OS ALOPRADOS, por Raíssa Santos

(Imagem recortada de charge de Ziraldo publicada em caosnaeducacao.blogspot.com)

Não sei, mas sinto que a distância entre os corpos uniu ainda mais as mentes, as personalidades, as essências, e escancarou quem realmente somos. Falo isso, voltando-me para o meu ofício de educadora. Vejo cada dia, de forma mais concreta, com quem quero conviver até a aposentadoria.

Fala-se muito que as desigualdades sociais foram expostas durante a pandemia – como se isso já não fosse tão visível antes. Mas e nós? E nossos defeitos?

Percebo que agora sim podemos dizer que conhecemos cada um (pelo menos a parte que nos diz respeito). Digo isto, conforme já mencionado, apontando para a minha profissão. Se antes falávamos que a prática docente estava a mil léguas da teoria, agora é praticamente impossível dimensionar tal distância.

Antes de tudo isso chegar, quando saíamos da escola, de fato saíamos da escola. Hoje, isso não mais acontece. Parece que estamos num loop infinito.

Imagine você conviver com colegas tão milimetricamente perfeitos em seus discursos, mantendo uma aparência impecável, e, durante a labuta, ser um ser que você quer manter a três pandemias de distância?

Essa é a atual situação daqueles que foram nomeados, por uma grande amiga, de “aloprados”. Segundo ela, os ditos “aloprados da educação” são os idealistas, talvez ingênuos, mas sempre sonhadores.

São aqueles que buscam o melhor de cada aluno em cada um e não apenas nos prognosticamente considerados notáveis, antecedendo, assim, mais uma profecia autorrealizadora.

Também aqueles que acham todos notáveis, bastando-lhes um punhado de incentivo mais um bocado de paciência.

E aqueles que rechaçam toda e qualquer atitude que corrobore e contribua com a ideia mercadológica em que estamos inseridos.

Não faltam, claro, aqueles que se revoltam com a fuga da realidade de alguns colegas que não aceitam o momento catastrófico em que vivemos e parecem ter como principal objetivo desvairar os alunos… Com isso mais aquilo e ainda mais isso para entregarem antes do prazo permitido. Porque, se não for antes, o aluno nunca ganhará a tão famosa estrelinha.

E o pior: o mesmo objetivo parece se destinar também aos já aludidos aloprados.

Bom, acredito estar de um lado. Não farei aqui, no entanto, uma autopromoção para não cair no mesmo ato falho dos teóricos viventes tão divergentes em suas práticas.

Deixo a você, leitor, a decisão de onde me inserir, além de uma pergunta: quando tudo isso passar, a quem você planeja dar as mãos?

• Raíssa Santos é Professora

É BOM ESCLARECER
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2 Respostas para OS ALOPRADOS, por Raíssa Santos

  1. Danilo Gabriel escreveu:

    Amei demais professora! Como sempre, trazendo as melhores reflexões❤️ Só orgulho da senhora. Morro de saudades das melhores manhãs que já tive ao seu lado, nunca esquecerei cada ensinamento dado.
    Durante essa pandemia eu tô me sentindo meio “bloqueado” em relação aos estudos, não sei bem a razão, mas me deixa triste! Mas ao lembrar que tive a senhora como professora, me sinto capaz, enfim… PARABÉNS❤️

  2. Maísa Santos escreveu:

    Texto forte! Daqueles que nos fortalecem por percebermos que compartilhamos de angústias parecidas…