Cada um com as suas manias. Tenho as minhas, e destaco uma pela qual sinto saudade: sentir o cheiro do jornal em papel. As mãos ficavam pretas mas o odor que exalava ao passar as páginas…humm, que prazer sentia.
Acompanhava meu pai à banca de jornais e fixava o olfato em cima deles. Primeiro era o cheiro, depois as manchetes na primeira folha.
Como conhecia os jornalistas que escreviam em alguns jornais e o dia que publicavam suas colunas, escolhia os que seriam comprados sem hesitar; com a concordância de quem ía pagar.
Já em casa começava o ritual da leitura. Meu pai decidia ser o primeiro a ler. Na lista de espera eu, como a caçula, era sempre a última. E o aroma acentuado do papel e/ou tinta da impressão ía se evaporando, à medida que passava por diversas mãos.
Quando chegava a minha vez, as folhas estavam fora de ordem e já não cheiravam tanto. Organizava o periódico e tentava dobrá-lo no estilo disposto na banca. Mas os amassos e o suor dos dedos dos leitores que me antecediam impediam a devida organização.
Dizia para mim mesma que um dia teria condições financeiras para comprar e ser a primeira a ler o dono do cheiro que tanto apreciava. Uma vez autossuficiente, passei a comprar os jornais do sudeste e os locais. Comparava os odores, e os do meu Estado eram melhores. Era explicável porque não passavam pelo desgaste do transporte que comprometia o aroma tão específico e agradável às minhas narinas.
O mesmo prazer sentido junto ao jornal se dá ao entrar numa livraria. Passeio entre as estantes e aspiro perfume no meu entorno. O cheiro do livro me fascina enquanto pego nele com cuidado, como preciosidade. Leio as suas partes introdutórias e avalio se me interessa. Em seguida devolvo o volume à prateleira ou adquiro para o meu deleite. O fato de permanecer neste ambiente me renova, e o exercício de ler e cheirar as páginas de um livro me fornece um crédito de leveza.
Seja numa livraria ou num local de venda de jornal – se é que ainda existe; confesso que desconheço -, uma coisa me irrita: ouvir alguém reclamando do preço. Isso denota falta de sensibilidade e conhecimento sobre o que propiciou o rico produto estar pronto e à disposição do leitor.
Leitura é essencial, de preferência que seja acompanhada de característico e aprazível aroma.