ALMA E SANGUE CAMPINENSES, por Francisco Barreto

Confluência das avenidas campinenses Floriano Peixoto com a Maciel Pinheiro (foto copiada de gretalhos.blogspot.com, sem informação sobre autoria ou data)

Durante muitos anos fiquei sem entender, e muito depois comecei a ver, o porquê de meu pai ter me concedido a cidadania civil de filho de Campina Grande, embora nascido em João Pessoa. Estava feito, era o seu desejo.

Depois da morte dele, prematura aos 51 anos, passei a ter a certeza de que eu estava predestinado a ser o seu único filho homem: um campinense. Havia me dado a extrema honraria de continuar a genealogia campinense da nossa ascendência,  enraizada desde 1780.

O orgulho e o imperativo afetivo paterno se debruçaram sobre mim para sempre sob o manto da Rainha da Borborema. Disciplinado à vontade paterna e ao seu extremado afeto por Campina Grande. Afinal, vinha de uma descendência de sete gerações fincadas em Vila Nova da Rainha. Abracei com afeto o meu legado de campinense e abdiquei sem nenhum constrangimento à condição de natural da cidade que me viu crescer.

Meu pai era politico campinense, com vários mandatos legislativos até a morte, em 1959. Certamente, anteviu com precisão o destino do único filho homem. Tornei-me campinense de peito aberto e tentei a vereda política, confesso que sem muito êxito. E assim, à sua sombra segui o desejo e os passos dele. Curvei-me ao olhar político paterno.

As origens de minha família contam quase dois séculos e meio. Tudo começou com o Capitão José Nunes Viana, português, em (1780), Comandante de Ordenanças que viera de Minas Gerais e tinha importante força política. Era casado com D. Inácia Barbosa Barreto, índia convertida ao cristianismo.

Os importantes elementos contidos no livro de Epaminondas Câmara, os ‘Alicerces de Campina Grande’, fez-me mergulhar na minha ancestralidade. O competente historiador faz o registro de três famílias de comerciantes e fazendeiros das mais antigas do lugar: a de Teodósio de Oliveira Ledo, a do Capitão José Nunes Viana (meu hexavô) e a de Bento José Alves Viana.

Segundo Câmara, os Oliveira Ledo eram orgulhosos e desconfiados; os Nunes Viana, que ocuparam a área das Tabocas, Cacimbas, o Ligeiro e os domínios do Zabelê e Loango, tidos como pessoas instruídas e bem relacionadas com os humildes, embora fossem abonados.

O Capitão José Nunes Viana, casado com D. Ignacia Barbosa Barreto, fez, inclusive, a doação da área para a construção da Igreja do Rosário em data do final século 18.

Relata ainda o historiador que o primeiro Mercado do Comércio Velho, na Rua do Sertão,  no Largo da Matriz, foi da lavra de Baltazar Gomes Pereira de Luna (heptavô), português, homem de posses, instruído, anti-monarquista de militância liberal e republicana. Casou-se com Margarida Maria de Jesus, filha de José Nunes Viana.

Eram pais de Baltazar Pereira Luna (tataravô) e tiveram um filho de nome Francisco de Paula Barreto (trisavô), sendo este o pai de Miguel Arcanjo Luna Barreto, meu bisavô, e finalmente, chega-se a vovô José Geminiano de Luna Barreto, conhecido como Cazuza Barreto.

Daí em diante, são descendentes do velho Cazuza: meu pai, Francisco de Paula Barreto Sobrinho, e os irmãos Paulo, Júlia, Lídia, Angelina, Tuta, Anélia, Ambrosina e Elisa, que se multiplicaram em dezenas de netos, bisnetos e trinetos.

No inicio do século 19, os revolucionários e liberais, os quais, por serem anti-monarquistas e adesistas ao Movimento da Confederação do Equador, reivindicaram a mudança de nome para Vila Nova da Rainha em homenagem a mãe de D. João VI, D. Maria, a Louca.

Juntamente com Frei Caneca do Amor Divino, foram presos meus dois avós, o 6º e o 5º, que com vários outros foram levados ao Recife, por terem instalado em 27.04.1814 a Junta Governativa da Paraíba. Retornaram a Campina Grande e aderiram à Confederação do Equador. Em 1814,  prevaleceu o nome de Campina Grande.

Essas raízes fincadas na Serra desde 1780 deve ter contribuído para o extremo atavismo de meu pai e deste seu filho desde o Comandante José Nunes Viana e D. Ignácia Barreto. Não tinha como não continuar.

Nada mais campinense do que honrar o orgulho dos antepassados que sempre viram o sol nascer nos Trás-Montes da Borborema, alumiando a coragem, a inteligência arrebatada, o empreendedorismo e o espírito resistente com que sempre combateram todas as formas de tirania e submissão e passaram ao largo do escravismo.

Sou e sempre serei campinense, por origem e por afeto, sem nunca renegar a Parahyba, hoje João Pessoa, que haverá de compreender o registro em minha certidão de nascimento, imposição de sangue transfundido na minha alma campinense.

É BOM ESCLARECER
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