ABALOS NA INFÂNCIA, por Babyne Gouvêa

pe de jambo

Imagem meramente ilustrativa. Foto: Daniela Alarcon/Repórter Brasil

Início dos anos 60, pura efervescência. A mudança da capital, do Rio de Janeiro para Brasília, a eleição do presidente Jânio Quadros e sua vassoura contra a corrupção, o veto presidencial ao uso do monoquíni, a renúncia ao cargo, as rádios tocando Bossa Nova…

O frisson daquele período ajudou a mudar costumes, mas a provinciana Paraíba não acompanhou o ritmo dos grandes centros. Existia um ‘delay’ entre as megalópoles brasileiras e a Pequenina. A imprensa estampava a modernidade, mas os padrões da tradicional família paraibana impediam a aceitação das novidades do Sul Maravilha.

Da política à polícia, variavam as informações que nos traziam o rádio e os jornais, principalmente. As transgressões noticiadas impactavam, causavam perplexidade, estarrecimento. Mas aconteceu exatamente nesse contexto o mais horrendo dos assassinatos que se tem conhecimento na história de João Pessoa.

Em época de delinquências menos execráveis e infrações leves punidas dentro de celas do xilindró de precárias delegacias de Polícia, a nossa aparente tranquilidade foi brutalmente interrompida por um protagonista do mal radicado em São Paulo, mas de passagem por nossa cidade. Um resumo…

Irene era doméstica e namorava Simplício, que contratou o paulistano Elias para assassinar a patroa da namorada. O trio assassinou uma senhorinha indefesa que morava sozinha na Avenida Almirante Barroso, no centro da capital. O motivo não podia ser mais banal: a vítima proibira que dormisse em sua casa o namorado da secretária.

Descobertos e presos os autores, o homicídio seria reconstituído depois sob testemunho de uma multidão. No meio dos adultos, uma criança a tudo acompanhava, reparando no contraste entre os estames das flores de jambeiro que entapetavam o chão e o comportamento de alguns presentes que pareciam ovacionar os criminosos.

Com pouco discernimento, mas precocemente sensível, a menina voltou para casa abalada com a conduta bizarra que presenciou. A partir de então, um questionamento tomou conta de sua mente: que motivo teria alguém para manifestar empatia com aquela barbárie, com tamanha atrocidade?

Talvez devamos perguntar, hoje, a quem se compraz com a dor do outro, do diferente, do divergente, e até debocha do sofrimento por que passam milhões de brasileiros que choram a perda de entes queridos assassinados por um vírus que matou milhares com ajuda de monstros em forma de gente.