UM CAMELO NA PARAÍBA, por José Mário Espínola

Segundo o autor, “as fotografias mostram que uma obra se sucede à seguinte sem que haja intervalo lógico de acessibilidade” (Fotos: Ricardo Espínola)

Vocês sabem qual é a diferença de um camelo para um dromedário? Ambos são da família dos camelídeos. Porém, enquanto o camelo possui duas corcovas o dromedário ostenta apenas uma.

O camelo é habitante exclusivo da Ásia. Já o dromedário é encontrado na Índia, África e, predominantemente, no Oriente Médio. A partir deste trecho passo a generalizar o nome do animal.

As imagens mais associadas aos camelos são as longas caravanas atravessando o deserto do Saara. Nas excursões para Israel uma das atrações é o passeio de camelo, na realidade um dromedário.

Também é associada aos camelos a visita que os Três Reis Magos fizeram a Jesus Cristo recém nascido, segundo a tradição cristã.

Milhares de filmes já foram realizados incluindo camelos. Um dos que mais rapidamente me vêm à lembrança é “Lawrence da Arábia”, de 1962 e dirigido por David Lean e estrelado por Peter O’Toole, Anthony Queen, Omar Shariff e Alec Guiness. Espetacular!

No Brasil só é possível encontrar camelos espalhados por zoológicos. Aqui na Paraíba não existe nenhum. Ou será que existe? Com certeza, não.

Mas é possível encontrar no litoral norte de João Pessoa sobre na BR-230, Rodovia Antônio Mariz, à altura da praia de Intermares e do acesso à praia do Jacaré, o que parece ser uma inusitada homenagem a esse animal tão nobre.

Nesse trecho existe uma curiosidade de engenharia. Trata-se de uma sequência de dois viadutos, unidos por um segmento da rodovia triplicada, tão próximos entre si que só é accessível por um dos dois viadutos, não sendo permitido que se entre ou saia da rodovia para as ruas laterais senão através de uma das duas estruturas. Ao entrar num se é obrigado a subir no outro.

A imagem que se tem, de quem vem ou para quem vai, e mais ainda para quem está a distância, é das duas corcovas de um imenso camelo de concreto.

Do ponto de vista de circulação de trânsito, de acessibilidade às ruas em torno, tem-se a nítida impressão de que um dos dois viadutos é desnecessário, pois não traz nenhum benefício extra para quem mora ou quer acessar o bairro.

No entanto, quatro quilômetros antes de lá chegar, à altura da Projecta, há um trecho da rodovia que clama por um viaduto e não teve a sorte de receber tão importante obra. Seria sobre a rotatória existente, muito importante acesso ao bairro do Bessa, e para quem precisa retornar em direção ao interior da Paraíba e às cidades de Recife e Natal. Na direção de Cabedelo, é o local de maior dificuldade de trânsito. Porém décadas já se passaram, e não existe o menor sinal da construção de um viaduto nesse local.

Assim, para quem transita pela Rodovia Antônio Mariz, no litoral norte da nossa capital, um daqueles dois viadutos geminados apresenta-se como totalmente desnecessário, podendo configurar prejuízo tanto a usuários quanto aos cofres públicos.

Mas tal desnecessidade não pode ser verificada ou investigada pelo Ibama ou entidades protetoras de animais e vegetais. Com a palavra, o diligente e vigilante Tribunal de Contas da União (TCU).