A TELA MAIS BONITA, por Bethania Rolim da Nóbrega

(Imagem: Amazon)

O mundo é essa linda mistura de cores, mas o que falta nessa mistura é que mais cores cheguem aos corações de alguns que se dizem melhores que outros por causa da sua cor.

O homem, como sempre tão mesquinho, borrou a obra de arte que Deus criou, pois é na mistura das cores que a pintura se completa.

Esse mesmo pintor tem várias telas: o céu, o mar, o nascer do sol, a lua… Mas a tela mais bonita não aceita as suas cores.

Como percebemos, vivemos para ver que a arte que vem de Deus está incompleta por causa do olhar deformado da pintura que se olhou e não gostou do que viu.

Vamos chamar o pintor, mas dessa vez para dar um retoque no colorido que faltou dentro dele.

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  • Texto em homenagem a todas as mulheres e ao 8 de Março que vamos todas comemorar depois de amanhã. Escrito revisitado, postado há alguns anos no Instagram. Mudei algumas palavrinhas. Essência mantida. Precisamos falar mais e mais, escrever mais e mais sobre o assunto. Até um dia tudo em que tudo seja diferente e jamais importem as diferentes cores da pele de cada uma de nós.

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  • Bethania Rolim da Nóbrega é Publicitária e Bacharela em Direito

42 ANOS DE PROFISSÃO, por Aderson Machado

Bloco de Aulas do Centro de Tecnologia da UFPB (Foto: pt.foursquare.com)

Transcorria o longínquo ano de 1978. Nesse ano, então, terminara o curso de Engenharia Civil, na UFPB, Campus de João Pessoa. Até conseguir esse êxito, eu começara, em 1960, a aprender as primeiras letras com a minha professora – e madrinha – Mariinha (in memoriam), no Sítio Fechado, no município de Areia, Paraíba.

Com madrinha Mariinha, eu estudei apenas o primeiro ano do curso primário, o suficiente para ter aprendido a escrever o meu nome bem como fazer as quatro operações aritméticas: adição, subtração, multiplicação e divisão. Muito, porém, em se tratando de apenas um ano de estudo.

No segundo ano, eu passara a estudar na Escola Elementar Mista, cuja professora, Dilza Ribeiro (in memoriam), era prima legítima de Mariinha. Essa escola também se localizava no Sítio Fechado. É bom lembrar que para ambas eu ia a pé, já que ficavam perto de minha casa.

O fato é que, com Dilza, eu estudei até o final do então curso primário, concluído no ano de 1965. Assim, concluí esse curso, em sua totalidade, na área rural de Areia. Depois disso, passei a me preparar para fazer o tradicional Exame de Admissão ao ginásio. Tendo sido aprovado, em 1966, fui estudar no tradicional Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN), em Bananeiras, outro município do Brejo Paraibano.

Tratava-se de uma instituição federal de ensino, para onde muitos alunos dos diversos estados nordestinos, e até da região norte do nosso País, se dirigiam para concorrer a uma vaga. Escusado dizer que havia uma triagem muito rigorosa para que os alunos conseguissem essa tão cobiçada vaga no CAVN, haja vista a grande concorrência, porquanto o ensino lá era da melhor qualidade.

Como se tratava de uma escola agrícola, os filhos de agricultores tinham prioridade em relação aos demais. Foi o meu caso. Essa prioridade, é bom frisar, valia em caso de dois alunos tirarem a mesma nota. Assim, quem fosse filho de agricultor ficaria com a vaga.

Em março de 1966, começaram as aulas no CAVN e eu passei a viver uma nova realidade, desta feita estudando em regime de internato, longe de minha família. Mas esse era o caminho a ser trilhado, para que um dia eu conseguisse os meus objetivos. Nesse educandário, eu estudei durante cinco anos, saindo de lá no final de 1970, depois de ter concluído o primeiro ano do curso técnico agrícola, o que equivale, hoje, ao primeiro ano do ensino médio.

No ano de 1971, fui estudar em João Pessoa, para fazer o curso científico, já que a minha ideia era fazer vestibular para o curso de Engenharia Civil. Com efeito, foi no Colégio Estadual do ABC, no bairro de Jaguaribe, que concluí o segundo grau, no ano de 1972. No ano seguinte, sendo aprovado no vestibular, ingressei no curso de Engenharia Civil da UFPB, onde colei grau em 27 de julho de 1978 como Engenheiro Civil.

Entrementes, quando cursava o último período do meu curso, eis que foram abertas as inscrições para o concurso do então DNER (hoje DNIT). Como o edital desse concurso contemplava os estudantes concluintes, que era o meu caso, pude me inscrever, sendo que tive que optar em fazer a prova em Pernambuco, já que não havia vagas na Paraíba, a minha terra natal.

O concurso em apreço realizou-se em abril de 78, mas só em julho saiu o resultado. Para a minha surpresa e alegria, recebi um telegrama dando conta de minha aprovação, exatamente no mês em que colei grau, conforme acima citado. Devo dizer, com certo orgulho, que fui o único paraibano aprovado no citado concurso.

Tive o prazer, entretanto, de encontrar na minha repartição muitos engenheiros paraibanos, que me precederam no outrora DNER. Aliás, o meu primeiro chefe foi exatamente o engenheiro paraibano Aston Medeiros dos Santos, na cidade de Floresta, Pernambuco, onde cheguei no dia 5 de dezembro de 1978 para exercer a minha profissão.

Por fim, acrescentaria que a minha carteira profissional foi assinada no dia 17 de novembro de 1978. Até a data de hoje, depois de 42 anos e alguns meses, estou ainda na ativa, por opção, na cidade de Salgueiro (PE), sendo o Engenheiro do DNIT mais antigo em todo o estado de Pernambuco!

  • Aderson Machado é Bacharel em Letras e Engenheiro Civil

AGRAVANTES DA TRAGÉDIA, por Babyne Gouveia

Ilustração de mapa-múndi com fios vermelhos ligando cidades e países

(Getty Images/BBC)

A irreverência parece lutar contra a razão. Esse é o comportamento de boa parte da população brasileira, que não acorda para a dimensão da tragédia atual. Haja indisciplina.

Vivemos um daqueles momentos da história onde a desarticulação prevalece em quase todos os sentidos. O governo sem coordenação, a economia sem direção, os desempregos registrando índices desastrosos, os preços dos combustíveis sendo reajustados frequentemente, os alimentos com valores alarmantes, ausência de planos para a saúde e para a educação, e a população nas baladas e em locais de agregação.

As pessoas perderam o senso e a vergonha e fazem aglomeração, festas e reuniões em bairros populares e em mansões, sem contar que estamos ouvindo queixas da vacina de ar, água ou com soro fisiológico. Perco a cada dia a confiança em dias melhores.

Pergunto em que pedaço da história a gente errou como indivíduo. Realmente, a pandemia trouxe à tona, de maneira evidente, o pior das pessoas, sejam governantes alheios às prementes necessidades da população, sejam os próprios cidadãos adotando condutas inconsequentes.

Sem uma essência empática comum a toda a nação vai ser difícil acreditar que podemos vencer ou ao menos controlar a pandemia e o morticínio diário que a Covid impõe a todo o país, no Brasil agravado pela calamidade administrativa no enfrentamento da maior catástrofe sanitária que se abateu sobre a humanidade.

  • Babyne Gouvêa é biblioteconomista

UM MAU EXEMPLO, por José Mário Espínola

Apesar do coronavírus, atos pró-Bolsonaro ocorrem em várias cidades |  Notícias e análises sobre os fatos mais relevantes do Brasil | DW |  15.03.2020

Cena cotidiana: Bolsonaro aglomera com simpatizantes sem máscara ou distanciamento (Foto: DW)

O Brasil apresentou ontem dois marcos internacionais, ambos tendo como principal causa a pandemia por covid 19, porém nenhum deles digno de comemoração.

Pela manhã, recuou três lugares entre os países de maior Produto interno bruto, o PIB, ficando em 12º lugar, atrás de Rússia e Coréia do Sul. Mas, para quem achou que essa era uma má notícia, precisa ouvir a segunda “conquista” internacional sobre o nosso país: à noite, o Brasil avançou um lugar e tornou-se o líder em mortes por covid 19 entre todos os países do mundo.

Essa liderança é a nossa preocupação maior, pois prejuízos do PIB depois serão compensados. Se houver competência para isso. O alto grau alcançado pela pandemia parece ser produto de uma fórmula diabólica: o mau exemplo dado pelas autoridades, especialmente pelo presidente da República, Sr. Jair Messias(?) Bolsonaro, seguido pelo comportamento irresponsável da grande maioria da população.

O primeiro não cansa de se esmerar em exemplo ruim para o povo: alta exposição sem máscaras, promiscuidade pública, negação da gravidade da doença, e negação da ciência, perseguindo e divulgando “tratamentos” ineficazes, como fez com a divulgação e aquisição e distribuição da cloroquina. E como está fazendo agora, ao anunciar que existe em Israel um spray milagroso no tratamento dessa doença.

Já o comportamento coletivo é o pior possível. Na ausência de uma figura respeitável, com o perfil de líder confiável que dê o bom exemplo, o povo faz o que acha melhor PARA SI, não se achando com o menor compromisso para com a coletividade. Nem se achando responsável para com a vida do próximo.

Os exemplos que nós assistimos são estarrecedores! Pessoas aglomeradas ou acumuladas, na maior promiscuidade social. A base desse relaxamento está no ano passado, mais exatamente no mês de novembro, quando autoridades, municipais e estaduais permitiram que acontecesse campanha política presencial. Jamais poderiam ter feito isso! Contaram com a leniência da Justiça, que fez vista grossa.

Depois da campanha, vieram as chamadas festas de fim de ano. Embalados pela sensação de liberdade, o povo se aglomerou em comemorações, íntimas ou coletivas. Daí para se aglomerar no carnaval foi um salto.

O vírus está aí, cobrando caro. Todos os dias milhares de brasileiros morrem, qual vários desastres aéreos por dia. Todos os dias perdemos um ente querido.

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Ao longo da nossa formação nós somos expostos às influências. Na infância, do exemplo paterno e materno. Na juventude, sofremos a influência do nosso meio. Já adultos, passamos a ser influenciados por líderes políticos. Mais tarde, surgem outras influências, como a mídia.

A TV Globo e o SBT, por exemplo, exercem profunda influência sobre o comportamento da população, nem sempre de forma saudável. Já conseguiram fazer a opinião pública eleger alguns presidentes.

Mais recentemente, de uns sete anos pra cá, surgiu aquilo que está se demonstrando como a influência mais nefasta, pior que a TV Globo: as chamadas redes sociais. No entanto, essas, se bem utilizadas, poderiam ser decisivas para o comportamento mais saudável da população diante da epidemia. Mas dificilmente isso acontecerá enquanto o presidente da República, Sr. Jair Messias(?) Bolsonaro continuar exercendo a sua influência fatal.

Está muito difícil ver um final feliz.

O MAIOR DESASTRE AÉREO DO BRASIL, por José Mário Espínola

Acidente da TAM em 2007: 199 mortos. 14 vezes menos que os mortos por Covid no Brasil em média diária. Foto: Agência Brasil

Quatro boeings por dia! É o maior desastre da história: todos os dias no Brasil morrem pessoas em quantidade equivalente à lotação de quatro grandes aviões transcontinentais.

Nunca se morreu tanto assim, antes. Apesar disso, as pessoas continuam “embarcando” diariamente nessas “aeronaves”, quando agem com displicência com o próprio destino e o destino dos outros, inclusive dos seus entes mais queridos.

Tudo já está tão banalizado que ninguém se choca mais com as manchetes diárias, estampando os números diabólicos. Até parece que não estão nem aí para tanta morte. Por eles não sobrarão aeronaves!

Estou profundamente sensibilizado com a perda de tantas pessoas amigas, tantos entes queridos e tanta gente conhecida.

Assisto, com a sensação de impotência, parte da minha história se desmanchar, ser diariamente enterrada. Ou cremada. Estou perdendo bons amigos, alguns adversários do xadrez e outros que dividiam comigo o prazer pela cultura, pela música, pela história da nossa juventude. Excelentes interlocutores, até outro dia bate-papos animados, estão silenciando.

Assisto também à perda de pacientes meus, muitos deles que fizeram parte da história de meu consultório, que acompanharam até outro dia a minha vida profissional.

E, acima de tudo, parentes queridos, que cresceram juntos comigo ou que acompanharam o meu crescimento, pessoal e profissional.

Fico assistindo, horrorizado, a irresponsabilidade coletiva. Consigo enxergar nessa loucura o exemplo que vem de cima: o grande líder da nação, o Mito mitômano, exibindo exemplarmente a sua irresponsabilidade, que é imitada pelos seus cegos seguidores.

Tudo amparado pela inépcia, pela ineficiência de algumas autoridades de saúde, especialmente o ministro Eduardo Pazzuelo, que só faz o que o seu padrinho político ordena ou permite. Com isso, concorrem para a grandiosidade do desastre. Que dupla infernal!

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Ontem, nós recebemos a segunda dose da vacina Coronavac. Mesmo assim, pretendemos manter as medidas de higiene e distanciamento preconizadas pelas autoridades de saúde e cientistas.

Esperamos que todos aproveitem essa oportunidade, quando chegar a sua vez.

Estou triste, muito triste… Mas pode ficar certo: não embarcarei em Boeing algum!

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  • Foto da Agência Brasil que ilustra o artigo: acidente do avião da TAM em 2007, no aeroporto de Congonhas, São Paulo (capital). Matou 199 pessoas, número 14 vezes menor do que a média diária atual de mortos no Brasil pela Covid

A INDIGNAÇÃO COMO VIRTUDE, por Francisco Barreto

O ator Karra Elejalde interpreta Miguel de Unamuno. Nesta cena, abertura do curso de 1936, na Universidade de Salamanca

O ator Karra Elejalde interpreta Miguel de Unamuno no filme Mientras dure la guerra (Alejandro Amenábar, 2019): cena da abertura de um curso em 1936, na Universidade de Salamanca (Imagem Teresa Isasi/Divulgação, copiada da Revista Continente)

São 3.35h da madrugada, e subitamente me acordo açoitado por uma reflexão que me conduz até o grande humanista Don Miguel de Unamuno, que de Salamanca com humildade ensinou ao mundo.

Um dia lhe perguntaram: “O que lhe parece Anatole France? (o cético Prêmio Nobel que escreveu a ‘Revolta dos Anjos’). E Don Miguel, como um touro Miúra, andaluz, possante e feroz, avança sobre o seu interlocutor: “ Non me gusta Anatole France. É um homem que não sabe se indignar…”.

Indignação, supremo sentimento aos comuns dos mortais, hoje, em via de extinção na conduta humana atual. Estar pasmo, perplexo, convulso diante dos fatos que nos atormentam, pequenos ou grandes incidentes que desafiam a nossa consciente e silente indignação.

Perdi o sono, pensando em D. Miguel, quando foi agredido publicamente – ao dissertar sobre as virtudes humanas – pelo fascista espanhol General Millán-Astray, que vociferou: “Abajo la inteligência! Viva la Muerte!”. Ao que Unamuno respondeu: “Todos me conhecem e sabem que sou incapaz de me calar”.

Todos os dias somos uma plateia inerte, estoica, insensível às condutas públicas inspiradas na perversidade bolsonariana: saiam, vivam, trabalhem e se matem. Suprema perversão. Morre também a indignação pela não palavra, e o não dito tão caro ao pensamento lacaniano.

Diógenes, o filosofo cínico, adoraria viver nos dias atuais, onde teria fartos argumentos para ampliar o seu sentimento de desprezo à humanidade pela ausência da moralidade e da ética.

Homiziados no silêncio estão nossos magistrados, juízes e promotores, que sob o pálio da pandemia se eximem de suas importantes funções. Quantas milhões de pessoas precisam de amparo judicial para conter a violência das injustiças cotidianas e não ultrapassam os batentes do Judiciário. Ninguém sabe, ninguém os vê. Aderiram à tecnologia das nuvens.

Silentes estão igualmente as nossas famílias e amigos que se revelam arredios e embrutecidos pela distância. Nem sempre atentos e afetuosos aos pressurosos apelos dos que confiam as suas esperanças nas metálicas e frias mensagens de WhatsApp.

Quantos dos nossos interlocutores familiares e amigos aderem às perversidades online ao fazerem de conta que não receberam as mensagens desovadas pelo zap? A tecnologia possibilita o silêncio, via a muda simbologia que indica comunicações não recebidas.

Quantos dos nossos se refugiam nestes desprezíveis comportamentos que hoje se balizam no silêncio? Quantos de nós não sabem distinguir a diferença entre um mail e um zap? Quantos se escudam na mais absurda simbologia do não recebido? Cinicamente, muitos silenciam deixando os interlocutores atônitos diante de um mísero silêncio.

A comunicação é um processo enriquecedor: envolve ouvir e responder. No mundo online sem olhar clínico da presença deveria assim ser: aproximar, e não o é.

No cenário nacional não existe apenas o aterrorizante vírus. Precisamos igualmente de vacinas profiláticas contra a não indignação, a perversidade, e a insanidade do desrespeito humano.

O distanciamento profilático é uma coisa indispensável, a mudez e a dissimulação da não comunicação assemelha-se à perversidade com os semelhantes.

O ser online é um meio eficiente de embrutecer. É um protocolo que dissemina o vírus da indignação. Aulas de modo remoto é quase sempre um desastre pela ineficiência. Uma tela fria com dezenas de alunos que nos incomodam pelo silêncio sepulcral e  ensurdecedor, favorecendo a gazeta tecnológica.

Os alunos se evaporam sem nenhuma decência em desrespeito à liturgia de uma sala de aula. Nossos alunos se calam, mas não aprendem sequer a ouvir. O silêncio passa a ser tudo e logo eles não são, talvez nunca serão nada sem a tecnologia e seus algoritmos.

O mundo e a nossa sociedade estão pelo avesso, de cabeça para baixo. Resta apenas a indignação e a consciência crítica do que já não somos. A evitar a morte na alma, já que o vírus nos consome a vida.

  • Francisco Barreto é escritor, economista e Professor de Direito da UFPB

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  • Ilustração: O ator Karra Elejalde interpreta Miguel de Unamuno no filme Mientras dure la guerra (Alejandro Amenábar, 2019): cena da abertura de um curso em 1936, na Universidade de Salamanca (Imagem Teresa Isasi/Divulgação, copiada da Revista Continente)

APL cobra providências em defesa do magistério na UFPB

Ângela Bezerra de Castro, presidente da Academia Paraibana de Letras (APL)

Durante reunião virtual na quinta-feira passada (25 de fevereiro), em João Pessoa, a defesa de uma dissertação de mestrado na UFPB foi bruscamente interrompida por insultos e ameaças de hackers.

A invasão e as palavras de ódio afetaram uma atividade acadêmica, então coordenada pela Professora Glória Rabay, que consistia na apresentação de projeto da mestranda Camila Bezerra sobre rotina de trabalho de mulheres jornalistas na Paraíba.

O fato causou a mais veemente indignação de expressivos segmentos da comunidade universitária e de expoentes da sociedade civil, a exemplo da escritora Ângela Bezerra de Castro (foto), presidente da Academia Paraibana de Letras (APL).

Também Professora Doutora aposentada da UFPB, Ângela divulgou ontem (2) nota da entidade que vai além da solidariedade às pessoas agredidas e não se limite ao mero repúdio. Cobra providências urgentes e enérgicas da administração da Universidade “para que fatos de tamanha gravidade não voltem a acontecer no ambiente universitário”.

A NOTA DA APL

A Academia Paraibana de Letras, perplexa, ao tomar conhecimento da absurda agressão sofrida pela professora Dra. Glória Rabay, da UFPB, no sagrado espaço da sala de aula, ainda que virtual, presta solidariedade à ilustre mestra e a seus alunos, considerando que uma selvageria dessa natureza atinge toda a sociedade.

A UFPB precisa assumir a defesa da dignidade do magistério, garantindo que a profissão possa ser exercida com liberdade de expressão e com segurança. Como instituição, dispõe de competente estrutura jurídica, que deve ser acionada, para que fatos de tamanha gravidade não voltem a acontecer no ambiente universitário.

É preciso evitar, a todo custo, que a impunidade se torne um incentivo ao crime.

  • Ângela Bezerra de Castro
  • Presidente da Academia Paraibana de Letras

A HERANÇA AMBIENTAL DO CABO BRANCO, por Francisco Jácome Sarmento

Impacto 1 – Baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia. Restam as pedras dos gabiões rompidos, último obstáculo impeditivo da destruição da ciclovia e da calçada (01/03/2021)

Em julho de 2020, publiquei no “Blog do Rubão” alguns artigos documentando os resultados desastrosos das intervenções de infraestrutura executadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) supostamente com o objetivo de “proteger” a falésia do Cabo Branco, referência icônica do litoral brasileiro e da geografia mundial.

Impacto 2 – Coqueiral morrendo de pé. Raízes expostas e folhagem amarelada e ressequida anunciando o fim (01/03/2021)

Os textos publicados não se limitaram a descrever o que estava acontecendo, mas também apontavam a evolução do processo erosivo negativamente impactante para a paisagem da enseada do Cabo Branco, processo esse que – claro – não cessou com o fim da administração municipal, em dezembro último.

As evidências do que então se anunciava como consequência direta do lançamento de um amontoado de rochas de grandes dimensões contornando o sopé da falésia, diga-se de passagem, sem nenhum projeto que respaldasse tal ação, permitia a qualquer bom observador da natureza local antever para onde as coisas caminhariam.

Cessei a publicação dos textos e vídeos-denúncia por duas razões: 1) todos os alertas e previsões fundadas na observável evolução do processo erosivo da praia do Cabo Branco haviam sido registradas, inclusive, para além da difusão propiciada pelas redes sociais e a imprensa convencional, uma vez que também atendi o convite do Ministério Público para reunião in loco, contando com a participação de representantes da própria PMJP e de vários outros técnicos interessados no assunto; 2) embora a PMJP não tenha conseguido oferecer nenhuma resposta tecnicamente consistente, insistir como cidadão em cobrar essas respostas facultou a prepostos da edilidade arguir que a denúncia da agressão ambiental tinha viés político, uma vez que se avizinhava o pleito eleitoral envolvendo a disputa pela prefeitura.

À intenção de continuidade no poder municipal interpôs-se o voto popular, quero crer, livre. Já o impacto ambiental decorrente das intervenções desprovidas de engenharia e de planejamento adequado segue agressivo, conforme esperado, dada a máxima do raciocínio lógico basilar segundo a qual em permanecendo a causa, os efeitos persistem.

Impacto 3 – Gabiões de proteção da linha de costa anteriormente existentes rompidos ou tombados pela perda de suporte de areia devido ao processo erosivo (01/03/2021)

Impacto 4: Mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado). Note a laje que segue perdendo o apoio dos gabiões (veja seja indicativa) (01/03/2021)

A progressão maléfica dos processos erosivos decorrentes do amontado rochoso que onerou os cofres públicos em mais de 4 milhões de Reais pode ser constatada pela mera comparação entre a documentação fotográfica anteriormente publicada (e.g., ver Blog do Rubão) e a atual (01/03/2021).

Em resumo

(1) a baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia (não reposta pela corrente marítima natural, por impedimento pelas rochas lançadas pela PMJP) e continua em desequilíbrio em termos de balanço de sedimentos;

(2) o coqueiral, bravamente, está morrendo de pé, pois o próprio suporte terroso lhe é erodido;

(3) conforme previsto, os gabiões anteriormente existentes e que, igualmente custaram milhões ao contribuinte, desmoronaram;

(4) o mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado);

(5) grande parte da calçada por onde transita muita gente em busca de atenuantes para esse segundo ano de pandemia transformou-se em perigosos trechos de crateras e escombros (infelizmente, mais uma vez, conforme previsto). As fotografias abaixo exemplificam cada um desses cinco principais impactos.

Impacto 5 – Grande parte da calçada ruiu e há trechos dos antigos assentos “suspensos” no ar (veja seta), podendo desmoronar a qualquer momento (01/03/2021)

Retomo o assunto cônscio de que os dois meses transcorridos até a presente data não são suficientes para que a nova gestão da PMJP tenha se inteirado totalmente da dimensão da “herança” recebida da gestão anterior. O novo prefeito e seus auxiliares certamente sabem que decisões concretas precisam ser tomadas. Espero que elas venham o mais breve possível e que possam ser implementadas de maneira a reverter as consequências danosas experimentadas por esse cartão postal da nossa capital.

  • Francisco Jácome Sarmento é Professor Doutor em Engenharia Civil da UFPB