninguém aguenta mais esse papo de quarentena e isolamento social. Mas a pandemia ainda não acabou, o que se há de fazer? Nós, os Isolados, continuamos bem guardados em casa.

Devo confessar, no entanto, que tenho lá minhas escapulidas. Peço que não se zangue, cara leitora, e que não me julgue, estimado leitor. Atire a primeira pedra aquele que, no meio de uma pandemia, nunca escapuliu.

Não falo do protesto ao qual eu tive de ir, nem das providências policiais e bancárias de quando a minha mãe foi roubada. É outro o departamento.

Vou logo confessar tudo de uma vez, do menos para o mais grave. Primeiro que durante a feira, às vezes, eu me aproveito e passeio no supermercado. Entre uma prateleira e outra, eu me distraio com itens coloridos, que eu nunca vou comprar, só pelo sabor de estar mais um pouco fora de casa. Segundo: dia desses, voltando da farmácia, eu acabei parando em um café. Ele surgiu na minha frente, luminoso, recém-inaugurado, perto da minha casa. Eu não pude resistir.

Terceiro, e o mais grave, pelo que desde logo peço a caridade de vosso perdão. Não é tanto pelas medidas sanitárias, que foram todas preservadas. O pecado residiu na luxúria. No desfrute de tanta felicidade numa só escapulida, enquanto meus companheiros isolados padeciam trancafiados em suas casas numa tarde tão bonita.

Eu ganhei as ruas de novo, em cima da minha bicicleta. A padroeira da cidade me saudou quando passei em frente à sua catedral. Confraternizei com os irmãos venezuelanos que celebravam um culto no Ponto dos Cem Réis. O vento acariciou meu rosto entre as árvores da Praça Rio Branco. Desci para a Lagoa, natalina, festejante.

Do alto do meu êxtase, pensava: eu amo a rua, a rua é a minha casa, um dia eu volto pra rua de vez. Um dia, próximo, mais perto do que longe. Um dia em que eu poderei abraçar as pessoas, apertar as mãos delas, beijar-lhes as bochechas. Será o dia mais feliz da minha vida.

Enquanto isso, continuarei em casa. Escapulindo, de vez em quando, que ninguém é de ferro.

SUGESTÃO DE PRESENTE

Um ano e quase três meses depois de sua ausência física entre nós, Ronaldo Monte continua a surpreender. Surpresa boa, lógico, porque dele não se espera outra coisa além do bom e do bem. Do bem feito, do sensacional ou maravilhoso que são as referências mais comuns e inafastáveis de suas obras. Na poesia, na prosa, no magistério. na psicanálise…

Obras como ‘A menina De Noite’, a surpresa que sua Glória Glorinha me apresentou esta semana e já já vai pros olhos e estantes de Davi, Delaninho e Malu, meus netos mais lindos do mundo. Tão lindos quanto Gabriela, a netinha De Noite, fonte de toda a beleza e ternura que brotam dos versos do Vovô Rona publicados pela editora Paulus, encantadamente ilustrados por Veruschka Guerra.

Antes de tudo e além de excelente álbum da melhor e mais criativa literatura infantil, ‘A menina De Noite’ pode muito bem frequentar as melhores listas de paradidáticos dedicados e apropriados a crianças de 4 a 7 anos. Aqui, aparece como ótima opção-sugestão de presente de Natal para meninas e meninos que devem e merecem ser incentivados à leitura por seus pais, avós, tios, tias…

Em João Pessoa, o livro de Ronaldo Monte pode ser encontrado na Livraria do Luiz (Galeria Augusto dos Anjos, Praça 1817, 88 – Centro – 3576.5573) e n’A Budega (Rua Cel. Artur Américo Cantalice, 197 – Bancários – 98812.2282). Exemplares também podem ser adquiridos com Glória (98855.1285) e Valéria (98827.5243 e 99342.1302).