Em favor do Brejo da Paraíba, vale renovar apelo de 20 anos ou mais repetido pela última vez em setembro de 2021, quando usei este espaço para clamar por reposição vegetal dos mais lindos jardins, serras e campos com os quais convivi na Bananeiras da minha infância.
Prestes a completar sete decênios de minha “aventura humana na Terra”, julgo oportuno repetir também um alerta: sem replantar árvore nem reabrir olho d’água, em breve o Brejo deixará de ser brejo para afugentar de vez até mesmo o friozinho que afortuna o turismo da Grande Bananeiras.
Sugeri ene vezes a autoridades locais e estaduais um consórcio de reflorestamento do Brejo como alternativa à tragédia anunciada. Em vão. Agora, peço que no mínimo mirem-se no exemplo de cidadãs e cidadãos verdadeiramente preocupados com a devastação em curso.
Cidadãs como Ana Maria Gondim, secretária de Cultura e Turismo de Bananeiras nas gestões Marta Ramalho (2004-2012) na Prefeitura local. Ela adverte para os avanços e perigos da gentrificação por que passa a cidade, agravada por uma expansão imobiliária estupidamente ancorada no progressivo desmatamento das reservas de verde do município.
A gentrificação, explica Ana, faz da cidade alvo de investimentos imobiliários de luxo que não apenas degradam o ambiente como encarecem terrivelmente o custo de vida para os nativos menos afortunados, forçando-os a venderem suas casas, seus pequenos comércios e outras formas de viver e sobreviver no lugar onde nasceram ou escolheram para morar.
Melhor do que bom, seria ótimo prestar atenção também ao que diz Antônio Carlos Ferreira, zootecnista e professor aposentado da Universidade Federal. Bananeirense da gema, denuncia que a última porção de mata urbana de Bananeiras está ameaçada de desaparecimento para dar lugar a mais um condomínio de casas de padrões e preços inacessíveis aos viventes e sobreviventes do Brejo.
Governantes também podem se mirar em cidadãos como Francisco Barreto Filho, Professor Doutor em Economia da Universidade Federal e dono do Engenho Laranjeiras, em Serraria, onde há mais de 30 anos resiste às coivaras e ameaças de contumazes depredadores. Resiste e preserva 100 hectares de pura natureza concentrada em sua propriedade.
Enquanto frui a beleza de despertar ao som de juritis e sabiás no Laranjeiras, Barreto diz acordar todo dia sob o temor das consequências do que chama de “urbanização rural” do seu entorno e de toda a região. “O que está acontecendo em quase todo o Brejo é um desastre, tendo Bananeiras como epicentro da ganância imobiliária”, lamenta.
Barreto teme, sobretudo, pela progressão sem limites da “ilusória urbanidade” do Brejo, ao sabor das oportunidades de negócio e enriquecimento rápido de alguns em prejuízo da maioria da população, a parcela que mais sofre com a falta de infraestrutura e de planejamento na ocupação e uso solo via urbanização rural.
“Em cada um dos 100 hectares de vegetação nativa que conservo são produzidas cerca de 40 toneladas de oxigênio por ano e não preciso de governos nem de COPs (conferências mundiais contra desmatamentos e aumento da temperatura global) para minusculamente ajudar o Planeta Terra”, garante Barreto.
Ele acredita mesmo que longe da “sedução especulativa” consegue “em alguma escala proteger a fauna, a flora e a não poluição dos solos e das águas”, ou seja, elementos de sobrevivência humana que ameaçam faltar aos brejeiros, paraibanos e brasileiros em geral caso não se detenha a escalada de empreendimentos imobiliários sem o menor respeito e preservação do nosso patrimônio natural.