Médica paga do próprio bolso pesquisa sobre zika e microcefalia

Adriana Melo, finalista de prêmio nacional que incentiva a ciência

Adriana Melo, finalista de prêmio nacional que incentiva a ciência

É justo isto? Médica que ligou Zika à microcefalia ainda gasta do próprio bolso pra bancar pesquisas. E só consegue arrecadar R$ 20 mil para abrir centro de atendimento especializado. “Tenho investido dinheiro do próprio bolso para continuar com as pesquisas, mas os equipamentos dos quais disponho não são suficientes para o grau de detalhamento que o problema exige”, desabafa Adriana Melo, que descobriu a relação entre a infecção do vírus Zika em gestantes e as malformações em bebês.

Seu feito conseguiu, com participação de outros profissionais da área, alterar inclusive um protocolo do Ministério da Saúde, que, antes, só exigia a notificação do problema depois do parto. Mudou o foco do problema, chamou a atenção das autoridades do país e ganhou notoriedade.

Rendeu-lhe, também, reconhecimento numa premiação nacional– é finalista do 21º Prêmio Cláudia/Abril 2016, na categoria Ciências. Organizado pela Abril Comunicações S.A., em sete categorias, o prêmio “busca valorizar histórias memoráveis de mulheres excepcionais e atuantes na sociedade brasileira”.

O resultado sairá em outubro próximo – dia não divulgado ainda. E as vencedoras de cada uma das categorias receberão troféus e terão suas histórias publicadas na edição do mês de novembro da revista Cláudia e no site www.premioclaudia.com.br.

Com tudo isso, ela só conseguiu arrecadar até agora R$ 20 mil em doações da iniciativa privada para seu projeto de um centro e atendimento especializado na zika congênita, cuja construção, além da disposição de trabalho de voluntários e outros pesquisadores, conta também com um terreno já garantido pela prefeitura de Campina Grande.

Adriana Melo, cearense de nascimento e paraibana por adoção desde quando ainda na juventude se mudou para Campina Grande, onde continua trabalhando, defende mais investimentos nas pesquisas e considera que tudo conquistado até agora “está longo do mínimo que deveria ser feito”.

A julgar pelo tom de desabafo da médica pesquisadora à publicação que a incluiu entre os finalistas da premiação, a batalha diária para chamar a atenção das autoridades e obter incentivo para as pesquisas sobre a microcefalia causada pelo vírus zika a tem deixado, ultimamente, “muito brava e ocupada”. Numa forte advertência, ela resume suas preocupações: “Há algo muito grave ocorrendo aqui. Precisamos de recursos e de apoio”.

A descoberta

Sua suspeita de que a epidemia do vírus tinha a ver com as malformações surgiu em setembro do ano passado. Na época, ela realizou exames de ultrassom em duas gestantes cujos fetos apresentavam malformações neurológicas muito incomuns e graves. “Durante as consultas, as duas relataram ter tido exantema no primeiro trimestre de gestação, sintoma típico de zika”, diz. Encafifada, a médica foi em busca de literatura científica. Encontrou apenas oito artigos sobre o tema.

Só um deles mencionava a transmissão do vírus no parto – a infecção mais comum acontece pela picada do mosquito Aedes aegypti. Era preciso fazer exames que comprovassem a presença do zika nas pacientes, mas a cidade recebia pouquíssimos kits do teste por mês. Adriana foi em busca de apoio e só teve sucesso quando pesquisadores da Fiocruz, no Rio de Janeiro, se convenceram da importância do que ela pleiteava. As grávidas foram então submetidas a vários testes que comprovaram a suspeita da médica.

Em fevereiro, a comunidade científica internacional reconheceu o vínculo entre o zika e as malformações. Agora, sua batalha é por investimentos em pesquisas que ajudem a descobrir por que o vírus causa microcefalia. Mas continua sem o apoio que viabilize o avanço de seus estudos e da própria ciência. Pois é, se Galvão Bueno soubesse dessa falta de ajuda a trabalho tão relevante quanto esse, certamente perguntaria: “Pode isso, Arnaldo?”.

(Fonte: Portal mdemulher.abril.com.br)

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