AS MODERNAS VIVANDEIRAS, por José Mário Espínola

Bolsonaristas fazem crianças de escudo em bloqueio de rodovia (Foto: Reprodução/Twitter)

“Eu os identifico a todos. E são, muitos deles, os mesmos que desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar.”

O autor dessa frase famosa é o marechal Castello Branco, primeiro presidente não-eleito a governar o Brasil nos vinte anos da ditadura militar de 1964.

Ele estava se queixando daqueles civis que, antes do golpe, assediavam os militares, procurando convencê-los a atentar contra a ordem constituída, derrubando o presidente João Belchior Marques Goulart.

Após darem o golpe, no dia 1° de abril de 1964, ao longo de mais de duas décadas os militares fecharam Congresso, cassaram milhares de políticos, juristas, funcionários públicos, magistrados, estudantes universitários e todos aqueles brasileiros que fossem adversários ou simplesmente discordassem da ordem estabelecida.

Estabeleceram a censura e instituíram a tortura e o assassinato de quem fosse considerado adversário. Em consequência, morreram milhares de pessoa.

Em agosto de 1964, Castello Branco proferiu a célebre frase. Queixava-se desses políticos que levaram os militares a embarcar numa nau sem rumo. E que, quatro meses depois, estavam proferindo críticas contra os mesmos militares, por não conseguirem as benesses que esperavam receber. Afinal de contas, apoiaram o golpe por interesse próprio, não da pátria.

As modernas vivandeiras não são pudicas, têm um comportamento bem mais ostensivo. Para pressionar os militares, estão bloqueando rodovias, infernizando a vida dos brasileiros. Agridem e ofendem quem pensa diferente ou se manifesta, mesmo que sejam estudantes secundaristas, invadindo ônibus para covardemente atacá-los. Bloqueiam ruas de acesso a quartéis, indiferentes aos transtornos que causam. Pois não têm a menor sensibilidade aos problemas dos outros.

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Menos de sessenta anos depois, a história está se repetindo. Assistimos aos baderneiros da extrema-direita, açulados pelo seu líder, o presidente derrotado democraticamente nas urnas, rodarem as suas bolsinhas ao longo das calçadas dos quartéis de todo o Brasil. São as modernas vivandeiras.

Além disso, em outra frente tentaram paralisar o país, bloqueando as estradas com seus caminhões. Como tudo tem um custo, e caminhoneiro geralmente não é rico, provavelmente existem financiadores por trás deles.
São figuras covardes, que não se expõem por medo de sofrer as consequências legais dos atos praticados por seus paus-mandados. Mas o pior ainda estava por acontecer.

Quando finalmente as forças de segurança foram acionadas e chegaram à linha de frente, para se defender os manifestantes colocaram em risco a vida de crianças, que puseram na frente como verdadeiros escudos humanos, para os adultos não sofrerem com a repressão. Fizeram iguais ao que fazem os assaltantes de banco do moderno cangaço, que se escudam atrás dos reféns para evitar que a polícia atire neles. Atitude de tremenda covardia, sendo ainda mais cruel por fazê-lo com crianças!

Agindo como verdadeiras buchas de canhão para o presidente, esses baderneiros não aceitam que o seu candidato à reeleição tenha sido derrotado de forma limpa, nas urnas, após uma campanha desigual, nunca vista antes no Brasil, quando o presidente fez todo tipo de manobra vedada por lei, escancarando o Tesouro Nacional para comprar votos.

Todas essas agressões à Constituição, consideradas criminosas, estão sendo estimuladas pelo presidente derrotado e seus filhos, que estão na expectativa de perder as benesses acumuladas  nos últimos anos: impunidade, apesar de terem ferido a lei de todas as maneiras. E a proteção de elementos das instituições por ele aparelhadas: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, CGU, e tantas outras. É o fim do foro privilegiado.

Covardemente, nem ele nem seus filhos vão para a linha de frente das manifestações, estimulando os otários a se exporem por eles, como buchas de canhão.

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Após a eleição, as autoridades de saúde vêm realizando o cálculo do número de leitos necessário para internar a imensa quantidade de psicopatas revelada na votação, para garantir tratamento.

Logo de saída, pensaram em mais de 40 milhões de leitos. Ao longo da semana, porém, como se realizassem uma autocrítica, esse número foi reduzindo progressivamente, ficando apenas em poucos milhares os leitos necessários para internar todos os malucos. A maioria está demonstrando que ainda tem juízo. Algumas delas até já estão fugindo para os Estados Unidos, para escapar da prisão. As manifestações estão funcionando como um auto-censo. 

Mas uma boa notícia estava reservada para o SUS. Boa parte das internações será paga pelos diversos planos de saúde privada desses pacientes, revelando sua origem social: as Unimeds, SulamericaSaúde, Amil, Hapvida, Bradesco Saúde, Allianz, Rede D’Or e outros convênios da medicina suplementar.

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  • Texto: Alice Maciel, Thays Lavor, Gabriele Roza, Alexsandro Ribeiro, José Lázaro Jr. | Infográficos: Bruno Fonseca

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