SIMPATIAS E SAUDADES, por Frutuoso Chaves

Imagem copiada do Blog do Thame

Quem quiser saber das fogueiras, crendices e simpatias de junho leia Câmara Cascudo. Ele mesmo, o criador da Sociedade Brasileira de Folclore, o pesquisador das raízes étnicas do Brasil, o sociólogo, o antropólogo, o historiador. Se achar pouco, pode acrescer poeta, cronista e musicólogo. E ainda cabe mais. O homem tratou desses assuntos em estudos da própria lavra e, também, em apanhados de gente diversa, ao longo do País.

Quando o tema é São João, o santo em si, a bíblia será de grande socorro. Essa mesma fonte de consulta vale para São José, divindade de março, aquele a quem Luiz Gonzaga suplicou vinte espigas em cada pé de milho. “Fale lá com São José”, pediu ele ao santo do carneirinho.

O cajado de José, homem já velho, floriu quando de sua escolha para pai adotivo de Jesus, semente divina plantada na menina Maria. Lenda, ou não, conta-se que a prima desta última, uma Isabel infértil em razão da idade avançada, comunicou o nascimento do filho João por meio de uma grande fogueira acesa no terreiro, em noite estrelada.

Se verdade for, mal sabia ela que a providência renderia as brasas de junho chegadas por influências europeias a este País Tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, como quer, em sua santa inocência, Jorge Benjor.

Mas vamos a Câmara Cascudo e às simpatias do mês. Esta, aqui, ele colheu do pesquisador J. M. Cardoso de Oliveira, ao que acabo de ler. Serve à moçada de ambos os sexos.

Pulem em cruz sobre as brasas da fogueira, meninos e meninas, tendo à mão um copo com água, gema e clara de ovo. Levem isso ao sereno e, dia amanhecido, vejam que desenho a clara formou. Deu igreja? Casamento na certa. Um navio? Preparem as malas para uma bela viagem. Alguma joia? Vem cheque gordo por aí, minha gente.

Anote você aí, mocinha. Pendure um anel na ponta de um cordão, suspenda-o dentro de um copo com água pela metade e não o deixe nela tocar. Em seguida, com isso nas mãos, ultrapasse uma fogueira em chamas já brandas. Tantos anos você esperará pelo casamento quantas sejam as batidas do anel em pêndulo nas paredes do copo.

Outra mais. Não coma toda a porção que pegou para a janta. Deixe sobras num pratinho disposto, quando a festa acabar, na cabeceira da mesa mais próxima do seu quarto. Tenha o sono dos justos e não se esqueça, ao acordar, do sonho que teve, pois nele esteve aquele com quem você um dia se casará.

Isso também vale para os marmanjos. Se você tiver muita coragem, leve uma bacia com água até a beira da fogueira, à meia-noite de 23 de junho. Não viu seu reflexo? Adeus, minha e meu camarada. Deus os tenha. Torçamos, porém, a fim de que a vida nos seja longa, próspera e feliz.

Ainda não se casou, menina? Pretende fazer isso? Não é pergunta à toa. Afinal, muitas de vocês não querem dividir o lençol nem misturar escovas de dente com quem quer que seja, se isso significar a perda da liberdade, ou prejuízos para a carreira profissional, no que fazem muito bem.

Mas, se apesar desses riscos, ainda quiser marido, ponha água na boca até não mais poder, corra para trás de uma porta e abra os ouvidos. O primeiro nome de homem que então escutar será o daquele com quem irá ao padre, ao pastor, ou ao juiz de paz. Dizem que essa simpatia não falha.

Desejo que todos tenham, apesar dos pesares, uma festa de amor e paz. O que não lhes desejo são as minhas saudades. Nelas inscrevo não apenas as crendices e adivinhações, mas, ainda, os céus estrelados, as quadrilhas juninas das famílias, o abraço dos amigos, o milho assado no braseiro em comum, os cantos e ritmos de antigamente. Mas, seja como for, tenham todos um bom São João.

OS SANTOS DE JUNHO, por Frutuoso Chaves

Saberes adquiridos nas escolas e, depois disso, nos grandes centros acadêmicos, nem sempre são garantia de respeito e prestígio. João, aquele menino nascido de Zacarias e Isabel, pouco estudou, mas sua fama tem atravessado o tempo. Pedro estudou menos ainda. Agora, perguntem quem assumiu a chefia da Igreja…

Os estudiosos do tema sustentam que foi João quem apresentou a Pedro o primo em segundo grau, o maior dos Santos, o moço saído da barriga de Maria, prima da sua mãe. Ambas deram à luz os seus rebentos em idades muito diferenciadas. Maria bem novinha e, Isabel, perto dos 60 anos. Não mais do que seis meses separavam os nascimentos dos dois primos.

O mais velho batizou o mais novo quando, adultos, se encontraram pela primeira vez. Tudo aconteceu na Judeia, à beira do Rio Jordão e no tempo em que João já era “a voz que clamava no deserto”. Com minha santa ignorância, eu quero crer que o termo tem dois sentidos: o pregador tanto podia falar a ouvidos moucos quanto aos povos nômades em seus percursos de areia e sol. A maldade de Salomé fez João perder a cabeça aos 30 anos, literalmente, cortada por Herodes, pai da moça e a pedido dela. Na hora da morte, Pedro preferiu a crucificação em posição invertida. Quis a cabeça onde o Mestre teve os pés. Que bela demonstração de devoção e respeito, não é não?

Vamos, agora, a Antonio, nome indispensável aos relatos acerca das festas, hábitos e crendices de junho. O trio poderia ser um quarteto com a inclusão de José, o Padroeiro dos Trabalhadores, não fosse este último um santo de março, embora muito reclamado para o sucesso da lavoura. “Ah, São João, São João do Carneirinho, você que é tão bonzinho, vá falar com São José. Fale lá com São José, peça pra ele me ajudar, peça pro meu milho dar vinte espigas em cada pé”, pedia Luiz Gonzaga com a voz de milhões e milhões de devotos.

Vamos ao pobre Antonio, repito. “Danei a faca no tronco da bananeira, não gostei da brincadeira, Santo Antonio me enganou” – diz outra modinha alusiva ao período, seus costumes e adivinhações. A tal faca, enfiada na noite anterior e retirada da árvore no dia do santo, deveria conter as iniciais da menina com quem o devoto casaria. A moda fala da desilusão do moço ao perceber a faca limpa, sem manchas a indicar uma letrinha sequer do nome da mulher pretendida. E o santo casamenteiro tomou a culpa.

Noutros recantos e em outras situações, a imagem de ponta-cabeça nos oratórios domésticos obrigaria o bom Antonio a atender às súplicas de mocinhas em busca do namoro e do casamento. Santo que compõe a tríade das festas de junho, ele é celebrado no dia 13, já ido. Depois, vêm João (dia 24) e Pedro (29).

Curiosamente, o mais culto desse trio é o que entrou para a tradição folclórica luso-brasileira. Pagou o preço, quem sabe, de não ter andado com Cristo, porquanto viria ao mundo no Século 13, exatamente, em 1231. Viveu até os 35 anos de idade. A canonização deu-se logo em seguida. Em 1946, foi proclamado Doutor da Igreja, distinção resultante da excelência dos seus ensinamentos.

Li que os espoliados, os pobres de Jô, os miseráveis de todos os tempos foram objetos de sua especial atenção. E que condenou a prisão dos que deviam sem ter como pagar. “Foi a malícia que criou os ricos. A natureza nos gera pobres”, escreveu.

Também se conta que Gregório IX o convidou para que fizesse pregações no Vaticano para ele próprio, o Papa, e para os Cardeais da Cúria, num período da Quaresma.

Seja como for, um dos mais aclamados Mestres da Fé Católica – aquele que os devotos conhecem imberbe e com o Menino Jesus ao colo – transformou-se num dos santos mais envoltos em superstições. Pois é, a academia e o doutorado a ninguém trazem, mesmo, o prestígio, o respeito, ou admiração da massa ignara. Duvide disso quem quiser.

O MELHOR SÃO JOÃO DE NOSSAS VIDAS, por Guiany Campos Coutinho

(Foto: Reprodução)

Encerrado o “Melhor São João de Nossas Vidas” em Bananeiras, como nativa da cidade sinto-me no dever de tecer alguns comentários.

A cidade ficou linda! O bom gosto do artista que conduziu a decoração é louvável. A praça, então, ficou bela. Parabéns!

Em anos anteriores, um dos maiores problemas foi a questão da mobilidade urbana. Em dias de grandes atrações o trânsito não fluía, chegando um dia a travar. Em 2022, problema sanado.

Sanado com uma excelente organização do sistema de mobilidade. A maior reclamação que ouvi nesse quesito foi sobre valores cobrados de estacionamento e de transporte local.

As atrações, embora muito aplaudidas pelos jovens, fugiram demais da tradição junina. É dever nosso e do poder público preservar nossa história, nossa tradição e nossa lei.

Lei Municipal sim! Nem sertanejo nem eletrônica, nem religiosa nem gospel nem o axé condizem com o nosso Melhor São João Pé de Serra do Mundo. Foi assim que o nossa maior festa ficou conhecida.

É notório que o clima de Bananeiras nessa época do ano é chuvoso e muito úmido e mesmo assim os organizadores da festa não se preocuparam em oferecer um espaço abrigado da chuva. A estrutura do estádio O Bezerrão não recebeu com dignidade os que ali buscaram a diversão.

Fora os “Camarotes Arretados”, que tinha uma estrutura seca e cara, o resto ficava na chuva e na lama. Muita lama subindo no assoalho. Tive a visão de uma pocilga ao ver tanta gente – com suas roupas arrumadas – toda enlameada.

O São João de Bananeiras não foi uma festa para todos porque era tudo muito caro. Bebida, comida… Não se tinha opção. Nem pra levar o seu kit, como em festas anteriores.

Observei muita gente saindo da festa pra abastecer o seu copo. O terraço da casa de minha mãe foi abrigo para cooler de amigos e parentes.

Espero mesmo que o Melhor São João de Nossas Vidas ainda venha a acontecer na nossa Bananeiras. Que sejam corrigidos os erros cometidos em 2022 para que seja uma festa bonita e organizada.

Que tenha boas atrações com os bons artistas nordestinos. Que seja num espaço digno para todos e acessível para nativos e turistas, pobres e ricos. Que seja realmente um São João inesquecível!

  • Reproduzido do blog Poemas & Ideias

NOITE INESQUECÍVEL, por José Mário Espínola

Imagem meramente ilustrativa copiada de dessiral.blogspot.com

Este é um São João inédito para nós. Ora, quem diria, São João sem fogos?? Muito fraco… Impensável para mim.

Até mesmo quando moramos em São Paulo comemorávamos esta noite tão significativa para nós. Pelo menos um vulcão nós soltávamos, para homenagear Chico Espínola, meu pai, que nos acostumou a gostar de fogos e comemorar a data. Mas outras deliciosas lembranças a noite de São João me evocam.

Escuto ao longe, muito longe, lá na Tambiá dos anos 50 e 60, a sanfona tocada com tanta graça por Mabel Teixeira. Era na casa de um amigo muito querido por todos nós, Alberto Teixeira, que considerávamos um tio.

As festas juninas eram sempre muito bem comemoradas por sua família numa noite inesquecível, visto que também coincide com o aniversário de seu filho Beto.

Lá, a festa de São João começava bem mais cedo, ao amanhecer o dia. Pois bem cedinho Dona Lindalva, esposa de Seu Alberto e mãe da família Andrade Teixeira, ia até o Mercado Central e comprava mãos de milho verde, selecionadas criteriosamente por ela.

Em casa ela comandava pessoalmente um time de cozinheiras e assistentes de cozinha, debulhando todo o milho, que moía em seguida. E rapando côco para extrair o leite. Comprava a melhor manteiga do mercado.

Depois elas cozinhavam a mistura, mexendo sem parar, fazendo muitas travessas de canjicas e pamonhas, bolos de milho e pé-de-moleque.

A cena da atividade febril na cozinha é coisa de cinema, no melhor estilo de “Vatel, Cozinheiro do Rei”, excelente filme francês com Gerard Depardieu.

No final da manhã nós, meninos, disputávamos às tapas para raspar o fundo dos tachos. À tarde a casa era lavada, o assoalho rigorosamente esfregado, depois toda decorada por balões, bandeirolas coloridos e muita palha decorada pendurada nos pilares. As cadeiras eram afastadas para junto das paredes. Estava pronto o cenário para o filme da noite: A Quadrilha!

Enquanto isso, lá fora Seu Alberto administrava a construção de uma das suas marcas: a fogueira. Esta tinha uma estrutura encorpada, à altura do telhado da casa, um bangalô inglês estilizado.

Cedo da noite começavam a chegar os convidados. Entre eles, nós, da Família Espínola. Compareciam também muitos amigos e colegas dos filhos Teixeira, que eram oito: Fernando, Beto, Mabel, Olivia, Ângela, Regina, Artur e Lucinha, todos muito bem relacionados. Apareciam também os paqueras das meninas, todas muito bonitas, e nessa noite vestindo alegres e coloridos trajes juninos.

O som da sanfona de Mabel era o que dava início à comemoração e fazia a Quadrilha começar. Geralmente era Carlos Joubert quem fazia a marcação da quadrilha, dava o ritmo.

Os casais desfilavam pelos corredores da casa, arrastando os pés ao som da música. Depois se perfilavam na sala de visitas, obedecendo à marcação:

Anavantú!
Anarriê!
Chã de damas!
Chã de cavalheiros!

E por aí ia…

Logo após o encerramento da Quadrilha, no jardim lá fora começavam as batalhas de fogos. Mas se engana quem pensar que eram traques e bombinhas inocentes.

Na luz da fogueira, que iluminava todo o terreiro, Fernando, Beto e os amigos, a turma mais velha, deflagravam guerras de buscapés, mijões e bombas que nada ficavam a dever aos morteiros militares.

Outra figura que a gente não esquece era Chimba, a cadela boxer de Seu Alberto, tão fiel a ele que parecia um tapete marrom deitado debaixo da sua rede, no terraço.

Chimba não tinha medo de fogos: corria atrás dos mijões e segurava-os pela boca, às vezes se queimando.

A festa avançava até tarde da noite, quando a fogueira finalmente arriava e só restavam as cinzas, que permaneciam fumegantes até o dia seguinte.

Eram realmente inesquecíveis as noites de São João dos Andrade Teixeira, que continuam lembradas mais de 60 anos depois.

Que saudades…

Bananeiras faz o melhor São João da história e quase todo o Brejo se beneficia

(Bananeiras. Foto: Divulgação)

O São João de Bananeiras não foi apenas o melhor de toda a sua história. Também beneficiou praticamente todo o Brejo Paraibano, avaliam organizadores, divulgadores, autoridades locais e profissionais de turismo.

Clique para ler mais

Zeca Camargo visita Parque do Povo e rasga elogios ao São João de Campina

Quem esteve ontem (14) em Campina Grande, visitando o Parque do Povo, foi o jornalista e apresentador Zeca Camargo, da Rede Globo. No seu perfil no Instagram (zecacamargomundo), ele se diz encantado com a festa e rasga elogios ao Maior São João do Mundo. Confira a seguir.

Clique para ler mais

Multa para barraqueiros do Parque do Povo é de R$ 100 mil

(Foto: Ilustração/G1PB)

Pagará multa de R$ 100 mil qualquer barraqueiro que descumprir qualquer cláusula do contrato assinado com a Aliança para ter direito a vender comida e bebida dentro do Parque do Povo no São João de Campina Grande

Clique para ler mais

Barraqueiros protestam contra monopólio de bebidas e horário de encerramento da festa

(Foto: Divulgação)

Um grupo de barraqueiros que comercializam comida e bebida nos festejos juninos de Campina Grande promoveu hoje (9) um protesto no Parque do Povo contra novas regras para comercialização de bebidas e horário de encerramento dos serviços de lanchonetes, bares e restaurantes durante o Maior São João do Mundo.

Clique para ler mais