
Babyne Gouvêa com Dona Durvalice e, à direita, com Dona Virgínia (fotos do acervo pessoal da autora)
Que mulheres extraordinárias! Estranhando a duplicidade? Explico já.
Há quem acredite que o destino de todos nós esteja traçado logo que recebemos o sopro da vida. Pelo sim, pelo não, o que me ocorreu foram dois casamentos e uma certeza: não existe ex-sogra.
Das núpcias com o pai dos meus filhos, ganhei uma sogra primorosa – Durvalice. Minha primeira e eterna sogra, à qual me vinculei com apreço e cumplicidade.
Anos depois, casei novamente. A mãe do meu marido se chamava Virgínia – minha segunda e querida sogra, de quem tenho imensa saudade. Quando virou estrela, senti-me amputada, tomada pelo sentimento de orfandade.
Minha união com essas adoráveis mulheres derruba por terra – e enterra – toda e qualquer referência ao estereótipo de sogras como pessoas ruins, bruxas, megeras, desagregadoras e outros adjetivos de um folclore ou anedotário quase sempre injusto.
De minha parte, garanto que as expressões pejorativas e uma infinidade de piadas sobre sogras se desfazem diante da bela afinidade construída entre nós.
Reciprocidade de respeito entre sogra e nora adquiriu um formato sólido, naturalmente. Bom senso ditava as regras e garantia leveza em caso de divergência de opinião. Eis o retrato da intimidade familiar saudável que soubemos estabelecer.
Essas mulheres extraordinárias me influenciaram substancialmente. Delas guardo ricos ensinamentos na forma de orientações e ponderações extremamente produtivas e procedentes que me passavam com impar sabedoria.
Dona Durva, personalidade admirável, firme nas suas convicções, sempre esteve do meu lado em situações difíceis. Bela, nunca deixou morrer o seu espírito de liberdade – tanto na defesa dos seus valores éticos como das suas crenças religiosas.
Ela soube usufruir a sua autonomia, ora pedalando pelas ruas, próxima aos noventa anos, ora visitando os seus entes queridos em qualquer circunstância.
Felicidade tê-las em minha trajetória afetiva. O amor que nos une está consolidado, atestando que este sentimento, quando verdadeiro, torna-se imortal.
Dona Virgínia, presente que ganhei no segundo casamento, era singular na sua autenticidade. Austera e doce, simultaneamente, distribuía simpatia com quem se encantava. E se encantou por mim. Morava em Fortaleza, mas vencíamos a distância física com papos rotineiros ao telefone.
Relembro com enorme saudade as longas conversas em que discutíamos assuntos sérios ou divertidos. Conversas que despertavam a vontade de nos vermos presencialmente, o mais imediatamente possível. Marcávamos a viagem e acontecia o reencontro. E como era bom sentir o calor do seu abraço!
Formávamos o par de dançarinas mais alegre nas celebrações de aniversário, réveillon e carnaval. Sim, a nossa diversão era contagiante. Espalhávamos contentamento, atraindo os presentes para a dança.
Lembro bem de um carnaval na Praia de Uruaú, Ceará, onde integramos blocos dos foliões de rua. Os nativos nos olhavam admirados com o nosso entusiasmo na brincadeira.
Manifestações de carinho de ambas as partes eram sucessivas. D. Virgínia era uma senhora muito bonita, com belos olhos azuis. Eu gostava de presenteá-la com adornos que combinassem com a sua beleza física.
Por ser bela, Virgínia era constantemente elogiada por Vidal, seu marido e meu sogro querido, com quem ela protagonizou uma linda história de amor até o final dos seus dias.
Por tudo isso e muito mais, bato no peito envaidecida. Sou uma nora privilegiada, abençoada pela graça do convívio com duas sogras maravilhosas. Resta agradecer por elas e por todo o bem e tudo de bom que elas trouxeram para a minha vida.