Abalada, vejo cenas na mídia, de famílias ao léu. Sem moradia os sem teto improvisam seus lares com entulhos recolhidos nas ruas.
Com as últimas chuvas os tapumes de papelão, servindo de paredes, se desfazem. Os moradores desses improvisados não têm para quem apelar. A solução é encontrada entre eles.
Aqueles mais “afortunados”, por terem encontrado mobílias descartadas no lixo, abrigam os mais necessitados. Reciclam tecidos e madeiras dos móveis imprestáveis e acomodam seus pares de acordo com a criatividade. Ratificam a máxima ‘Querer é poder’.
Como se não bastassem as imagens da mídia, assisto ao vivo árvores servindo de morada, e lençóis velhos usados como divisórias entre arbustos. Em área verde no bairro Manaíra. Como os desassistidos se protegem da chuva, sem teto, só Deus sabe.
Há na comunidade local ações solidárias. Transeuntes acobertam os desamparados com as suas próprias roupas. Mas ocorre, também, de serem observados com olhos enviesados.
Enquanto isso, vemos dados que nos estarrecem. Durante a pandemia de Covid – 19, o Brasil registrou um aumento substancial no número de famílias despejadas de suas moradias, mesmo com uma decisão do Supremo Tribunal Federal que impedia desocupações até o dia 31 de março de 2022.
Dignidade humana, no contexto em que está o Brasil, precisa ser defendida. Despejo de milhares de pessoas no país pode gerar uma desenfreada convulsão social. Some-se a essa conjuntura a estatística da fome.
Vulneráveis da nossa sociedade, população de rua, historicamente sofre com o descaso da falta de políticas sociais específicas. É preciso colocar a vida acima de qualquer outro interesse. É primordial levantar com força o direito humano à alimentação e à moradia.
Dormir sob marquises é indigno. Catar restos de comida em caminhões de lixo é sub-humano. O Estado tem o dever de criar condições para a população exercer a sua cidadania com integridade. Flagelado é uma condição cruel, sem espaço num país que clama por justiça social.