Nunca tive medo de fantasma – entenda-se uma alma de pessoa falecida. A referência aqui é outra – de pessoa viva, verdadeira assombração. O ex-presidente da República, por exemplo.
Quando imagino estar livre dele, a coisa reaparece, e com centenas de fantasminhas seguidores. Como se não bastassem os danos causados à nação ressurge falando asneiras ao público no país que ora o hospeda.
O zumbi enviou a esposa para fazer campanha para o seu candidato à presidência do Senado. De nada adiantou e a nação agradece. Mas o espectro ameaça continuar azucrinando.
Será que a assombração permitirá a governabilidade do país? Vai permitir a contragosto, mas sabemos que enfrentaremos os moros, as damares, os mourões, os salles, as zambellis… Uma gente que aposta no que há de pior para o país.
Estou traumatizada com o terror e as sequelas do desgoverno dos últimos quatro anos. Anos de negacionismo, anticiência, antivacina; anos de preconceitos, de ódio, de morte; anos de mentiras, de manipulação, de desnacionalização do patrimônio nacional. E de tantas outras atrocidades que configuram crimes contra a humanidade.
Ouvir golpe, golpe, palavra repetida cotidianamente, é um suplício. Ecoa como um assombro apavorante. A última envolve o senador Do Val e um risível plano golpista de Daniel Silveira com Bolsonaro contra Alexandre de Moraes. “Ideia genial”, ironizou o ministro, alvo do suposto golpe, enfatizando o ridículo a que os golpistas chegaram.
Preciso, assim como outros cidadãos, viver o dia a dia com tranquilidade, sem tormentos. A retomada da normalidade sem intimidações é desejo de todos os democratas. Esses fantasmas têm que se resignar ao ostracismo.
Quero viver e não sobreviver com pesadelos agonizantes. Quero sonhar com o espírito de Clarice Lispector sussurrando para mim os seus versos:
A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas por suas vidas.