SONHAR É PRECISO, por Babyne Gouvêa

Ilustração

(Imagem: Getty/BBC)

Com o aparecimento de vírus tão letal, um pensador passou a administrar o sentimento que tomou conta dele – a saudade do cotidiano – e procurou diversas formas de conviver com tal situação.

No início, difícil, muito difícil. Medos, quebra de rotina, indecisões sobre certo ou errado… O banzo que lhe envolvia seria o causador de suas agonias e hesitações, avaliou. Resolveu, então, enfrentar o que lhe angustiava dando um alô ao imaginário, seu melhor aliado, e apelou à alucinação que lhe apresentou um leque de alternativas para saber lidar com tantas aflições.

Essa opção funcionou como idealizadora de desejos aparentemente absurdos, mas possíveis de se concretizar, embora morador de uma nação carente de civilidade num grau que beira o irracional. Começou a fazer conjecturas.

Quem sabe uma transformação radical e repentina no comportamento da população, deixando todos menos desiguais e vulneráveis. Que tal governantes despertando para o seu verdadeiro papel na sociedade, dispostos a proporcionar educação, moradia e alimentação dignas às crianças, por exemplo?

Os pensamentos fluíram em torno dos cidadãos tendo acesso rápido aos serviços essenciais de saúde, ousou imaginar também todos os cidadãos se direcionando exclusivamente às atividades e condutas assertivas com generosidade e empatia. 

A sua fértil imaginação arriscou uma vida em sociedade sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem as suas próprias necessidades, contando com a sabedoria dos seus conterrâneos sobre a importância de aderirem à sustentabilidade ambiental. Os pulmões do planeta seriam poupados.

Todos esses modelos têm sido imaginados pelo pensador no período de isolamento imposto pela Covid. Um tanto romanceada, é verdade, mas a sua viabilização seria compensatória depois de um longo momento de tormento e incertezas. Segundo ele, esse estado onírico tem funcionado como enorme facilitador de dias tão sofridos. Afinal, concluiu, sonhar é preciso!

  • Babyne Gouvêa é Biblioteconomista