ESPELHO POÉTICO, por Babyne Gouvêa

‘Pequena mulher’, de Olga Della-Vos-Kardovskaya, 1910 (retrato da filha da artista, ilustração do poema ‘Espelho’, de Sylvia Plath, em quadrogiz.blogspot.com)

Sylvia Plath, poetisa americana, no seu poema ‘Espelho’ desperta o leitor para a sua trajetória de vida. Particularmente, para quem chegou à maturidade.

Poema belíssimo, tem o visual como um dos cernes da poesia, como sugere o próprio título.

Aparência madura é reconhecida pelos sessentões? Quem chega a essa faixa etária está pronto para envelhecer consciente das marcas do tempo?

Observam-se no físico mudanças naturais. Olhos e pele já não são os mesmos. Nada que obstaculize o fazer e o falar. Aliás, a liberdade de fazer e falar é uma gostosa vantagem da maturidade.

Envelhecimento dá permissão de tentar viver bem, sem repressões ou opressões. Torna, muitas vezes, mais saudável o convívio com outras gerações.

Mas, por que estou falando dos sessentões, se o belo é o poema de Sylvia Plath e não o ânimo para quem ingressou no estágio idoso?

Ah, tentarei responder: diante do espelho o idoso se vê exatamente com a idade que tem, e feliz por estar vivo e apto – , sem impedimentos para atividades condizentes com os estados físico, mental, social e cognitivo em geral.

Serão reais ou otimistas demais essas impressões sobre o envelhecimento?

ESPELHO APOÉTICO

Chega uma fase da vida em que as visitas aos consultórios médicos se tornam periódicas. Fase do envelhecimento.

Aparentemente, o que se verifica é um número bem maior da frequência aos dermatologistas, preferencialmente esteticistas, e aos cirurgiões plásticos.

Preenchimento aqui, esfoliações ali, e a luta pela aparência jovial eterna não tem fim. Rostos atingem um grau de alteração ao ponto de obrigar o cidadão a substituir as fotos dos documentos, para não correr o risco de constrangimentos.

Cuidado com a saúde torna-se secundário na disputa com a estética. Pode-se deduzir que bom era o tempo em que o fato de ser idoso era encarado naturalmente? Ou será melhor atualmente onde o envelhecer vem acompanhado de cuidados com a aparência para não ser alvo de críticas ferinas?

Poeticamente correto, ideal é envelhecer com saúde e dignidade.