LIÇÃO DO BEM-TE-VI, por Babyne Gouvêa

Bem-te-vi (imagem copiada de vídeo do YouTube, reproduzido abaixo)

“Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa só de jardim zoológico….”

… e assim o belo texto ‘História de Bem-te-vi’, da grande escritora brasileira Cecília Meireles, sugere que os edifícios se erguem nas cidades e provocam o distanciamento entre as pessoas e os pássaros. Na narração, há sessenta anos, a ilustre das letras manifesta preocupação com a preservação dos pássaros, especificamente a do bem-te-vi.

Acrescentou ao texto o canto entrecortado da ave, como outro motivo de receio de extinção. Hoje, o Bem-te-vi continua cantando a sua melodia completa ou intervalada, são e salvo. Não entendo de ornitologia, mas a convivência com esta espécie me permite fazer tal afirmação.

O Bem-te-vi tem as penas das costas em tons de marrom, o peito bem amarelo e a cabeça exibe uma linda faixa branca. Possui um bico preto, longo e resistente, perfeito para a sua alimentação.

Fiel vizinho, um Bem-te-vi resolveu fazer um ninho em local de difícil acesso da minha morada. Curiosa, resolvi acompanhar a construção do berço dos seus filhotes. Ao longe.

Diariamente, ele anunciava aproximação com o seu canto característico – o som do seu nome. Silenciava quando transportava pedacinhos de galhos secos das casuarinas da casa vizinha para a sua obra. Numa precisão digna de projeto arquitetônico preenchia o círculo.

Bastava alguém se aproximar, mesmo sem intenção de observar o labor, ele voava e ficava espreitando a distância aguardando a área ficar livre. A trajetória do seu trabalho árduo conquistou a minha atenção.

Passaram-se dias, a cama foi erguida e as visitas ao ninho mais frequentes. Após certo tempo comecei a ouvir o som bem típico de aves recém-nascidas. Queria me confraternizar com a mãe, embora fosse presunção da minha parte.

Coloquei alimentos em alguns pontos estratégicos para a mãe conduzir às suas crias. Simplesmente ignorou. Fiquei desolada com a esnobação à minha oferta.

Ficava espiando os movimentos de ida e saída do ninho, atentamente. Até que um dia, logo cedo da manhã, percebi um dos bebês da ave em estado de vulnerabilidade. Impossível o alcance para socorrê-lo.

Para a minha tristeza e da mãe veio a óbito. A genitora abandonou o local, radicalmente. E passou a frequentar o lado oposto da casa, cantarolando. Um canto inconfundível: parece que ele está falando seu próprio nome. Presume-se que a origem do nome popular do pássaro é onomatopaica, com base no som que o pássaro faz quando está cantando.

Impressionante a capacidade de superação do Bem-te-vi. Não se deixou abater. Continuou no espaço lateral da casa voando livremente e, para a minha satisfação, tomou a iniciativa de produzir outro ninho. Agora, em lugar seguro.

Empolgada com a capacidade de subsistência do Bem-te-vi tranquilizo a estrela Cecília: ele gagueja ao cantar – Bem-Bem te-te, Bem-Te-vi-vi -, por estar sempre de bem com a vida. Uma das provas é o anúncio do nascer do sol com alegria.

Otimista, sigo a lição ornitóloga de manter o entusiasmo acima das adversidades. O ideal seria ter o Bem-te-vi largamente distribuído no país. Quem sabe, se cumprido à risca o conselho do pássaro, teríamos empatia entre os homens, nos dias atuais?

É BOM ESCLARECER
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