A MORTE DE DONA LAURA, por Ana Lia Almeida

Imagem meramente ilustrativa copiada do memorialveracruz.blog.br

Rita mal percebia as ruas desertas ficando pra trás pela janela do ônibus vazio. Era tarde da noite. Seus olhos imóveis reviam, uma por uma, as mais terríveis memórias daquele dia. Era tarde. Tarde demais para que dona Laura lhe desse ouvidos. Rita limparia, sim, o armário da cozinha, mas o banquinho de plástico não podia com ela, muito menos com a patroa. Peraí, dona Laura, eu vou pedir a escada do vizinho emprestada. Suba não, dona Laura, esse banquinho não pode com a senho…

Tarde demais. O banco quebrando, dona Laura caindo, a cabeça dela batendo na quina da mesa, seu sangue escorrendo pelo chão da cozinha, sua vida se esvaindo sob os pés de Rita. Por três segundos, Rita não soube o que fazer. Não acreditou logo no que acontecera, como se de repente estivessem, ela e a patroa, dentro de uma cena de novela. Sangue, sangue, sangue. Rita não suportava ver sangue, a ponto de desmaiar. Depois de três segundos, contudo, deu-se conta de que não poderia desmaiar.

Correria gritando socorro, tocaria freneticamente as campainhas dos vizinhos que não se dariam ao trabalho de atender tão imediatamente, no tempo de uma vida se acabando, ao chamado desesperado de uma campainha. Rita deixaria dona Laura morrendo, desceria as escadas e bateria nas portas do andar de baixo e de cima. As gentes dali não gostam de ser incomodadas. As gentes dali gostaram apenas de lamentar, do alto das janelas de seus apartamentos, quando a ambulância chegou e levou dona Laura já sem vida para o hospital.

Era tarde quando liberaram o corpo de dona Laura do IML, resolvendo se havia algo a ser investigado naquela morte estúpida. Rita numa delegacia, sem entender direito porque não queriam que ela fosse ao velório. Eu mesma não quis subir, seu Delegado, avisei que o banquinho não podia com ela, mas ela teimou. Quando eu vi, já era tarde.

Que alertou a vítima de que o móvel de plástico não suportaria o peso, no que foi desconsiderada. Que estava na iminência de ir buscar uma escada emprestada quando a vítima se acidentou. Que se ausentou do local do acidente em busca de auxílio, sem, contudo, ter logrado êxito. Que telefonou ao filho da vítima, responsável por ter chamado a ambulância. Que, quando do socorro médico, a fatalidade já havia se tornado irreversível. Ao ser perguntada se teria alguma desavença com a vítima, a depoente negou. Ao ser questionada se a vítima pagava o seu salário em dia, a depoente respondeu que sim. Ao ser perquirida se a vítima lhe devia algum dinheiro, a depoente declarou que não. Ao ser perguntada se considerava a vítima uma boa patroa, a depoente respondeu afirmativamente.

Era muito tarde quando Rita foi liberada da delegacia, sem compreender o porquê de tantas perguntas. Quando o patrão recusou seu telefonema querendo saber onde dona Laura havia sido enterrada. Quando esperou mais de quarenta minutos pelo último ônibus em frente à Central de Polícia. Quando sentou-se à janela, com seu olhar perdido revendo o corpo ensanguentado de dona Laura. O banquinho não pôde com ela. Já era tarde.

MINHAS DUAS SOGRAS, por Babyne Gouvêa

Babyne Gouvêa com Dona Durvalice e, à direita, com Dona Virgínia (fotos do acervo pessoal da autora)

Que mulheres extraordinárias! Estranhando a duplicidade? Explico já.

Há quem acredite que o destino de todos nós esteja traçado logo que recebemos o sopro da vida. Pelo sim, pelo não, o que me ocorreu foram dois casamentos e uma certeza: não existe ex-sogra.

Das núpcias com o pai dos meus filhos, ganhei uma sogra primorosa – Durvalice. Minha primeira e eterna sogra, à qual me vinculei com apreço e cumplicidade.

Anos depois, casei novamente. A mãe do meu marido se chamava Virgínia – minha segunda e querida sogra, de quem tenho imensa saudade. Quando virou estrela, senti-me amputada, tomada pelo sentimento de orfandade.

Minha união com essas adoráveis mulheres derruba por terra – e enterra – toda e qualquer referência ao estereótipo de sogras como pessoas ruins, bruxas, megeras, desagregadoras e outros adjetivos de um folclore ou anedotário quase sempre injusto.

De minha parte, garanto que as expressões pejorativas e uma infinidade de piadas sobre sogras se desfazem diante da bela afinidade construída entre nós.

Reciprocidade de respeito entre sogra e nora adquiriu um formato sólido, naturalmente. Bom senso ditava as regras e garantia leveza em caso de divergência de opinião. Eis o retrato da intimidade familiar saudável que soubemos estabelecer.

Essas mulheres extraordinárias me influenciaram substancialmente. Delas guardo ricos ensinamentos na forma de orientações e ponderações extremamente produtivas e procedentes que me passavam com impar sabedoria.

Dona Durva, personalidade admirável, firme nas suas convicções, sempre esteve do meu lado em situações difíceis. Bela, nunca deixou morrer o seu espírito de liberdade – tanto na defesa dos seus valores éticos como das suas crenças religiosas.

Ela soube usufruir a sua autonomia, ora pedalando pelas ruas, próxima aos noventa anos, ora visitando os seus entes queridos em qualquer circunstância.

Felicidade tê-las em minha trajetória afetiva. O amor que nos une está consolidado, atestando que este sentimento, quando verdadeiro, torna-se imortal.

Dona Virgínia, presente que ganhei no segundo casamento, era singular na sua autenticidade. Austera e doce, simultaneamente, distribuía simpatia com quem se encantava. E se encantou por mim. Morava em Fortaleza, mas vencíamos a distância física com papos rotineiros ao telefone.

Relembro com enorme saudade as longas conversas em que discutíamos assuntos sérios ou divertidos. Conversas que despertavam a vontade de nos vermos presencialmente, o mais imediatamente possível. Marcávamos a viagem e acontecia o reencontro. E como era bom sentir o calor do seu abraço!

Formávamos o par de dançarinas mais alegre nas celebrações de aniversário, réveillon e carnaval. Sim, a nossa diversão era contagiante. Espalhávamos contentamento, atraindo os presentes para a dança.

Lembro bem de um carnaval na Praia de Uruaú, Ceará, onde integramos blocos dos foliões de rua. Os nativos nos olhavam admirados com o nosso entusiasmo na brincadeira.

Manifestações de carinho de ambas as partes eram sucessivas. D. Virgínia era uma senhora muito bonita, com belos olhos azuis. Eu gostava de presenteá-la com adornos que combinassem com a sua beleza física.

Por ser bela, Virgínia era constantemente elogiada por Vidal, seu marido e meu sogro querido, com quem ela protagonizou uma linda história de amor até o final dos seus dias.

Por tudo isso e muito mais, bato no peito envaidecida. Sou uma nora privilegiada, abençoada pela graça do convívio com duas sogras maravilhosas. Resta agradecer por elas e por todo o bem e tudo de bom que elas trouxeram para a minha vida.

A VERDADE DOS FATOS, por Efraim de Araújo Morais

Efraim Morais (à esquerda) com a ministra Tereza Cristina (Agricultura) durante reunião em Brasília em 2019 (Foto: Asbraer)

A tempo, sobre texto publicado nesse blog no dia 15 de fevereiro do ano em curso, sob o título “AGROPECUÁRIA DESPREZADA”, atribuído ao ex-professor e ex-servidor comissionado desta Secretaria, o senhor Antônio Carlos Ferreira de Melo, e em respeito a todos que fazem a agropecuária paraibana, faz-se necessário prestarmos algumas informações sobre a verdade dos fatos, uma vez que a Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (SEDAP) não foi procurada em nenhum momento anterior para comentar o escrito.

1 – Inicialmente, queremos nos acostar ao Diretor Presidente da EMPAER, o Dr. Nivaldo Magalhães, pelo insigne esclarecimento (‘A BEM DA VERDADE‘) feito a esse blog em 28 de fevereiro último.

2 – O ex-professor e ex-servidor comissionado arrazoa no seu texto sobre sucateamento das instituições do setor agropecuário, inclusive referindo-se à SEDAP. É de bom alvitre observar que nos três anos da nossa gestão à frente desta Secretaria nunca recebemos sua visita ao gabinete do secretário ou a alguma Gerência do setor fim para buscar alguma informação ou mesmo apresentar alguma sugestão técnica, buscando o bom desenvolvimento do setor produtivo. Dessarte, fica evidenciado no seu texto, que o ex-professor e ex-servidor comissionado da SEDAP dessabe por completo as ações desta Secretaria e suas vinculadas, senão vejamos:

2.1 – o Governo do Estado da Paraíba, através da SEDAP, celebrou convênio com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no valor de R$ 5. 700.000,00, cujo objeto é a implantação de 338 (trezentos e trinta e oito) campos de multiplicação de palma forrageira resistente à Cochonilha do Carmim, onde o produtor recebe 20.000 raquetes/ha e um sistema de irrigação movido a energia solar, buscando garantir o suporte forrageiro dos rebanhos;
2.2 – No exercício de 2021, o Governo do Estado, através da SEDAP, reestruturou a Estação de Piscicultura de Itaporanga, distribuiu 5,5 milhões de alevinos e tem uma programação definida para distribuir 7,5 milhões de alevinos em 2022;
2.3 – Através da SEDAP/EMPAER, o Governo do Estado atende anualmente uma média de 35.000 famílias de pequenos agricultores com o Programa Estadual de Distribuição de Sementes, visando à implantação da safra com o fornecimento de sementes de milho, feijão e sorgo;
2.4 – Por meio da SEDAP e com a anuência da Assembleia Legislativa, o Governo do Estado sancionou e regulamentou a Lei nº 11.346, de 6 de junho de 2019, sobre queijos e manteigas artesanais, dispensando, inclusive, o ICMS para esses produtos;
2.5 – Desconhece o ex-professor e ex-servidor comissionado que o Governo do Estado, através da SEDAP, conseguiu, junto ao Ministério da Agricultura, o certificado de adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA) e que, doravante, os produtos da agroindústria paraibana que estejam regulamentados poderão ser comercializados em qualquer outro estado brasileiro;
2.6 – A SEDAP conseguiu aprovar na última reunião do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza no Estado da Paraíba – FUNCEP, realizada em 10/02/2022, projetos que totalizam mais de R$ 20.000.000,00 para implantação de projetos como galinha caipira, queijarias artesanais, programa de cana semente e programa de distribuição de sementes certificadas e crioulas;
2.7 – Poderíamos elencar inúmeras outras ações da SEDAP, como o trabalho junto ao Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa – PNEFA, buscando tornar o estado da Paraíba livre de febre aftosa sem vacinação; ações junto às empresas de produtos lácteos, no sentido de não interromperem o fornecimento do leite junto aos produtores rurais; zoneamento agroclimático das terras à margem do Canal Araçagi/Acauã; exposições agropecuárias etc.

3 – Diante dos fatos expostos, lamentamos que o ex-professor e ex-servidor comissionado da SEDAP promova comentários danosos, sem nunca em nossa gestão frente à Secretaria (repito) ter contribuído com o setor agropecuário do estado da Paraíba com sugestões ou mesmo críticas construtivas.

Como de costume, todavia, colocamo-nos à disposição para discutir qualquer das questões levantadas com o segmento produtivo e prestar os esclarecimentos devidos sobre o assunto supradito.

  • Efraim de Araújo Morais é Secretário de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca

SOBRE A EMPAER, por Antônio Carlos F. de Melo

Imagem meramente ilustrativa copiada de site da Prefeitura de Pirpirituba

À Editoria do Blog do Rubão

Senhor Editor,

Li nesse espaço texto pretensamente redigido pelo sr. Nivaldo Magalhães, presidente da Empaer, no qual ele não reconhece, como esperado, o desmantelamento do setor agropecuário na Paraíba por omissão ou indiferença do governo estadual. Prefere dizer inverdades sobre interesses meus supostamente contrariados. Esclareço, de início, que o meu filho tem uma empresa de rastreamento veicular, mas não participou à época da licitação para prestar serviços ou fornecer produtos àquela empresa.

Para mim ou para meu filho jamais pedi algo ao sr. Nivaldo. Primeiro, porque nunca usei desse tipo de expediente; segundo, porque conheço os trâmites legais de processos licitatórios, onde o tipo de ação que ele insinua não funciona, posto que o processo é gerido por uma comissão licitatória, onde o presidente não tem nem deve ter a menor influência.

A única verdade sobre essa licitação é que meu filho não participou dela porque a empresa dele não tinha lastro ou condições, como o próprio presidente da Empaer frisou.

Sobre o sucateamento de veículos da empresa, lamento que não tenham realizado o propalado leilão. Já deveriam ter tomado as providências, pois é fato que os carros estão apodrecendo expostos ao relento sem nenhuma proteção.

Sobre fazer críticas a desmandos no setor agropecuário, faço isso há mais de dez anos, quando começou o desmonte. Isso pode ser comprovado por vários artigos que publiquei nesse blog sobre o assunto. Fiz e faço tais críticas por entender ser inaceitável um tratamento pernicioso dessa natureza a um setor tão importante.

Não há porque falar, portanto, em interesses contrariados. O que me contraria é ver a inoperância e incompetência em organismos governamentais que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento agropecuário da Paraíba.

Esclareço, ainda, que nunca trabalhei nem quis trabalhar na Emater, empresa que antes do desmanche em curso sempre procurei ajudar quando e enquanto fui coordenador do Pronaf, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. O sr. Nivaldo sabe muito bem disso. O mais é fruto da mente criativa de quem vive em um mundo de fantasia onde Emater, a Emepa e o Interpa ainda fazem alguma coisa.

Como se não bastasse, o sr. Nivaldo vem propagandear regularização de títulos de propriedade, o que sempre foi um engodo nos últimos tempos. Os títulos de que fala, sabemos, vêm sendo emitidos através do Incra, numa ação que o governo federal vem fazendo nos últimos três anos em todo o país, já tendo regularizando nesse período em torno de 278 mil propriedades.

O sr. Nivaldo não fala, mas a gente sabe que nos últimos tempos o governo da Paraíba não tem assentado uma só família. Além do mais grave: os poucos que foram assentados estão abandonados, sem assistência técnica e crédito para se manter em suas terras.

Quero defender aqui os excelentes técnicos que Emater tem, mas é como já disse: tem que dar as mínimas condições a esse pessoal. Em vez disso e por outro lado, o sr. Nivaldo optou por atacar Camilo Flamarion, a quem atribui não ter apresentado nenhum projeto de pesquisa nos últimos dez anos na Emepa.

Como trabalhar e pesquisar onde falta de tudo, do material de expediente ao transporte dos servidores até a sede e vez por outra não há ração ou medicamento para animais que são objeto de pesquisa, como me revelaram técnicos da própria Emepa, que também convive com sua estação de produção de mudas de Lagoa Seca em situação deplorável, caindo aos pedaços. Seria interessante que o sr. Nivaldo mostrasse as mudas lá produzidas nos últimos anos.

Que ele aproveite a oportunidade e mostre também operações de crédito do Pronaf feitas ultimamente em favor de produtores e criadores. Tive informações de que se não fossem as operações do Crediamigo realizadas pelos agentes do BNB, os agricultores estavam a ver navio.

Finalmente, quero deixar bem claro que não tenho nada contra a Emater, Emepa e Interpa, hoje Empaer, mas não se pode ficar assistindo passivamente a tamanho desmantelo, como parece ser o caso do sr. Nivaldo.

Atenciosamente,

Antônio Carlos Ferreira de Melo