Gonzaga Rodrigues e a tristeza que é depender de ônibus em João Pessoa

Terminal de Integração no Varadouro (Foto: André Resende/G1)

Não sei se é a estreia dele no Facebook, mas hoje (19) foi minha estreia na leitura de Gonzaga Rodrigues naquela ‘rede social’. Li e resolvi socializar – adiante – a crônica do Mestre sobre penúrias e agruras do usuário de ônibus em João Pessoa. E também – ou principalmente – da triste condição humana simbolizada por quem depende do Terminal de Integração do Varadouro (Rubens Nóbrega).

Tristeza integrada

Não sei o que vocês podem achar, mas, por acaso, estive ontem a observar as condições humanas da meia João Pessoa que depende do Terminal de Integração, lá no Varadouro, e não queria dizer nada enquanto alguns de vocês não fizerem a mesma coisa.

Lembrou-me, já que só me vêm coisas antigas, aquelas filas tão divulgadas no mundo inteiro, dos campos de concentração nazistas. Uma multidão sob um abrigo miserável, a conter sua aflição, sua angústia física e moral, separada e isolada de qualquer sonho de dignidade e respeito humano por uma cerca de arame que permite os favores da integração.

Vendo aquilo eu me perguntei: por que os escravos levaram 300 anos para se tocar da sua condição de escravos? Foi preciso que os brancos, os Castro Alves, os Nabucos fundassem naquelas almas empedradas no sofrimento a consciência da sua sub-condição.

A entrada da cidade – pois é ali que desembarcam os nossos visitantes de outras regiões – deveria oferecer um espetáculo menos contrastante com a riqueza e até a suntuosidade de certas catedrais domésticas que dominam a beira-mar.

É um contraste histórico entre a cidade que nasceu à borda do rio, ali fundou a cidade, ergueu suas igrejas e palácios dignos da colina, e a tristeza de hoje.

Só peço que os pessoenses de coração deem uma olhadinha nessa João Pessoa que desce acorrentada para a vantagem da passagem única como o gado descia antigamente para o velho matadouro.

Noutros lugares, como Bogotá, aquilo ali seria um belo centro de convivência, de fraternidade, de amizade, de cultura favorecido pela vantagem de uma só passagem. Há espaço de sobra ali mesmo, só não há nas nossas cabeças elitistas.

  • Gonzaga Rodrigues
É BOM ESCLARECER
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2 Respostas para Gonzaga Rodrigues e a tristeza que é depender de ônibus em João Pessoa

  1. Ricardo escreveu:

    Parabéns pelo texto
    O trânsito é um problema que envolve grupos econômicos poderosos, políticos elitistas, imprensa marron e principalmente muito ranger de dentes da população em geral, e em especial, da mais desprovida de recursos financeiros.
    Abarrotam as cidades de automóveis e motocicletas e sequer deixam espaço para o transporte público mais barato (trem, ônibus, metrô, bicicleta). A maioria dos países que são os produtores e matriz dessas beldades (veículos tipo moto e automóvel) optam pelo trem e metro a exemplo do Japão.
    No Brasil são 50 milhões de autompoveis para apenas 590 mil de transporte coletivo
    Quem se beneficia com o caos no trânsito, decorrente do excesso de veículos circulando?
    a) Governo que gostam de viadutos e estradas em detrimento da saúde, educação e segurança (o pagamento é feito com empreiteiras)
    b) Governo com multas e taxas decorrentes dos veículos automotores, cito como exemplo que a Paraíba recolheu apenas de IPVA em 2016 mais de 290 milhões, e com as multas e CRLV e Seguro obrigatório esse valor mais do que dobra ou seja mais de meio bilhão por ano.
    c) Grupos econômicos poderosos: fábricas e montadoras de automóveis, fábrica e revendedoras de peças de reposição, Concessionárias de veículos, Revendedores de Petróleo, pneus e outros tantos; Especialista afirma que gastamos cerca de R$ 15.700,00 por ano na manutenção de um automóvel de valor de 30 a 50m mil reais
    d) A impressa televisiva que recebe milhões das propagadas oriundas das concessionárias
    e)……
    A culpa é sempre do motorista. É preciso uma reflexão maior sobre os principais vilões do trânsito!
    f)………….

  2. Jotahah Assuncao escreveu:

    Pois sim, caro jornalista e cronista Rubens Nóbrega. Quantas nobres e lúcidas consciências serão necessárias para dinamitar as mentalidades rochosas, egoístas e tacanhas das elites sociais e políticas brasileiras, que (no poder ou nos alpendres do) decidem que apenas uma fatia mínima da pizza global seja destinada ao matulão vazio dos que constroem a riqueza nacional. Partilha cruel, com ser absolutamente imoral. Assino vendado e duplamente. O teu e o percutido libelo do mestre Gonzaga Rodrigues. Abraço fraterno do teu sempre e grato aprendiz. [Jotahah Assunção]