ISSO É SER CRISTÃO? por José Mário Espínola

João Alberto: tudo que se sabe sobre a morte de cliente no Carrefour

João Alberto sendo espancado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre. Foto: Reprodução/Gazeta do Povo

Recentemente, os nossos lares foram invadidos e tivemos a sensibilidade violentada pelas imagens de um homem espancado até a morte por dois seguranças de um supermercado.

No filme exibido pela televisão é possível ver um cidadão que estava sendo conduzido por dois homens fortes, seguranças de um supermercado, para fora do estabelecimento, quando subitamente reagiu com um soco, talvez a uma provocação. Imediatamente após, foi derrubado, imobilizado e coberto de pancadas por ambos os seguranças.

Ficamos ainda mais indignados pela frieza de uma funcionária do estabelecimento, que a tudo filmava sem se importar com o sofrimento infligido à vítima. Os telejornais se encarregaram de espalhar pelo Brasil as imagens chocantes que registraram o assassinato.

Algumas emissoras de TV costumam pegar um cadáver ilustre, fatiá-lo e servi-lo em “bifes” ao longo dos próximos dias: no jornal da noite, da meia noite, das 7 horas, no Especial da sexta-feira e por aí vai. Com essa atitude colaboram para a banalização da violência.

A minha indignação é ainda maior, no entanto, quando me chegam mensagens de pessoas diversas, alguns amigos de infância, que tiveram boa formação ética e moral, que procuram justificar o assassinato do cidadão.

São pessoas de nível intelectual elevado, boa formação cristã, mas que não mediram senso crítico quando foram convocadas para disseminar informações que possam atenuar a atitude dos que cometeram o crime. Penso até que elas são “convocadas” porque, quando submetidas a uma análise superficial, vê-se que as mensagens obedecem ao mesmo padrão, revelando que têm uma origem comum.

É como se os emitentes tivessem recebido da mesma fonte e reenviado sem ler. Pois eu tenho a certeza de que não teriam reproduzido e multiplicado se tivessem refletido sobre o conteúdo. E, para a minha imensa tristeza, essas pessoas, ao mesmo tempo em que tentam atenuar e justificar a atitude dos criminosos, demonizam a vítima.

Agindo assim, contribuem para disseminar o ódio pela nação brasileira, mas se consideram cristãs praticantes ou simplesmente religiosas. Frequentam missas, cultos, adorações e todas as atividades de suas religiões. Chegam a emocionar-se ao ouvir a belíssima Oração de São Francisco. E cantam “Derrama, Senhor!”.

Pessoas assim pregam o amor ao próximo, desde que o próximo lhe seja igual. Nutrem desprezo por quem julgam diferente, inferior ou coisa pior. São pessoas indiferentes à miséria humana.

Quanto ao caso do cidadão João Alberto, não posso afirmar que ele tenha sido assassinado por ser negro. Mas a minha impressão é que a sua pele pode ter sido o fator agravante. Isso me leva a crer que ele jamais seria assassinado se fosse um homem branco. Provavelmente teria sido agredido, mas sem o ódio que estimulou aquela violência toda.

Tenho a certeza de que foi um crime de ódio, não importa a motivação. Ele foi acusado, preso, condenado e executado em questão de minutos. Eu não acredito que será feita justiça a ele. Nem que, considerando o clima vigente no Brasil, outros João Alberto serão poupados. Não foi o primeiro nem será o último.
Esse é o meu país, o Brasil de hoje.

É isso que é ser cristão?

  • José Mário Espínola
  • Cidadão horrorizado

(Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)

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Uma resposta para ISSO É SER CRISTÃO? por José Mário Espínola

  1. PAULO montenegro escreveu:

    Artigo atual, verdadeiro e, infelizmente, traz a luz um triste fato e uma realidade que ocorre no Brasil dos nossos dias. A mídia, banalizado o crime e sendo escola de pedagogia do mesmo. Percebo o mesmo que você, e diariamente recebo mensagens pelas redes sociais que, em sua grande maioria, dar para se perceber que hoje no país existe um serviço de disseminação do ódio, divisionismo, e até do radicalismo religioso, étnico e de ideologias tendenciosas. Muito triste esse método capsioso hoje em voga e em moda no nosso solo pátrio, e, o pior de tudo, é que parece ter origem nas forças dominantes que se revezam na gestão do poder central. Como está sendo triste viver num país que sofre de várias pandemias simultâneas!