AS AGRURAS DO SR. PAULINO, por Babyne Gouvêa

Imagem meramente ilustrativa (depositphoto)

Acontece de tudo num ambiente em que pessoas de temperamentos diversos se reúnem para desenvolver as suas atividades funcionais, demonstrando idiossincrasias pessoais variadas ao enfrentarem adversidades, reagindo com serenidade, indiferença ou exaltação.

Um dos inúmeros casos ocorridos merece destaque – o do Sr. Paulino.

Estava ele, funcionário competente e dedicado ao trabalho – um verdadeiro exemplo para os colegas -, acabrunhado e silencioso, com a cara de quem estava escondendo algo. Os dias passavam e o seu sorriso constante em tempos anteriores, não aparentava mais, evidenciando um semblante de angústia despertando comiseração nos seus pares.

A muito custo, os mais próximos conseguiram extrair dele o motivo de sua tristeza. Marcaram uma consulta para o amigo com um médico proctologista. Foi marcada a cirurgia e o paciente seguiu submisso àquela que seria, segundo a sua concepção, a maior humilhação enfrentada em seus cinquenta anos de vida.

Após o procedimento cirúrgico, o pobre coitado foi acometido de uma surpreendente mudança de comportamento, provocando uma inusitada ansiedade pós-cirúrgica em relatar pormenores do seu sofrimento.

Essa alteração de conduta causou um espanto coletivo e risadas às escondidas, ficando o Sr. Paulino à mercê de chacotas num palco tragicômico.

Mas, o mais assombroso, foi a teimosia do recém operado em esmiuçar o procedimento pelo qual tinha passado, colocando para os colegas pormenores sobre o que ainda enfrentava. O pior estava por vir.

Foi quando a administradora chefe chegou ao trabalho, e se encontrava o Sr. Paulino à sua espera, para lhe expor com riqueza de detalhes o seu martírio.

A princípio houve uma tentativa de interceptação de sua incursão ao ambiente de superiora, mas com determinação ele adentrou alegando tratar-se de um assunto de suma relevância e de caráter impostergável.

Os leitores, decerto, imaginarão a narração do funcionário e a suposta reação perturbadora de sua chefe, ouvindo atentamente a amargura do exímio funcionário, mas tentando dissimular já conhecer o caso.

Procurando as palavras devidas para não inibi-lo, e também na tentativa de abreviar o seu relato, falou de forma eufesmística, o que deixou o Sr. Paulino impactado e agradecido:

– Sou plenamente solidária com o senhor, o seu caso é comum aqui no trabalho e o seu exemplo de coragem deve ser seguido por todos os seus colegas de infortúnio. Já aprovei a aquisição de cadeiras com recursos anatômicos para acomodar de forma devida a região manipulada dos senhores.