Saberes adquiridos nas escolas e, depois disso, nos grandes centros acadêmicos, nem sempre são garantia de respeito e prestígio. João, aquele menino nascido de Zacarias e Isabel, pouco estudou, mas sua fama tem atravessado o tempo. Pedro estudou menos ainda. Agora, perguntem quem assumiu a chefia da Igreja…
Os estudiosos do tema sustentam que foi João quem apresentou a Pedro o primo em segundo grau, o maior dos Santos, o moço saído da barriga de Maria, prima da sua mãe. Ambas deram à luz os seus rebentos em idades muito diferenciadas. Maria bem novinha e, Isabel, perto dos 60 anos. Não mais do que seis meses separavam os nascimentos dos dois primos.
O mais velho batizou o mais novo quando, adultos, se encontraram pela primeira vez. Tudo aconteceu na Judeia, à beira do Rio Jordão e no tempo em que João já era “a voz que clamava no deserto”. Com minha santa ignorância, eu quero crer que o termo tem dois sentidos: o pregador tanto podia falar a ouvidos moucos quanto aos povos nômades em seus percursos de areia e sol. A maldade de Salomé fez João perder a cabeça aos 30 anos, literalmente, cortada por Herodes, pai da moça e a pedido dela. Na hora da morte, Pedro preferiu a crucificação em posição invertida. Quis a cabeça onde o Mestre teve os pés. Que bela demonstração de devoção e respeito, não é não?
Vamos, agora, a Antonio, nome indispensável aos relatos acerca das festas, hábitos e crendices de junho. O trio poderia ser um quarteto com a inclusão de José, o Padroeiro dos Trabalhadores, não fosse este último um santo de março, embora muito reclamado para o sucesso da lavoura. “Ah, São João, São João do Carneirinho, você que é tão bonzinho, vá falar com São José. Fale lá com São José, peça pra ele me ajudar, peça pro meu milho dar vinte espigas em cada pé”, pedia Luiz Gonzaga com a voz de milhões e milhões de devotos.
Vamos ao pobre Antonio, repito. “Danei a faca no tronco da bananeira, não gostei da brincadeira, Santo Antonio me enganou” – diz outra modinha alusiva ao período, seus costumes e adivinhações. A tal faca, enfiada na noite anterior e retirada da árvore no dia do santo, deveria conter as iniciais da menina com quem o devoto casaria. A moda fala da desilusão do moço ao perceber a faca limpa, sem manchas a indicar uma letrinha sequer do nome da mulher pretendida. E o santo casamenteiro tomou a culpa.
Noutros recantos e em outras situações, a imagem de ponta-cabeça nos oratórios domésticos obrigaria o bom Antonio a atender às súplicas de mocinhas em busca do namoro e do casamento. Santo que compõe a tríade das festas de junho, ele é celebrado no dia 13, já ido. Depois, vêm João (dia 24) e Pedro (29).
Curiosamente, o mais culto desse trio é o que entrou para a tradição folclórica luso-brasileira. Pagou o preço, quem sabe, de não ter andado com Cristo, porquanto viria ao mundo no Século 13, exatamente, em 1231. Viveu até os 35 anos de idade. A canonização deu-se logo em seguida. Em 1946, foi proclamado Doutor da Igreja, distinção resultante da excelência dos seus ensinamentos.
Li que os espoliados, os pobres de Jô, os miseráveis de todos os tempos foram objetos de sua especial atenção. E que condenou a prisão dos que deviam sem ter como pagar. “Foi a malícia que criou os ricos. A natureza nos gera pobres”, escreveu.
Também se conta que Gregório IX o convidou para que fizesse pregações no Vaticano para ele próprio, o Papa, e para os Cardeais da Cúria, num período da Quaresma.
Seja como for, um dos mais aclamados Mestres da Fé Católica – aquele que os devotos conhecem imberbe e com o Menino Jesus ao colo – transformou-se num dos santos mais envoltos em superstições. Pois é, a academia e o doutorado a ninguém trazem, mesmo, o prestígio, o respeito, ou admiração da massa ignara. Duvide disso quem quiser.
OS SANTOS DE JUNHO, por Frutuoso Chaves
MINHAS CRENÇAS, por Babyne Gouvêa
Sempre tive o meu Deus, ao lado de sensação de que não orava corretamente. Sentimento de não ser provida de sabedoria para me comunicar com Deus me atormentou durante um certo tempo.
Ele merecia prece ou gratidão à Sua altura, assim pensava. Erudição era necessária para poder me dirigir a Ele.
À medida que escutei palavras proferidas por estudiosos do Livro Sagrado, me convenci de que a minha convicção religiosa sempre esteve correta. É suficiente usar o coloquial para falar com Deus. Basta crer.
Encontro de orações me proporcionou curiosidade em conhecer as histórias sobre Deus. Se eu creio n’Ele, se é a Ele que eu recorro nas adversidades, se é a Ele que apresento a minha gratidão por tudo que me ocorre, por que não procurar saber de sua trajetória?
Circunstância dolorosa afetada a um familiar, oportunamente, me fez discernir e acrescentar parâmetros à minha crença. Atribuo à corrente de fé, formada na ocasião e, principalmente a Deus, o alento instalado em mim durante o período de turbulência.
Uma vez resolvida satisfatoriamente a enfermidade, a ânsia em continuar o aprendizado me levou à leitura da Bíblia. Estou tornando mais abrangente o meu leque de conhecimentos sobre o meu Deus.
Busco sentimento reflexivo da importância da religião como instrumento de influência na vida social. Não quero apontar verdades nas buscas e viver sob dogmas como se as tivesse encontrado.
Procurei e achei com quem me comunicar espiritualmente. A angústia de ver o atual desamparo de conterrâneos tem retornado para mim em forma de esperança em um futuro promissor. O meu Deus tem escutado as minhas preces.
Esta síntese da minha crença não objetiva persuadir. Apenas, deixa implícitas preocupações sócio-religiosas à intolerância, preconceito e discriminação, em defesa do amor e justiça. Estas são as minhas convicções de fé.