Bananeiras vai reabrir o seu cinema. Estarei lá, na fila do gargarejo

A União trouxe ontem (19) matéria bacana de página inteira, assinada por Ítalo Arruda, sobre provável revitalização do Cine Teatro Excelsior, de Bananeiras. Tudo graças a um projeto dos Guardiões da Serra, grupo de escotismo local que concorre a financiamento do Fundo de Direitos Difusos do Ministério Público da Paraíba.

A excelente perspectiva recarregou-me esperanças e melhores expectativas de retornar em breve a Bananeiras só para assistir à sessão de reinauguração do Cine Excelsior. E vibrar com um novo diferencial do lugar da minha saudade: ser a primeira cidade paraibana a reinstalar o seu cinema de rua.

Mas tenho um pedido a fazer aos autores do projeto: botem aquela corneta difusora de volta no frontispício do prédio e toquem ‘Corintiano’ com o velho e bom Saraiva, o rei do sax soprano. Era a música que anunciava o começo do filme para todos aqueles que estivessem nas calçadas e bancos da Praça Epitácio Pessoa, bem na frente do ‘Cinema do Padre’.

A lembrança me leva ao final dos anos 60 do século passado, um tempo em que o Professor Vicente, meu pai, também músico, fornecia a trilha sonora de espera dentro e fora do cinema. Fornecia mediante troca de LPs de Saraiva e Bob Fleming (Moacir Silva), entre outros virtuoses do sopro, por ingressos para os filhos adolescentes – este que vos escreve e o mano Robson.

Não perdíamos uma fita, desde que permitida aos meninos de nossa idade. Mas, ainda que a censura não permitisse, não raro Rubinho de Vicente, como me chamavam, escalava o telhado de casas vizinhas ao cinema para ver alguns proibidões por uma das janelas abertas e quase coladas ao teto, bastante alto, da sala de exibição.

Pesando igual sibite, não quebrava uma telha sequer nem fazia zoada para chegar até aquelas brechas que tanto arejavam o ambiente como me deixavam ver ‘filmes 18 anos’, de projeção que certamente passava à revelia ou omissão conveniente do Padre José Diniz, o irascível e temido pároco de Nossa Senhora do Livramento, padroeira local e verdadeira dona do Excelsior.

Fissurado em cinema, o Mago de Vicente, alcunha alternativa com que também me identificavam, um dia fui vítima fácil de Ivan, filho de Zé do Padre, sacristão, projetista e bilheteiro do Cine Excelsior. Foi assim…

Esgotada a cota de ingressos a que meu pai tinha direito, estava na praça desolado por não ter como assistir a um Durango Kid prestes a sair de cartaz. Faltando pouco segundos para Saraiva tocar a última nota do ‘Corintiano’, Ivan me socorreu. Entregou-me ligeiro um pedaço de papel da mesma cor do ingresso. “Corre que já vai começar”, instigou-me. Não contei conversa…

Entreguei rápido o bilhete ao porteiro e mais ligeiro ainda fui procurar uma cadeira vaga na fila do gargarejo, onde mais gostava de assistir. Não deu quatro minutos, o segundo trailer estava perto de acabar quando acabaram com a minha graça.

Puxando-me pelo braço, o porteiro devolveu-me à calçada do cinema, onde me aguardava um comitê de vaia mobilizado pelo mesmo Ivan, o terrível. Chorando e morrendo de vergonha, só lembro ter apanhado uma pedra que arremessei com toda força possível na direção da cabeça do meu algoz.

Não acertei o alvo. O alvo me acertou. Derrubou-me com um murro, ganhei um olho inchado, levei uma pisa em casa e fiquei uma semana de castigo. E só voltei a assistir filme quando o Professor Vicente resolveu se descartar de mais um LP da sua coleção de saxofonistas e clarinetistas em mais uma troca por ingressos para o Cinema do Padre.

(Foto: Cine Teatro Excelsior em imagem cedida pelo jornalista e escritor Ramalho Leite, liderança e referência de Bananeiras)

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