Em 19 de agosto de 1839, lá se vão 184 anos, a Academia Francesa de Ciências fazia o anúncio mundial de um invento novo: o daguerreótipo. Louis Daguerre, com tal coisa, então inspiraria o desenvolvimento das máquinas fotográficas. Isso explica a escolha dessa data como Dia Mundial da Fotografia. Dela mesma, da fotografia, porquanto aos fotógrafos está consagrado o 8 de janeiro.
Mas é dos antigos fotógrafos das praças que sempre lembro nessas duas ocasiões. Eles se instalavam a céu aberto com suas câmaras, tripés e banquinhos. Também, com um pano estendido por trás do freguês, a fim de encobrir a paisagem ao fundo feita de carros, prédios e gente.
Mais atuaram no tempo em que os preços dos estúdios estavam além da capacidade de desembolso de muita gente. No tempo, ainda, em que as câmaras digitais, com seus recursos para selfies e vídeos, estavam longe da imaginação, até mesmo, dos amantes da ficção científica.
Foram muito requisitados para as fotos de documentos, aquelas, em 3 x 4, que se destinavam às carteiras de identidade e do trabalho, ou às fichas funcionais. Nesses casos, o paletó e a gravata estavam, ali, à disposição de qualquer um. E serviam a todos: gordos e magros, grandes e pequenos. Afinal, os ajustes de alfaiate seriam substituídos por cuidados no enquadramento, com cortes precisos na largura exata dos ombros e à altura do primeiro botão do cliente, logo acima do umbigo.
Atendiam por “lambe-lambe” e podiam, também, retratar casais, fossem de anciãos, ou namorados. Era quando o pano branco cedia vez a uma tela com paisagens. Praias com coqueiros e o Cristo Redentor foram a muitas paredes de casinhas nas roças e pés de serra habitadas por quem nunca viu o mar nem o Rio de Janeiro.
Conta-se que o apelido adveio do hábito de tocar as fotos com a língua durante a lavagem, a fim de avaliar a emulsão das substâncias utilizadas na revelação e fixação das imagens.
Até a década de 1960, era comum vê-los nas praças das capitais e cidades de porte médio com suas máquinas assemelhadas a caixotes de metal e madeira revestidos de couro cru e parcialmente cobertos por um saco preto com três aberturas onde enfiavam a cabeça e os braços na hora de bater e revelar cada retrato.
Eu não consigo pensar neles sem que me venham à mente um mundo melhor, mais calmo e uma vida mais bela e justa. Entendo que muitas pracinhas deste Brasil imenso deveriam conter estátuas suas, ou de suas máquinas. Por décadas, foram tão presentes e tão úteis a elas quanto os bancos e os jardins.
E ME VEM O LAMBE-LAMBE, por Frutuoso Chaves
ELOGIAR É PRECISO, por Babyne Gouvêa
Nada melhor do que sair por aí sem compromisso, olhando o que a cidade tem a oferecer. Andar sem lenço, sem documento e sem horário marcado, imaginem! Foi o que fiz, depois de dois anos enfurnada. Circulei pelos bairros do litoral de João Pessoa e de Cabedelo e, no primeiro momento, o visual me pareceu pouco familiar diante de tanta novidade.
Presenciei ruas pavimentadas e sinalizadas, uniformização de calçadas – melhoria da acessibilidade ao pedestre, principalmente a do deficiente físico -, construções erguidas e em andamento, restaurantes, lanchonetes e bares a perder de vista. À medida que via o que até então desconhecia a vibração tomava conta de mim. Podia ser uma admiração provinciana, mas com elixir de contentamento.
E os hotéis e pousadas distribuídos em todos os lugares por onde transitei? Pensei: “Não estou na minha cidade”. E sem falar no número crescente de supermercados nos respectivos bairros.
Estamos abastecidos com praças e parques bem estruturados com brinquedos infantis, pistas de corrida, ciclovias, quadras de esportes, aparelhos de ginástica e muito mais. Sonhava com essas condições para a saúde física e mental da população e elas foram instaladas.
Pois bem, foi com esse espírito de satisfação que tomei um banho de mar reconfortante. As águas da praia de Camboinha são capazes de extrair qualquer mazela do indivíduo. Têm o dom de deixar em paz todo o nosso corpo. E assim me senti, leve como uma pluma. Saltitante ao léu fiz um brinde ao retorno à vida!
Pode parecer ao leitor que estou fazendo propaganda. Sim, de fato estou propagando o que vale a pena ser destacado. Atentei ao que é favorável ao bem estar do cidadão, nativo ou turista. Os municípios de João Pessoa e Cabedelo, no que tange à parte visitada por mim, merecem elogios.
A propósito, interrogo aos leitores: já observaram como é difícil elogiar? Quem enfrenta esta dificuldade comumente qualifica uma pessoa bonita como engraçadinha, o competente como esforçado e o idoso de aspecto jovial, conservado. E assim se sucedem as substituições com um toque ou um quê de inveja, dor de cotovelo…
No final do passeio, ziguezagueando entre os bairros, ainda me diverti ao observar a pluralidade de farmácias em visível concorrência. Situação hilária, mas benéfica ao bolso do consumidor.
Finalizei o tour feliz da vida, com desejo de aplaudir o desenvolvimento urbano dos dois municípios. Convicta, concluí que elogiar também é preciso!