É UMA BRASA, MORA? por Babyne Gouvêa

Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos (Imagem: Wikipedia)

O cantor e compositor Erasmo Carlos, o Tremendão, um dos ícones do movimento Jovem Guarda, encantou-se. De imediato os pensamentos afloraram e me remeteram à adolescência. Quantas recordações, quantos momentos divertidos e, muitas vezes, inconsequentes. Sem perdas e danos, claro!

Fico “viajando” e sonho acordada com as lembranças. Durante conversas com familiares um filme começa a passar na minha cabeça com uma emoção juvenil pulsando ao fundo, enquanto rememoro situações do movimento musical Jovem Guarda, nos anos 60.

Fluem as palavras ao falar sobre a expectativa em torno do dia semanal no qual os representantes do movimento se apresentavam na TV. Semelhante estado de espera quando ocorria show presencial de algum deles, na nossa cidade. Nessa ocasião, me vestia a caráter e, junto com outros adolescentes, cantava e dançava ao som da voz do nosso ídolo e seu conjunto. Formávamos um coral adjuvante.

Roberto Carlos, líder da Jovem Guarda, mereceu uma distinção à parte. Tudo foi permitido para chamar a atenção do Rei. Acessórios decorados com caveira, pingente “brucutu” (retirado do kit do limpador de pára-brisa do carro Fusca, do meu pai), blusa com a pintura do calhambeque, calça comprida colada com final boca de sino, e muita agitação – bem típica de fã adolescente. Foram em vão as apelações do visual. O Rei só focava o microfone, desolando os admiradores.

Shows dos demais cantores e conjuntos do mesmo período musical eram imperdíveis. Anúncio de seus shows provocava frenesi na cidade e alvoroço nas escolas. Na minha casa, em particular, era usada chantagem emocional para comover meu pai e obter permissão para assisti-los.

Matinês e matinais dançantes, no Esporte Clube Cabo Branco, à época da Jovem Guarda, eram bem prestigiadas. Conjuntos musicais caprichavam no eclético repertório e animavam o ambiente levando os dançarinos a exibirem coreografias engenhosas. Alguns deles se destacavam nas flexões corporais e causavam suspiros com os requebros improvisados.

Tempo da adolescência que marcava os primeiros flertes e namoros. Coração disparado quando o pretendente se aproximava para um convite à dança. Mãos suadas, em plena manifestação de ansiedade, só normalizavam depois de constatar o interesse mútuo. Esse encanto era quebrado quando avistava algum familiar espiando nas proximidades.

Assustados, como eram conhecidas as reuniões dançantes entre adolescentes com hormônios em ebulição, aconteciam, geralmente, em residências. Os jovens esperavam ser convidados, obviamente. Decepcionante quando não constavam da lista de lembrados. Solução era participar como ‘penetra’.

Serenatas, muito comuns nos anos 60, nos acordavam ao som de boas músicas, emitindo mensagens do interessado às mocinhas da casa. Aconteceu, também, do repertório constar “Quero que tudo vá para o Inferno”, de Roberto Carlos. O alvo era o nosso pai. Em determinada ocasião, nossos irmãos afugentaram os seresteiros, para a nossa frustração. Chorei envergonhada, e hoje sorrio pensando no ciúme que sentiam das irmãs. Puro cuidado.

Período da Jovem Guarda foi marcante para a minha geração. Teria sido melhor se não tivesse coincidido com a época em que os rapazes vestiam camisa Volta ao Mundo – verdadeiro repelente à atração. Quem a conheceu sabe do que estou falando. É uma brasa, mora?