O MAIOR DESASTRE AÉREO DO BRASIL, por José Mário Espínola

Acidente da TAM em 2007: 199 mortos. 14 vezes menos que os mortos por Covid no Brasil em média diária. Foto: Agência Brasil

Quatro boeings por dia! É o maior desastre da história: todos os dias no Brasil morrem pessoas em quantidade equivalente à lotação de quatro grandes aviões transcontinentais.

Nunca se morreu tanto assim, antes. Apesar disso, as pessoas continuam “embarcando” diariamente nessas “aeronaves”, quando agem com displicência com o próprio destino e o destino dos outros, inclusive dos seus entes mais queridos.

Tudo já está tão banalizado que ninguém se choca mais com as manchetes diárias, estampando os números diabólicos. Até parece que não estão nem aí para tanta morte. Por eles não sobrarão aeronaves!

Estou profundamente sensibilizado com a perda de tantas pessoas amigas, tantos entes queridos e tanta gente conhecida.

Assisto, com a sensação de impotência, parte da minha história se desmanchar, ser diariamente enterrada. Ou cremada. Estou perdendo bons amigos, alguns adversários do xadrez e outros que dividiam comigo o prazer pela cultura, pela música, pela história da nossa juventude. Excelentes interlocutores, até outro dia bate-papos animados, estão silenciando.

Assisto também à perda de pacientes meus, muitos deles que fizeram parte da história de meu consultório, que acompanharam até outro dia a minha vida profissional.

E, acima de tudo, parentes queridos, que cresceram juntos comigo ou que acompanharam o meu crescimento, pessoal e profissional.

Fico assistindo, horrorizado, a irresponsabilidade coletiva. Consigo enxergar nessa loucura o exemplo que vem de cima: o grande líder da nação, o Mito mitômano, exibindo exemplarmente a sua irresponsabilidade, que é imitada pelos seus cegos seguidores.

Tudo amparado pela inépcia, pela ineficiência de algumas autoridades de saúde, especialmente o ministro Eduardo Pazzuelo, que só faz o que o seu padrinho político ordena ou permite. Com isso, concorrem para a grandiosidade do desastre. Que dupla infernal!

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Ontem, nós recebemos a segunda dose da vacina Coronavac. Mesmo assim, pretendemos manter as medidas de higiene e distanciamento preconizadas pelas autoridades de saúde e cientistas.

Esperamos que todos aproveitem essa oportunidade, quando chegar a sua vez.

Estou triste, muito triste… Mas pode ficar certo: não embarcarei em Boeing algum!

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  • Foto da Agência Brasil que ilustra o artigo: acidente do avião da TAM em 2007, no aeroporto de Congonhas, São Paulo (capital). Matou 199 pessoas, número 14 vezes menor do que a média diária atual de mortos no Brasil pela Covid