O TEMPORAL, por Aderson Machado

Imagem meramente ilustrativa (Foto: Rafael Damasceno/Climatempo)

Ainda lembro como se fosse hoje. Aconteceu numa Sexta-Feira da Paixão do longínquo ano de 1960, quando eu ainda completaria oito anos e morava no Sítio Fechado, município de Areia, Paraíba.

Pois bem, por volta de uma e meia da tarde desse dia dedicado à Paixão de Cristo, começou a chover. Não era uma chuva qualquer; na verdade, tratava-se de um verdadeiro temporal, desses de meter medo em qualquer cristão.

Com efeito, amiúde os trovões ribombavam, parecia até que o “céu” vinha abaixo. Os relâmpagos clareavam tudo, já que as nuvens escuras faziam com que o dia ficasse escuro. Como tinha – e ainda tenho – muito medo de trovões, ficara em polvorosa com aquele terrível temporal. E após cada relâmpago, sobrevinha um trovão correspondente, já que a velocidade da luz é muito maior que a do som.

Com o passar do tempo, a tempestade aumentava de intensidade e o meu pavor também. De repente, não sabia se ia ou ficava; se me deitava ou ficava em alerta, andando dentro de casa, que, por sinal, tinha um cômodo bastante apropriado para me aboletar numa situação como aquela. Era a bodega de meu pai, que tinha o teto forrado de madeira, praticamente à prova de som.

Mas, de tão apavorado que estava, não me lembrei desse importante detalhe! Assim, fiquei perambulando dentro de casa, sem rumo nem prumo. Num dado momento, achei por bem ficar à janela da sala de estar, para contemplar a chuva. Achava que os trovões tinham dado uma trégua. Ledo engano. Foi exatamente nesse momento que, subitamente, ouvi um estrondo de altas proporções. Um pipoco único.

Era como se tivesse caído uma bomba atômica nas proximidades de minha casa, petardo que fez com que eu caísse ao chão e ficasse desacordado. Disseram-me depois que minha mãe me levou para a cozinha, deu-me garapa de açúcar e algum tempo depois voltei à tona, para alívio de meus familiares e de todos que estavam em minha casa. Por essa ocasião, todavia, o temporal havia aplacado. Ainda bem.

Mas o efeito do grande trovão não se resumiu apenas ao meu desmaio. Um dia após o temporal, tomei conhecimento de que um raio havia caído sobre um coqueiro, que ficava a 100 metros de nossa casa. Foi precisamente o raio correspondente a esse trovão avassalador. É indispensável dizer que o coqueiro morreu em consequência. Dos males o menor, porquanto pior seria morrer algum um ser humano.

Destarte, a Sexta-Feira da Paixão passou a ser um dia marcante para mim em função desse episódio, apesar de, ao longo de minha vida, ter enfrentado outras intempéries, porém sem maiores consequências.

E por falar em tempestades, meu pai nos alertava no sentido de que não era o trovão com o qual devia me preocupar mais; o perigo, portanto, dizia respeito ao raio que caía na terra. Ele tinha toda razão: raio é consequência de uma descarga de altíssima voltagem. Ocorre quando duas nuvens com cargas elétricas opostas (negativas e positivas) se encontram. O raio provocado por esse encontro de nuvens tem dois caminhos a percorrer: ou é descarregado entre as próprias nuvens ou cai sobre a terra. É aí onde mora o perigo.

Com efeito, muitos já morreram atingidos por raios, principalmente na zona rural, onde praticamente não existem para-raios. O mais seguro, nesse caso, é a pessoa se proteger em local fechado.Essa teoria é chamada de Gaiola de Faraday, grande físico inglês, para quem  um ambiente fechado protege-nos de qualquer tipo de descarga elétrica. Por isso ninguém ouve falar que um raio caiu dentro de uma casa ou de um automóvel, por exemplo.

No contraponto, vale dizer que o lugar menos indicado para alguém se proteger de um raio é debaixo de árvore, especialmente se estiver molhada, porque se transforma em condutor de eletricidade, atraindo raio que pode eletrocutar a pessoa desavisada. Tal e qual aconteceu com o coqueiro pertinho lá de casa, na Sexta-Feira da Paixão de 1960.

  • • Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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Uma resposta para O TEMPORAL, por Aderson Machado

  1. Ótima crônica! É que Aderson não ficou sabendo, mas o pipoco foi tão grande que caiu um pedaço do céu, e morreram 6 anjinhos!
    Parabéns, Aderson! Vamos para a próxima