ANTES DO PERFUME, por Ana Lia Almeida

Manifestação Ni Una a Menos no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, em 8 de março de 2017 (Rovena Rosa/Agência Brasil)

As perfumarias anunciam, com suas promoções, o Dia da Mulher. Que bom! É o dia em que muitos se esquecem de que somos vendidas o tempo todo como produtos e se esforçam em vender produtos para nós.

Estão lá, na novela e no programa do domingo, as moças bonitas que levantam a audiência com seus corpos nus. Estão também na propaganda da cerveja, tentando nos exigir que bebamos à vontade sem ter nenhuma barriguinha. Já as com cara de certinha estão vendendo cuscuz e máquinas de lavar roupa, ótimas donas de casa. Todas absolutamente transformadas em coisas, assujeitadas.

Os produtores e consumidores destas mulheres negam a história do Oito de Março. Há cento e cinqüenta e três anos, operárias americanas da indústria têxtil organizaram uma paralisação exigindo redução da jornada de trabalho de dezesseis para dez horas. Resultado: morreram carbonizadas por seus patrões, que simplesmente fecharam a fábrica e atearam fogo, em represália aos protestos.

Em reconhecimento à luta contra a opressão que estas mulheres vivenciavam, e que nós ainda vivenciamos em todas as esferas da vida além da do trabalho, foi criado o Dia Internacional da Mulher. Não é um dia bonitinho, feito para se ganhar um perfume. É uma data de muita luta, ainda que essa perspectiva às vezes pareça distante.

Isso porque a condição de ser feminista não é tão natural quanto a condição de ser mulher. Exige a percepção das relações desiguais e injustas travadas entre homens e mulheres, e a vontade de construir outra história. Sou feminista porque desde criança lembro de me indignar com a divisão das tarefas domésticas. Porque sou solidária com as mulheres violentadas pelos homens de sua família. Porque tenho uma filha a quem ensinarei a ser feminista também. Sou feminista porque quero um mundo melhor e tenho “a estranha mania de ter fé na vida”.

Antes das flores, do perfume ou do presente qualquer que você receba ou dê neste 8 de Março, pense no significado político deste dia. Pense nas suas relações dentro de casa, em que medida você anda lavando os pratos e decidindo os rumos da sua família. Pense no seu trabalho, como as mulheres são tratadas e que cargos ocupam. Pense no esforço quase sobre-humano de ser mãe, e como as funções que esse papel acarreta podem ser compartilhadas.

Só então passe o seu melhor perfume, companheira, e vá para a rua protestar por um mundo com igualdade de gênero.

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Publicado originalmente em março de 2010 no jornal Contraponto 

A TELA MAIS BONITA, por Bethania Rolim da Nóbrega

(Imagem: Amazon)

O mundo é essa linda mistura de cores, mas o que falta nessa mistura é que mais cores cheguem aos corações de alguns que se dizem melhores que outros por causa da sua cor.

O homem, como sempre tão mesquinho, borrou a obra de arte que Deus criou, pois é na mistura das cores que a pintura se completa.

Esse mesmo pintor tem várias telas: o céu, o mar, o nascer do sol, a lua… Mas a tela mais bonita não aceita as suas cores.

Como percebemos, vivemos para ver que a arte que vem de Deus está incompleta por causa do olhar deformado da pintura que se olhou e não gostou do que viu.

Vamos chamar o pintor, mas dessa vez para dar um retoque no colorido que faltou dentro dele.

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  • Texto em homenagem a todas as mulheres e ao 8 de Março que vamos todas comemorar depois de amanhã. Escrito revisitado, postado há alguns anos no Instagram. Mudei algumas palavrinhas. Essência mantida. Precisamos falar mais e mais, escrever mais e mais sobre o assunto. Até um dia tudo em que tudo seja diferente e jamais importem as diferentes cores da pele de cada uma de nós.

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  • Bethania Rolim da Nóbrega é Publicitária e Bacharela em Direito