SURTO DE ESTUPIDEZ (2), por Babyne Gouvêa

Cena antológica das bizarrices antidemocráticas (Imagem copiada do Twitter)

Fico curiosa em saber como constará nos registros da história os atuais eventos antidemocráticos.

Assisto estarrecida verdadeiras aberrações no YouTube acontecendo em diversas localidades do país. Os depoimentos e imagens são assustadores. Causa perplexidade e preocupação o emocional dos envolvidos no movimento dos ‘patriotas’. Até porque, em grande parte, os integrantes são de idade avançada.

Onde estão os familiares dos integrantes dessa bizarrice? Será que todos compactuam com esse comportamento insano? Às vezes chego a pensar que o próprio presidente, que ainda governa (?) o país, esteja surpreso com esse delírio coletivo.

Como jornalistas e historiadores do nível de Laurentino Gomes, Elio Gaspari e tantos outros descreverão esse devaneio? A minha curiosidade toma dimensões profundas à procura de explicações para o incompreensível.

Por ser apaixonada pelo cinema acredito que esta arte terá interesse em registrar as maluquices em frente aos quartéis. Recebi um áudio no qual uma alucinada golpista enaltecia os acampamentos em Brasília. Destacava o banho em box improvisado onde era possível cantar no seu interior o Hino Nacional. O reflexo veio de imediato com o filme “Para Roma com Amor”, de Woody Allen. Na película, o personagem, cantor de ópera, só conseguia inspiração para cantar no momento do banho. A alternativa foi transportar o chuveiro para o palco do teatro. A cena é hilária e inesquecível.

Acredito que a melhor maneira de se abstrair da estupidez coletiva esteja no imaginário. Razoável seria inserir o atual momento brasileiro num filme a ser dirigido, quem sabe, pelo cineasta Woody Allen.

A capacidade de Allen de captar e desvendar mecanismos da sociedade com humor neurótico explicaria, talvez, os celulares postos nas cabeças dos golpistas à espera de comunicação com os alienígenas. As ‘ruas’ de alguns acampamentos estão demarcadas com nomes de Olavo de Carvalho a Damares. Seriam destacadas pelas câmeras do famoso cineasta.

Ainda como amante da sétima arte fiz associação do filme “Forrest Gump”, de Robert Zemeckis, com o momento atual de devaneios desvairados. No filme, o personagem de raciocínio lento, interpretado por Tom Hanks, corre durante mais de três anos. Ao longo de sua corrida acumula muitos seguidores que se veem frustrados quando, subitamente, ele para de correr dizendo estar cansado e que vai para casa. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

A imagem do pneu sendo adorado pelos fiéis ‘patriotas’ é algo difícil de ser relatado por um historiador, devido à estranheza do ato. Um índio evangélico, a caráter, pregando nos acampamentos de Brasília, é uma cena surreal. Palavras não descreveriam com verosimilhança. É preciso ver para crer. Cabe ao cinema, com os seus recursos de reprodução, documentar e exibir para a posteridade.

Os famosos cineastas confirmam a genialidade com a sua capacidade de elaborar filmes com enredos perfeitos. Teriam à sua disposição farto material dos atos em frente aos quartéis, caso almejassem aumentar a sua celebridade.

Assim, o atual surto da estupidez constaria devidamente documentada nos autos da história.