UM ALÍVIO NAS DORES DO MUNDO

“O doce Aracati chega do mar, e derrama a deliciosa frescura pelo árido sertão. A planta respira; um doce arrepio eriça a verde camada da floresta” (José de Alencar, em ‘Iracema’).

Ouvir Caetano, como ouvi ontem, teve em mim o efeito de um Aracati no final de tarde sertaneja, na casa de gente humilde com cadeira na calçada pra falar do tempo, da chuva que não vem e da vida alheia.

Assistir ainda vivo ao Vivo de Caetano, como assisti ontem, deu-me sensação de vida soprando na alma um alívio nas dores do mundo de agora, qual um alísio que refresca e traz calmaria sem nos lançar à deriva.

Ver Caetano cantando, como vi ontem, reacendeu-me aquele resto de esperança de a humanidade dar certo algum dia, porque dela ainda brotam uns poucos gênios do bem como esse moço de 78 anos.

Sentir Caetano cantando, como senti ontem, deu vontade de abrir janela e fazer coro, bem alto, para receber reclamação e pedir perdão e licença à vizinhança. Ah, “deixa eu cantar, que é pro mundo ficar odara”.