ZAP: ÁUDIO OU TEXTO? por Eurípedes Mendonça

Indubitável: hoje, praticamente não há vida sem zap (a identidade mais popular do WhatsApp) como meio de comunicação. Usando esse aplicativo, podemos fazer ligações telefônicas, vídeo-chamadas e, principalmente, interagir via texto ou áudio. Mas… Qual meio o leitor mais usa? Áudio ou texto?

A motivação para redigir este artigo ocorreu durante uma exploração do zap, na busca de conhecer recursos disponíveis. Ao visitar a coluna Status do WhatsApp, por exemplo, fui surpreendido com a diversidade de advertências ou indicações de atitude coladas às fotos de perfil de usuários diversos.

Tem de tudo. “Sem status”, “Filho, razão da minha vida”, “No trabalho”, “se for urgente, ligue”, “tudo é possível naquele que me fortalece”, “o Senhor é meu pastor e nada me faltará”, “não posso falar, somente whatsApp”, algumas em inglês e “EU NÃO ESCUTO ÁUDIO, telefone ou escreva”.

“EU NÃO ESCUTO ÁUDIO, telefone ou escreva” foi encontrada no zap do advogado, professor e pesquisador das ciências jurídicas dr. Igor de Lucena Mascarenhas. Escrita assim mesmo, a primeira parte destacada em caixa alta. Indagado sobre razões da recomendação, ele enviou print de áudio que recebeu às 4h30 da madrugada.

Por concordar plenamente com a “objeção sonora”, arrisco abaixo outras suposições para a rejeição. O emissor teria ou causaria:

  • a) dificuldade em expor o assunto com clareza, objetividade e concisão;
  • b) desperdício de tempo para o receptor ao ter que (re)ouvir toda a gravação para uma possível resposta;
  • c) forçar o receptor a fingir que ouviu e responder com um OK! ou um emoji;
  • d) dificuldade de identificar a autoria do áudio, que pode veicular conteúdo inapropriado ou até golpes;
  • e) possível violação do sigilo durante a audição sem fone de ouvido.

VANTAGENS DO ÁUDIO SOBRE O TEXTO

Com a ajuda de D. Elisa, esposa do autor, PhD em zap, foram identificadas pelo menos seis vantagens do áudio, entre as quais:

  • 1) entonação e emoção em geral perceptíveis na voz;
  • 2) similar eficácia à comunicação de texto;
  • 3) possibilidade de resposta conciliada com outras tarefas;
  • 4) maior agilidade na resposta;
  • 5) maior facilidade para os portadores de presbiopia/hipermetropia;
  • 6) evita expor o emitente a erros vernaculares, como os ortográficos.


TODA REGRA (QUASE SEMPRE) TEM EXCEÇÃO

Como se fosse uma fobia, o autor passou a rejeitar indiscriminadamente os áudios, embora sem afixar no seu ícone de perfil o alerta utilizado pelo Dr, Igor. No dia 3 deste mês, contudo, o autor recebeu um texto via zap, com áudio anexado, enviado por Dona Elisa Abella Cavalcante de Souza, nos seguintes termos: “Sei que você não ouve áudio, mas esse é da nossa faxineira que não sabe ler e nem escrever”.

Vitoriosa a tese de que quase toda regra tem exceção, que na vida tudo é relativo – “um fio de cabelo na cabeça é pouco, na sopa é muito!” – e que seria uma discriminação inaceitável contra aqueles que não tiverem a oportunidade de serem alfabetizados recusar-se a ouvir aquele áudio…

Anteriormente, a certeza da exceção à regra ocorreu em 23 de abril passado, quando o autor recebeu um áudio, via zap, do seu ex-professor de Medicina e de Gastroenterologia, dr. Guilherme Gomes da Silveira D’ávila Lins. Aos 80 anos incompletos de idade, ele justificou o uso exclusivo do áudio: “(…) Você ouviu minha voz (…) e é uma decorrência obrigatória de quem tem dedos maiores que o teclado do celular, apesar de ter feito curso formal de datilografia”.

Com sua “memória de elefante”, Dr. Guilherme lembrou o ano de 1952 e a Escola Remington Padre Azevedo e como testemunha ocular da evolução das telecomunicações fez um reparo: “Pelo zap não há conversa (essa, só frente a frente) e sim uma troca de telegramas”.

Confrontando-se os exemplos da faxineira analfabeta e de um culto professor e historiador, evidencia-se que o uso exclusivo do áudio, via zap, desconsidera a escolaridade.

O CURSO DE DATILOGRAFIA DO ANACLETO FRANCISCO DOS SANTOS

A propósito do curso de datilografia citado pelo professor Guilherme, o meu colega de turma do Colégio Santa Júlia (1969 a 1972), Anacleto Francisco, também demonstrou orgulho pela conclusão do seu curso em 1969, na escola datilográfica Henry Mill, em Catolé do Rocha, e fez questão de apensar o diploma legal.

Infelizmente, este autor não pode se orgulhar do seu curso de datilografia. Graças à uma atabalhoada reforma curricular, o então 2º. grau passou de científico à profissionalizante. Para resumir, o ano letivo de 1974, no Liceu Paraibano terminou e nenhuma máquina de datilografia foi disponibilizada! Um ano só de teoria e previsível aprendizagem zero.

CONCLUSÃO

Espero que essas reflexões ajudem ao leitor na escolha mais racional da comunicação através do zap. Alerte-se ainda para as exceções à regra. Não discrimine quem usa o áudio, mas, ao fazê-lo, que seja com moderação!

EM TEMPO

No status do autor no WhatsApp, a ‘palavra de ordem’ é “Não vacile, vacine-se”.

  • Eurípedes Mendonça é Médico
É BOM ESCLARECER
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2 Respostas para ZAP: ÁUDIO OU TEXTO? por Eurípedes Mendonça

  1. Eliodoro escreveu:

    Eurípedes, muito bom o texto!
    Bastante relevante para os tempos atuais
    Abraços, do seu amigo Eliodoro!

  2. O autor realiza uma divertida vivisecção do uotizápi. Concordo com o professor D’Ávila Lins, meu bom e culto amigo: escrever em celular é para quem tem dedinhos de largatixa.
    Excelente crônica, amigo e colega Eurípedes Sebastião Mendonça de Souza! Parabens!