OS ISOLADOS, por Ana Lia Almeida

Pessoa em isolamento por conta do coronavírus: a melhor solução para prevenir o avanço da doença

Imagem meramente ilustrativa. Crédito: Divulgação/A Gazeta

Uma rápida passagem pelas proximidades da feira de Mandacaru comprovou minhas suspeitas: em toda a região, somente lá em casa estamos em quarentena. Alcancei, finalmente, o significado mais pleno da palavra isolado, atestado pelo Dicionário Caudas Aulete: “Só, solitário. Separado de tudo que o rodeia. Individual, sem relação com outras coisas ou pessoas da mesma espécie.”

Trata-se de uma espécie em extinção, os Isolados, apesar do seu tão recente aparecimento na história natural como variante dos Homo Sapiens. Teimosos, não acreditamos que a pandemia acabou. Medrosos, tememos virar mais um número nas tabelas do jornal. Chatos, julgamos parentes e amigos que só querem dar uma passadinha rápida no shopping ou fazer aquele churrasquinho no fim de semana.

Teimosia, Medo e Chatice são os principais atributos dessa espécie, que, embora presentes também na humanidade em geral, nos Isolados adquiriram o mais alto grau de desenvolvimento e intensidade.

Um maior estudo dos hábitos de vida e características dos Isolados ainda carece de maior aprofundamento em virtude da grande dificuldade de identificação destes raros indivíduos, mas eu, na qualidade de membra da espécie, posso oferecer ao leitor curioso algumas pistas sem pretensões de generalização. Perdemos o sono facilmente, sobretudo por causa do noticiário. Temos pavor de supermercado e fazemos a feira pelo celular. Desistimos do ano e até mesmo do próximo Carnaval.

Somos estranhos, os Isolados. Cheios de esquisitices, aguardando uma vacina pra poder evoluir para outro tipo de gente. De preferência um tipo de gente que supere a normalidade, tanto a nova como a velha.

  • Ana Lia Almeida é Professora e Cronista