Famosa por ser um dos principais nomes do Modernismo e da Literatura Neozelandesa, a escritora Katherine Mansfield escreveu contos e novelas baseados na sua experiência de vida e nas questões ocultas dentro do seu próprio cotidiano.
Escreveu em 1922 o conto ‘As Filhas do Falecido Coronel’, onde narra a história de duas mulheres – Constantia e Josephine – ambas filhas do Coronel Pinner, que tinha acabado de falecer. A partir daquele momento, tinham que decidir como fariam o funeral e o destino que dariam aos pertences do pai.
Elas prepararam o enterro enviando cartas para os familiares e amigos e, também, manifestaram gratidão à enfermeira que cuidou do pai até o falecimento.
A insegurança e medo em tomar decisões sem a autorização do pai levam o leitor a perceber como a figura paterna deve ter sido extremamente autoritária e rígida, não dando liberdade às filhas.
Elas ficam temerosas em dar destino aos objetos do falecido, expondo dificuldade em lidar com as memórias do pai sem perceber que estavam livres do autoritarismo paterno.
O conto narra a partir das duas mulheres as angústias do passado e os medos e incertezas diante do futuro. O coronel, mesmo sem quase aparecer, demonstra ser uma figura opressora, um indivíduo maléfico para as suas filhas.
O leitor vai montando por meio dos diálogos e pensamentos das protagonistas o perfil do pai: uma personalidade impaciente e ranzinza. As filhas herdam uma dificuldade em lidar com a liberdade, inabilitadas para tomadas de decisão.
A escritora é muito sutil nas críticas às regras impostas pela sociedade e também à condição das mulheres da época.
Um conto muito interessante, enfim, além de instigante e bem construído.