Foi registrada com o nome Júlia. Apesar de ter recebido um lindo nome chegou à nossa casa com o apelido de Nona. Desconheço a origem.
Fomos buscá-la em Pilar, cidade do interior da Paraíba, para me ajudar no nascimento da minha terceira filha, Camila, há 43 anos. Terminou me auxiliando em todas as atividades da casa, além dos cuidados com meus outros filhos.
Tornou-se uma pessoa conhecida e querida de todos da minha família e amigos. As histórias lhe envolvendo são muitas e quase todos gostam de lhe empregar alguma peça, aguardando a sua reação, nem sempre delicada.
Dona de um coração boníssimo, faz questão de ser vista como pessoa austera, brava muitas vezes. Entra em contradição facilmente e denuncia a sua bondade ao manifestar afeto por alguém a quem repreendeu instantes antes.
Embora já tenha passado dos sessenta anos continua com um temor enorme à morte e tudo que diz respeito a falecimento. Ao saber que alguém sucumbiu, pede a Deus que o morto não lhe apareça.
Os mais próximos têm conhecimento dessa fobia e bolam os mais variados sustos. Há quem tenha falado com ela ao telefone imitando a voz de alguém que se foi. Soltou o aparelho e correu pulando aos prantos em minha direção.
O repertório é longo em torno de Nona. Fiel a mim em toda a minha trajetória de vida, assistiu lealmente a todos os meus momentos de dificuldade ou alegria.
Crescimento dos meus filhos, separação do meu primeiro marido, casamento dos meus filhos, meu segundo casamento, nascimento dos meus netos, minha viuvez, são ocasiões nas quais Nona sempre esteve presente, solidária, amiga.
No cenário atual, eu e ela dividimos um enorme ninho vazio. Ela procura fazer de tudo para visualizar um sorriso no meu rosto e fica feliz quando viajo ou saio por alguma razão. A reciprocidade também se dá nas mesmas proporções.
Feliz de quem tem uma Nona em sua vida!