Gonzaga: modernidade esvaziou comícios e ansiedade nas eleições

Agripino (de terno) protagonizou com Rui Carneiro a eleição mais disputada da história da Paraíba (Foto: Arquivo/Cariri Ligado)

João Agripino (de terno) protagonizou com Rui Carneiro uma das eleições mais disputadas de toda a história republicana da Paraíba (Foto: Arquivo/Cariri Ligado)

O processo eleitoral evoluiu, a urna eletrônica chega aos 20 anos, as campanhas mudaram seu formato e a Internet permite ao eleitor acompanhar apuração de votos por celular. As consequências dessas transformações, a importância dos debates e comícios e alguns episódios pitorescos de eleições passadas foram relembrados esta semana no programa CBN Cotidiano, da CBN João Pessoa, por dois consagrados jornalistas e escritores paraibanos – Gonzaga Rodrigues e Silvio Osias.

Ao participar do programa na quinta-feira (29/9), Gonzaga Rodrigues comparou eleições mais recentes com disputas memoráveis do começo dos anos 50 a meados dos anos 60 e concluiu que a modernidade roubou do eleitor a ansiedade e a tensão típicas das disputas do passado.

“O avanço eletrônico nos roubou a tensão, nos tirou aquela ansiedade que havia antes”, disse, citando como exemplo o acirrado confronto para o Governo do Estado de 3 de outubro de 1965 entre João Agripino e Rui Carneiro. Aquela pode ter sido “a eleição que não terminou”, deixando na época toda a Paraíba em suspense pela contagem final dos votos e até hoje remanescem dúvidas sobre quem realmente venceu.

Na conversa com Bruno Filho, âncora do CBN Cotidiano, Gonzaga Rodrigues também atribuiu ao Ponto de Cem Réis de ontem o papel que agora exercem os institutos de pesquisa na aferição da tendência do eleitorado. “Nosso Ibope era o Ponto de Cem Réis, onde também encontrávamos com gente que vinha do Sertão trazendo as notícias” recordou.

Atualmente, com as técnicas de apuração das intenções cada vez mais avançadas e suportadas nas novas tecnologias da informação e da comunicação, muitos resultados podem ser antecipados com razoável precisão nas pesquisas eleitorais. Com isso, em alguns casos, principalmente de favoritismos explícitos, as expectativas do eleitor ficam bastante reduzidas e o placar final da eleição acaba “perdendo a graça” desde a véspera da votação.

Outra mudança significativa, na opinião de Gonzaga, é o visível esvaziamento dos comícios, encarados, antigamente, como atividade importantíssima das campanhas eleitorais. “O comício tinha a conversa perto, o compromisso, o candidato ali, respirando com o eleitor, havia uma espécie de troca de hormônios. Era um negócio muito sério; aí. foi esvaziando”, lamentou.

Debates na televisão

Chefe de Redação por 20 anos da TV Cabo Branco, Sílvio Osias já não mais organiza debates eleitorais, mas sua experiência permite assegurar que ainda têm muita importância nas eleições. Especialmente quando promovidos por uma emissora líder de audiência. Aí, garante, pode ser decisivo.

Dá como exemplos os debates entre Fernando Henrique Cardoso e Jânio Quadros, pela Prefeitura de São Paulo, em 1985, e o mais comentado e estudado até hoje, ocorrido 1989, na disputa presidencial em segundo turno envolvendo Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva.

“Quando uma eleição está muito bem definida, talvez o debate não tenha importância tão grande, mas quando é uma eleição disputada, o debate tem peso”, avaliou o jornalista em sua participação no CBN Cotidiano de quarta-feira passada (28/9).

Dos debates na TV Cabo Branco que Sílvio Osias guardou na memória, dois lhe foram marcantes. Um em 2002, no segundo turno da eleição paras governador, quando o então candidato Roberto Paulino (PMDB) avisou pela manhã que não participaria e à noite apareceu de última hora para enfrentar Cássio Cunha Lima (PSDB), vitorioso naquela eleição.

Aquele foi um dia de tensa espera e muitas dúvidas sobre o que fazer – caso Paulino realmente não tivesse comparecido – com o tempo de televisão (quase uma hora, entre blocos e comerciais) que a Rede Globo reserva a todas as afiliadas para transmissão ao vivo dos debates locais.

O segundo episódio mais lembrado por Sílvio Osias em sua carreira no telejornalismo remete a 2010, ano em que José Maranhão (PMDB) tentava se reeleger governador e faltou ao debate da Cabo Branco no primeiro turno. Essa ausência pode ter lhe custado a eleição, acredita Sílvio Osias.

O raciocínio do jornalista tem a ver com o fato de telespectadores em geral e eleitores em particular não perdoarem quem, favorito ou não, recusa-se a debater com os adversários diante das câmeras. ‘Fujão’ é o adjetivo mais ameno que o ausente ganha em situações do gênero.

Ao debate da Cabo Branco no segundo turno Maranhão veio e encarou Ricardo Coutinho (PSB), mas aí já em franca desvantagem, conforme indicavam as pesquisas eleitorais. Não deu outra: o candidato pessebista tomou nas urnas o cargo que o peemedebista sonhava exercer pela quarta vez.

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