E TEMOS DITO, por Frutuoso Chaves

“O pior cego é aquele que não quer ver”. Mal ingresso em jornal, vi a expressão creditada ao paraibano José Américo num comentário político cuja autoria não guardei. Seria mais uma daquelas tiradas geniais atribuídas ao homem. Coisa à altura de outra citação: “Ninguém se perde na volta”.

Nova leitura, muito tempo depois, me encaminharia para outra origem do termo, desta vez com o endereço de Câmara Cascudo. O cego em questão, de nome Angel, cuja visão fora recuperada em cirurgia feita na cidade francesa de Nimes, em 1647, ganharia na Justiça o direito de voltar à cegueira, decepcionado que estava com as cores e as coisas do mundo.

Agora mesmo, ponho meus olhos de catarata em texto contendo explicações para outros ditos populares. A coisa começa com o famoso Amigo da Onça. O caçador mentiroso contava que, desarmado, havia espantado a bicha com um grito. Ao ouvinte que então debochava de sua história ele perguntou: “Você é meu amigo, ou amigo da onça?”.

O “Maria vai com as outras” adviria do tempo de D. Maria I, a rainha louca. E de seus passeios a pé sob escolta de numerosas damas de companhia. E sabe onde Judas perdeu as botas? No lugar ermo onde se enforcou e de onde também desapareceram os 30 dinheiros que tinha na bolsa. As tais moedas, há quem diga, nunca voltaram para Roma, nem as botas para o defunto.

“Comer com os olhos” era o que restava aos comensais dos banquetes oferecidos aos deuses, na Roma Antiga. A ninguém era permitido, nessas ocasiões, tocar na comida.

No tempo das carroças e dos cavalos, a determinação para alguém “tirar o cavalinho da chuva” reforçava o convite à permanência. O animal iria para lugar coberto porque a conversa com os donos da casa seria demorada, ao contrário do que pensasse o visitante apressado. O termo é, hoje, a expressão do contraditório: esqueça, de jeito nenhum.

Originalmente, não se faziam ouvidos de mercador e, sim, de marcador, o cara que nos escravos aplicava ferro em brasa insensível aos gritos dos desgraçados.

“Queimar as pestanas” advém dos tempos anteriores ao aparecimento da lâmpada elétrica quando a leitura noturna requeria a vela próxima dos olhos.

Se você fosse o governante que naqueles idos não mandava nem em Chipre nem em Jerusalém, você seria o Duque Emanuele Filiberto de Savoia, o Testa de Ferro.

“Jurar de pés juntos”. Deus nos livre. Isso vem dos pés atados pela Santa Inquisição. Vem do óleo quente no lombo de seres humanos e gatos de bruxos assim também pingados.

“Pensando na morte da bezerra?”. Então, você está como o filho menor de Absalão, o hebreu que à falta de outros animais sacrificou para Deus a bezerrinha do garoto. Este último, a partir de então, postava-se triste e pesaroso ao lado do altar das oferendas.

Coitada de Joana, a Rainha de Nápoles, a condessa de Provença, aquela que libertou os prostíbulos de Avignon. Cada bordel daqueles, depois disso, passou a ser tomado como Casa da Mãe Joana.

E nem queira saber dos inícios do termo “afogar o ganso”. Era ganso mesmo. O bicho tinha a cabeça afundada na água para ampliação do prazer que certos degenerados sentiam com seus espasmos. Pois é, nem sempre é pura e bela a origem das expressões nossas de cada dia.

É BOM ESCLARECER
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