FECHANDO O FIRO, por José Mário Espínola

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O firo é um jogo que foi muito difundido décadas atrás. Consiste em um tabuleiro com 24 casas, com dois participantes, cada um com nove pedras, pretas e brancas.

O objetivo é enfileirar três pedras em linha reta e sequenciada. Toda vez que se consegue essa formação, o jogador saca do tabuleiro uma pedra do adversário. A expressão “fechar o firo” é justamente o ato de concluir uma boa jogada. Ganha quem conseguir tomar mais peças do adversário, fechando o seu firo.

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Pouco menos de quatro anos atrás, ao iniciar o mandato, o presidente iniciou uma dança de ciranda de mau gosto, ao avançar e recuar em ameaças às instituições da República e à democracia brasileira.

Todas as vezes que fazia algo reprovável, do ponto de vista institucional, ele recuava, dizendo que era brincadeira. Como ele previa, passou a não ser levado muito a sério, especialmente por quem teria como ofício levá-lo a sério: o presidente da Câmara dos Deputados e o Procurador-Geral da República.

Vendo que nada de mal lhe acontecia, ao longo desses quatro anos de mandato o presidente foi proferindo palavras ou tomando atitudes cada vez mais ameaçadoras. E fechando uma espiral em torno da Constituição, como num Bolero de Ravel sinistro, mal-executado por músicos diabólicos, a cada rodada revelando que havia um golpe no centro da espiral.

Ninguém o impediu, o que o deixou cada vez mais estimulado a executar o seu plano sinistro. Sempre surgia alguém importante para dizer ao povo que ele não executaria seu plano sinistro, que era tudo brincadeirazinha.

Como o presidente, embora seja medíocre, não é nenhum otário, e como ele conta com uma assessoria diabólica para fazer o que não presta para o Brasil, ele tomou consciência de que havia fragilidade constitucional do cargo que exercia. Viu que o seu mandato passava pelas mãos do presidente da Câmara dos Deputados e do Procurador-Geral da República.

Nos primeiros dois anos de mandato ele contou com o fator sorte. Pois durante esse período choveram pedidos de impeachment contra ele, na Câmara dos Deputados. Porém, por razões misteriosas, todos foram abafados pelo presidente de então, Rodrigo Maia. A primeira pedra do firo.

A partir do 11º mês do mandato, o presidente contou com o apoio incondicional do Procurador-Geral da República. Este nunca tomou a atitude de denunciar as ações nefastas e crescentes do presidente. Ele é a segunda pedra do firo.

Na virada da metade do seu mandato, o presidente viu que ainda corria riscos: a Câmara dos Deputados ia renovar a sua diretoria, saindo Rodrigo Maia. Assim, precisava agir rápido.

Acionou o Centrão, agora seu parceiro e fiel depositário da sua garantia para continuar presidente. Com a influência do deputado piauiense Ciro Nogueira, eminência do Centrão e por ele nomeado ministro, foi selecionado o deputado alagoano Artur Lira.

Com o total empenho do presidente para “adquirir” apoios, Lira foi eleito e, portanto, assumiu a presidência da Câmara e se tornou o fiel escudeiro do presidente.

Com Lira, o presidente garantiu chegar ao final do seu mandato, fizesse o que quisesse. Assim, o presidente fechou o seu firo.

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Chega-nos a notícia de que o presidente eleito pretende dar apoio à recondução do presidente da Câmara, Artur Lira. Diz a imprensa que isso pode acontecer devido à necessidade de trazer o apoio do Centrão para a sua bancada, naquela Casa. A notícia é preocupante. Gera muita apreensão.

Por tudo o que nestes quatro anos foi feito de mal ao Brasil, ao povo brasileiro. Às minorias perseguidas durante este governo. À natureza do nosso território. À cultura. À nossa independência. À nossa importância para o resto do mundo.

Enfim, tudo isso poderia ter sido evitado se uma dessas três peças do firo do presidente tivesse tido a hombridade de agir como lhe exigia o cargo.

Provavelmente vão dizer que essa negociação com o Artur Lira é estratégica, para garantir a sobrevivência do novo presidente. Lamentável. Significará garantir que o crime compensa. Será um péssimo exemplo para o nosso povo, os nossos jovens. Será um acinte!

Temos a certeza de que ele encontrará outra saída para governar em paz. Há muitos outros nomes na Câmara dispostos a apoiá-lo, e trair Artur Lira.

Temos a certeza, ainda, que o novo presidente já está fechando o seu firo para governar o Brasil com muito mais ética e escrúpulos. Tem apoios para tanto.