COISAS DO SERTÃO DANTANHO (3) por José Mário Espínola

Imagem: Sesc/Divulgação

Anos 1960/70, Vicente era um bom dançarino, namorador, muito bem relacionado, sendo um líder entre os rapazes de sua época. Boa pinta, bem vestido, muito educado, era um conquistador que não perdia festa. Dançava muito bem, e não levava corte das meninas. Ele só tinha um defeito: era, também, um bom bebedor!

Nas farras, nas brincadeiras, noTênis Clube, no cabaré, ele bebia de tudo: de Rum Montilla à cachaça Capim Santo, passando por cerveja, meiota, conhaque São Caetano, cachaça com Cinzzano, Rum Merino, o vinho “francês” Sang du Boi, batidas, caipirinha, coquetel… TUDO!

A propósito do nome do clube, nesse tempo tudo quanto era cidade do sertão tinha um clube com esse nome. Mas de tênis, só conheciam o tênis conga!

Mas Vicente num era de ferro: seu fígado não lhe poupava. Pois as suas ressacas eram proporcionais aos porres: homéricas! A agonia era grande. No dia seguinte à bebedeira, ele amanhecia morrendo, e se enfiava embaixo da cama, subia na janela, trepava no guarda roupa… e vomitava! Só horas depois, passado o efeito da ressaca é que ele sossegava.

A mãe, aflita, vendo o filho naquele estado, fazia o que podia para melhorá-lo. Tentava minorar a agonia do filho. Uma vez ela ofereceu um remédio, dizendo que ele ia ficar bom. Vicente perguntou o que era. A mãe respondeu: Sonrisal. Ele: “Mãe, eu gastei 50 reais pra me embriagar. A senhora acha que eu vou me curar com 5 reais?!”

***

Certo dia, depois de uma grande farra, lá estava Vicente em plena agonia ressacal, em cima do guarda roupa, quando a mãe chegou com uma xícara:

– Meu filho, tome este chá que você vai melhorar.

– É chá de quê, mãe?

– De capim santo.

Vicente não agüentou e vomitou lá de cima do guarda roupa: “RRUUÁÁÁHHH!!!”

COISAS DO SERTÃO DANTANHO (2) por José Mário Espínola

Imagem: rr4afuture.org

O fazendeiro ficou com gosto de sangue na boca quando lhe contaram: o filho do morador tava bulindo com a sua filha mais nova. E era lá no sítio, nos fins de tarde, debaixo da jaqueira.

Ele jurou de morte o rapaz. Armou-se de uma espingarda 12, subiu na jaqueira, e posicionou-se para esperar o casal. Escolheu um galho confortável, livre o suficiente pra ver tudo.

A tarde foi caindo, e ele cochilou. Acordou-se com o qui-qui-qui, cá-cá-cá dos dois se aproximando. Preparou a arma, e esperou chegarem mais perto: queria enxergar os olhos do safado!

Quando o casal chegou embaixo da jaqueira, a moça se acocorou. O rapaz disse:

– Vou-mimbora!

A moça falou:

– Peraí qu’eu vou mijar…

O rapaz respondeu:

– Se olhar pra cima, você se caga!

E fugiu correndo.

COISAS DO SERTÃO DANTANHO (1), por José Mário Espínola

Imagem: glimboo.com (copiada de jmsarmento.blogspot.com)

O coronel Aprígio, do Bacamarte, era o que se pode chamar de “um véi safado”. Também pudera… Depois de povoar metade do município, ainda se enxeria pelas mulheres. Seus 85 anos não o deixavam se aquietar.

Quem sofria com isso era dona Cícera, 13 filhos, que passara a vida assistindo as safadezas do marido, mas nunca tivera coragem pra dar um chute na bunda dele e se separar. Viviam na mesma casa, apenas.

Um dia, Seu Aprígio amanheceu com uma ferida bastante dolorosa no dorso do pênis. Foi até a capital se consultar com o saudoso urologista Dr. Osório Abath Lopes Filho. Este examinou e diagnosticou: cancro mole.

O velho ficou apavorado, pois pensou que fosse câncer. Ao que Dr. Osorinho tranquilizou:

– Não se trata disso coronel. Trata-se do fato de que o senhor andou saindo com alguma mulher da vida contaminada. Pois isso é uma doença venérea altamente contagiosa. Mas tem tratamento!

E prescreveu antibióticos para ele tomar e um líquido, Hebrin, para passar na ferida. Esse remédio, por sinal, doía muito. Seu Aprígio via estrelas quando passava.

Certo dia, de manhã cedo, estava no banheiro passando o remédio e soprando o pênis para aliviar a dor, quando a porta se abriu. Era dona Cícera, que acabava de chegar da igreja! Quando ela viu “aquilo”, não se controlou, como fazia das outras vezes, e desabafou:

– Bicho safado, cachorro da mulesta! Olha só o que tu ganha, com essa vida nojenta que tu leva, fazendo safadeza com essas raparigas!

Mesmo flagrado, Seu Aprígio não perdeu o prumo nem o rumo, esclarecendo a seu modo do que aquilo se tratava:

– Ciça, minha véia, o mundo tá virado! Espia só o que nasceu no meu pinto: UM TERÇOL!