ESQUIZOFRENIAS, por José Mário Espínola

Cena do filme ‘O Capitão’ (imagem copiada de Central Comics)

A vida às vezes imita a arte. Ou teria sido o vice-versa, neste caso? Vejamos.

A película alemã O Capitão (Der Hauptmann – 2017), direção e roteiro de Robert Schventke, conta a história de um soldado raso alemão, que nos estertores da Segunda Grande Guerra está desertando, em pleno rigor do inverno da Europa Central.

A fuga livra o soldado de comandos nazistas, fanáticos que caçam e executam esses desertores pelas florestas, usando todo o requinte de crueldade que lhes é peculiar.

O nosso “herói” consegue escapar escondendo-se num buraco. Mas perde uma das botas e rasga o agasalho. Passado o perigo, vaga pela floresta morrendo de frio e de fome, quando encontra um carro oficial abandonado, contendo uniforme, botas e sobretudo de capitão da Wermacht, o exército alemão. Está salvo do frio, pensa. E veste o uniforme.

Logo se defronta com outros militares, que lhes prestam a obediência ao cargo aparente e se submetem às suas ordens.

Assim, involuntariamente ele começa a comandar. Assume a identidade do uniforme e passa a perseguir outros desertores, inclusive usando os mesmos requintes de crueldade.

Quatro anos atrás, um tenente do Exército que nos anos 1980 havia sido reformado por incompetência moral e recebido o posto de capitão, foi eleito Presidente da República, em votação democrática e incontestável.

Em 1º de janeiro de 2019, o vitorioso assumiu o mandato, o que o tornou, por força do cargo, comandante-em-chefe das Forças Armadas. Como nunca teve maturidade nem equilíbrio para assumir um cargo de tanta responsabilidade, passou a confundir as Forças Armadas com objeto de sua propriedade pessoal, e não como órgãos institucionais, de estado.

É visível a sensação de “embriaguez” do cargo, nos primeiros registros de imagem, quando tem diante de si generais, brigadeiros e almirantes.

Semelhante ao capitão nazista, o capitão brasileiro assumiu a “farda” de comandante-em-chefe das Forças Armadas, porém nunca assumiu as responsabilidades conferidas pelo terno de Presidente da República. E assim vem se comportando ao longo de todo o seu mandato.

Ele chegou a essa distorção pela falta de alguém mais sensato que lhe chamasse à realidade, e que ele respeitasse. Ao contrário, ele só deu ouvidos àqueles insensatos que lhe alimentaram a sua distorção mental, a sua fantasia de marinheiro.

E para isso não têm faltado bajuladores em seu entorno, a começar pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, figura que só exala ódio e rancor.

Esse arremedo de comandante, para felicidade do país, a partir de 1º de janeiro próximo vai despir-se da sua fantasia de comandante incontestável, enfrentará a realidade e deixará de brincar de Cabeça-de-papel.

Esperamos que finalmente receba o tratamento adequado à sua importância: psiquiátrico.