AMIGO É PRA ESSAS DORES, por Babyne Gouvêa

Telefonia no Brasil em pleno crescimento.

(Imagem meramente ilustrativa. Crédito: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas/Agência Senado)

– Alô, amiga!
– Poxa, que surpresa!
– Está tudo bem com você?
– Eu é que pergunto, pelo tempo do sumiço…
– Bom, muita coisa aconteceu, surgiu, melhor dizendo…
– Mas a saúde está boa?
– Bem, boa mesmo não está, mas estou lutando…
– Humm, está me deixando preocupada…
– Vamos colocar o papo em dia…
– Está tergiversando?
– Não, você sabe que eu não gosto de falar sobre mim…
– Ué, mas em se tratando de saúde…
– Vamos papear sobre o que a gente gosta, você está sabendo do ABBA? Vai lançar um álbum depois de 40 anos, minha amiga…
– Uau!
– Sim, soube que vocês foram assistir ao show do Paul… Sei que já faz um tempinho.
– Sim, foi delirante, algo indescritível.
– Me fale, estou imaginando você cantando Hey Jude. Sempre gostou de cantar.
– Tá, mas e você?
– Eu? Eu cumpri a minha missão…
– Como é que é?
– Sim, it’s life. Meus filhos, netos e esposa estão muito bem…
– O que você quis dizer com isso?
– Estava resgatando as lembranças que são muitas. Lamentei muito a ida do Charlie Watts.
– Poxa, não só lamentei, mas lembrei logo de você que o preferia ao Ringo.
– Sem dúvida era melhor. De bateria eu entendo. Olha a modéstia…
– Sim, sei disso, nem discuto. Okay, agora fale de você.
– Lembra que você me disse “nunca é tarde para começar a ler Dostoiévski?” Dei início…
– Lembro sim, mas o que tem a me dizer sobre a sua saúde ou a falta dela?
– Tá bem, a você eu falo…

***

A ligação continuou entre palavras sofridas e risadas fingidas durante uma hora. A conversa seguiu entrecortada com hesitações pungentes e frequentes pausas.

Uma mistura de sentimentos se instalou. O bloqueio natural de raciocínio comprometeu a espontaneidade do contato por muito tempo aguardado. Com revelações lamentosas ambos manifestaram o emocional desestabilizado, mas firmes na convicção de que amigo é pra essas dores.

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para AMIGO É PRA ESSAS DORES, por Babyne Gouvêa

  1. Muito bom, Babyne!
    E título bem escolhido. Isso dá música!