A LENDA DO HOLANDÊS VOADOR, por José Mário Espínola

O Holandês Voador (gráfico de ponto cruz). Imagem: Elo 7

O Estreito de Magalhães é uma passagem de mar, de aproximadamente 600 quilômetros, logo abaixo da América do Sul, e acima da Terra do Fogo. Tem o seu nome em homenagem ao navegador português Fernão de Magalhães. Pois este navegador realizou a primeira circum-navegação do globo, no ano de 1519, tornando-se o primeiro europeu a atravessar o estreito. Toda a viagem foi muito bem descrita num livro pelo geógrafo e escritor veneziano Antonio Pigafetta: “A Primeira Viagem em Redor do Mundo”.

Assim como o Cabo das Tormentas tem fama ruim desde quando Bartolomeu Dias fez a sua travessia em 1488, o Estreito de Magalhães também é considerado um lugar de navegação muito perigosa. Isso porque a travessia sempre foi muito temida devido ao clima instável, com tempestades súbitas e gigantescas, com ventos insuportáveis para as embarcações da época, além da presença de geleiras e do risco de encontrar icebergs, devido à proximidade com o Polo Sul: o estreito localiza-se no paralelo 55 graus de latitude sul, próximo ao Círculo Polar Antártico.

Já o Cabo das Tormentas, nos anos seguintes à sua descoberta foi rebatizado para Cabo da Boa Esperança, na esperança de que pudesse melhorar, o que nunca veio a acontecer.

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Até o século XX, quando existia o hábito salutar de ler livros, uma das leituras mais fascinantes era a Lenda do Holandês Voador (The Flying Dutchman Legend). Muitas histórias foram criadas em torno dessa lenda, na literatura universal. Livros, filmes e até uma espetacular história em quadrinhos de Tio Patinhas foi produzida pelos Estúdios Disney com esse tema.

A lenda tem muitas versões, desde o Século XVII, quando surgiu pela primeira vez. A mais aceita é que o capitão de um navio holandês, que navegava em velocidade excepcional para a época (daí o ‘voador’ do título), insistiu em atravessar o Estreito de Magalhães, apesar do protesto veemente da tripulação. Esta temia que o navio afundasse, como era frequente acontecer naquela passagem.

Desafiando a tripulação e as intempéries, o capitão louco conseguiu conduzir o navio pelo estreito. Diz a lenda que ele conseguiu realizar esse feito por que fez um pacto o Diabo, ganhando a aposta com dados viciados. Por haver trapaceado, o Diabo, indignado, amaldiçoou o capitão e seu navio, condenando-os a navegar eternamente pelos oceanos, sem nunca poder parar num porto, sempre contra o vento, causando o naufrágio de outras embarcações que porventura o avistassem.

Essa é a versão holandesa. Existem outras versões, inclusive uma que parece ter origem latina. Ela diz que Nossa Senhora atendeu às súplicas dos marinheiros e apareceu no navio. Mas o capitão, louco, atacou a imagem, sendo condenado a percorrer eternamente os sete mares, causando o desastre dos navios que o encontrassem ou vissem.

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Qualquer que seja a versão correta da lenda, todas têm um senso comum: a história de um líder insano, que leva o barco sob a sua responsabilidade rumo ao desastre, apesar dos apelos e advertências de seus liderados. E por causa da sua imprudência, o seu barco não conseguirá mais ser recebido nos portos do mundo.

Respeitando as devidas proporções, essa lenda, essa situação, pode ser aplicada a um país. O Brasil, por exemplo. Tal como o navio da lenda, também tem um líder insano (por coincidência um capitão) no comando, que parece estar levando o país para o desastre. E, igual ao que aconteceu ao navio do Holandês Voador, os portos e aeroportos do mundo a cada dia que passa estão nos fechando as suas portas.

Todos os outros países têm medo de encontrar-nos, ou seja, relacionar-se com o Brasil. E apontam como causa as condutas desastrosas tomadas pelo capitão-presidente. Ou aquelas que tenha deixado de tomar.

Ainda não se sabe se o capitão-presidente fez ou não um pacto com o Demônio. Ao fazer a opção de ser o pária das nações deu um forte sinal desse acordo. Quando fica indiferente a milhares de mortes diárias ou debocha de alguém que adoece de covid, também aponta para um entendimento com Satanás.

O fato é que o Brasil está a caminho do desastre. A única diferença é que no navio do Holandês Voador todos os marinheiros foram contra as atitudes insanas do doido-capitão e no caso do Brasil o capitão-presidente tem o apoio de parcela significativa da marujada que promete acompanhá-lo até o inferno, em detrimento da maioria, que deseja salvar o barco Brasil.

O Brasil vai mesmo se tornar outro Holandês Voador? Ou perecerá num desastre? Os nossos marinheiros irão permitir ou vão corrigir a lenda? Esta é a questão crucial!