CUMPLICIDADE, por Babyne Gouvêa

À MINHA IRMÃ, TATA

Aparecida G. Baracuhy, Tata

Com carinha manhosa, Cida chamava a irmã caçula para ver o ‘Amigo da Onça’. Esse hábito foi mantido, semanalmente, quando o seu pai trazia para casa a Revista O Cruzeiro, entre as décadas de 50 e 60.

Criação do cartunista pernambucano Pericles Maranhão, o personagem ‘Amigo da Onça’ se tornou marcante para as duas irmãs. A leitura conjunta contribuiu para fortalecer a união entre elas. Pode soar estranho e inusitado. Porém, verdadeiro.

Difícil saber o discernimento das duas crianças diante do humor satírico e crítico do personagem, consideradas as suas tenras idades. Se sorriam diante da situação vexatória, geralmente direcionada a alguém em evidência, ou pela figura de aparência esquisita criada pelo cartunista.

Essa prática semanal contribuiu, sobremaneira, nas ações cotidianas de ambas. Contrariando o que seria natural, ou melhor, a assimilação do senso irônico do personagem, as duas meninas desenvolveram espírito fraterno em todas as fases de suas vidas.

Decerto que Cida influenciou a irmã menor na defesa de valores honrados. Notadamente, o respeito. Respeito às diferenças numa sociedade, como as variadas formas de viver e de pensar. Foi uma das lições assimiladas pela caçula.

Aprendizado assim, diante das diversas percepções sobre a vida, preparou a criança aprendiz para uma boa convivência coletiva. Foi fundamental no cultivo e exercício do respeito por pessoas e por decisões diferentes.

Pequena, sem capacidade de detectar sarcasmo, Cida ensinou a irmã, a partir das ironias do ‘Amigo da Onça’, a se defender sem perder a ética. Empregou linguagem compatível com as suas idades.

Desfrutaram, juntas, de diversos tipos de lazer, a exemplo do cinema e atividades desportivas. Mas, a criação do chargista, Péricles, penetrou em suas memórias como momentos de descontração e aprendizado.

As irmãs cresceram e solidificaram uma união à prova de qualquer ameaça. A caçula, continua grata àquela que lhe ensinou regras básicas de convivência social. Consegue discernir que o sarcasmo pode ser visto como uma habilidade de sobrevivência por causa de seu papel crítico nas interações sociais.

Atualmente, é percebível o bem do ensinamento fraterno a partir de mensagens irônicas, publicadas num periódico semanal há décadas. Serviram para ver a vida como ela é. Sem maquiagem.