PAPAI NOEL ONLINE, por Ana Lia Almeida

(imagem do blogconverse.com, de Flávia Barbieri)

“Querido Papai Noel, esse ano eu quero um monte de presentes porque fui muito boazinha. Não fui no shopping, nem na praia, nem pra canto nenhum; eu também não quero nunca mais ir pras aulas online”.

Meu whatsapp agora está lotado de mensagens como essa. Como é que se responde a isso, meu Deus do céu? Não sei por que cargas d’água inventei de trabalhar de Papai Noel no meio da doidice dessa pandemia.

Bem que a psicóloga disse, no curso online da Escola de Papai Noel, que receberíamos pedidos estranhos e tínhamos de estar preparados para os desejos pouco convencionais das crianças esse ano.

Uma me pediu máscaras de presente, mais nada, disse que a dela estava frouxa e ela vivia com medo por causa disso. Várias pedem a cura para o coronavírus junto com os presentes. Teve um menino que foi direto ao assunto em sua carta de linha única: “Oi, Papai Noel, quero a vacina e um X-box”.

Pelo menos com as mensagens eu tenho algum tempo para pensar e posso pedir ajuda. Difícil mesmo é nas sessões online, quando as crianças pedem essas coisas e eu tenho que responder ali, na lata; ou então tenho de vê-las chorando por não ganhar um abraço. Ainda assim, prefiro esse contato do que o contato nenhum das lives ou das gravações do totem, horas e horas no estúdio fingindo interagir com as crianças.

O pior de tudo é que, mesmo com todo mundo morrendo de novo, o povo não para de lotar o shopping. Querem morrer comprando, agarrados aos produtos. Coisa mais esquisita esse tempo. E olha que eu já vi de tudo com esses 65 anos nas costas.

  • • Imagem que ilustra a crônica é do blogconverse.com, de Flávia Barbieri
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