REAÇÕES ÁCIDO-BASE, por José Mário Espínola

(Imagem copiada de porcoespinho.com.br)

Estudando Química, aprendemos que reações ácido-base se dão de uma forma muito simples e sempre buscam a neutralidade como produto final. Aprendemos também que um ácido forte em contato com uma base fraca terá como resultado um produto com características químicas mais ácidas. Por outro lado, o produto será mais básico ou neutro se obtido de uma relação na qual a base é igual ou mais forte que o ácido.

Não pretendo aqui falar sobre Química, orgânica ou inorgânica. O que me fez recordar o Curso Científico foram as notícias sobre as reações que estão ocorrendo nas redes sociais, onde pessoas muito influentes (os ácidos fortes) se relacionam com pessoas facilmente influenciáveis (as bases fracas).

Com muita preocupação tenho acompanhado o noticiário sobre perseguições doentias que tem sofrido o assim chamado youtuber Felipe Neto, vítima de uma campanha sórdida, doentia, fascista, enfim, pelo simples fato de criticar e ter opiniões divergentes de políticos que estão em evidência ou no poder, atualmente.

Embora só há pouco tempo eu tenha tomado conhecimento do fato, sei agora que ele é uma figura de muito destaque e influência no ambiente virtual. É conhecido (e acompanhado!) por dezenas de milhões de pessoas. Felipe Neto é um formador de opinião! Ou seja, ganha a vida conquistando corações ou convencendo mentes. Eu o comparo a um ácido forte.

Fiquei mesmo impressionado com a profissão do rapaz: Formador! Significa que ele é uma espécie de guru. Segundo a Wikipédia, seguido por mais de 39 milhões de pessoas. Traduzindo melhor, Felipe é capaz de fazer as pessoas mudarem o que estavam pensando; ou, simplesmente, pensarem. Ou ainda mudarem “aquela velha opinião formada sobre tudo”, como disse Raul Seixas. É muito forte!

Comecei a imaginar como é alguém não ter a própria opinião e comprar, alugar ou pedir emprestada a opinião de alguém que ganha o pão fazendo a cabeça dos outros. Será que o Sr. Felipe Neto consegue mesmo influenciar alguém o suficiente para fazer essa pessoa mudar o pensamento? Ou simplesmente pensar, coisa que esse alguém não devia se sentir capaz de fazer, pois procurou outra pessoa para isso? E milhões de mentes, então?

Nem Mandrake, grande hipnotizador dos quadrinhos da minha infância, conseguiria tamanha proeza. Nem a Globo, que não conseguiu influenciar tantos assim em período tão curto, pois levou décadas para emburrecer considerável parcela da população com as suas novelas e programas dominicais.

É preciso não ter mesmo cabeça para submeter-se a isso. Como as crianças. E alguns adolescentes. É onde entram as reações ácido-base. Mudar a forma de pensar de marmanjos já formados na vida, das duas uma: ou o Felipe é muito forte ou as cabeças são muito fracas. Ou, quem sabe, as duas coisas.

Ao longo da minha vida, conheci pessoas capazes de influenciar a forma de pensar ou agir de outras. Na infância, sofremos muito a influência das nossas empregadas, especialmente as do interior, exímias na arte de contar histórias. Elas são capazes de moldar nossos gostos. Cito um exemplo pessoal: de tanto ouvi-las falar de alma à noite, depois que terminavam o trabalho, terminei gostando muito do gênero Terror.

Outras faziam com que a gente gostasse de folclore, das suas danças, do colorido que elas descreviam com apuro. Elas influenciavam também a formação religiosa das crianças, especialmente as meninas.

Professor de Direito, Francisco Espínola, meu pai, influenciou gerações, despertando nelas o gosto pela leitura e desenvolvimento da cultura jurídica. Dentro de casa, fez de seus filhos ávidos leitores com muito apreço pela cultura geral, alcançando também nossos amigos. Lembro-me bem que Nadja e Niedja Fernandes atravessavam a praça para pegar emprestados as revistas e livros policiais que papai comprava para ler.

Meu irmão João Neto influenciou duas gerações (a dele e a minha) a gostar da boa música. Ele trazia discos de jazz, Bossa Nova e MPB e reunia os amigos e colegas para ouvir. E sobrava para mim, Silvino e Humberto, que passávamos horas a ouvir e adorar aqueles estilos de música. Já Paulo Fernando influenciou o meu gosto pela música clássica e pelos ritmos, principalmente os latinos: rumba, bolero, mambo, o calipso e o chá-chá-chá. O twist veio depois, e já foi com Silvino.

É natural que quando estão em formação os jovens se deixem levar por pessoas com ascendência sobre o futuro profissional deles. Lembro de Flávio Tavares, que no começo de sua carreira como artista plástico recebeu forte influência de seu pai, Dr. Arnaldo Tavares, e de pintores mais velhos, como José Lyra e Hermano José, até desenvolver estilo próprio. Já Chico Viana teve perto de si a presença forte do seu pai, professor João Viana, sentindo-se livre o suficiente para largar a Medicina e se tornar um grande escritor, além de excelente professor.

Difícil entender, contudo, como alguém já adulto se deixa influenciar ao ponto de sofrer uma verdadeira lavagem cerebral, daquelas de filmes políticos ou de ficção científica.

Nossos pais sempre alertavam: cuidado com as más influências! Mas nem sempre seguimos os seus conselhos. Temos um exemplo muito ruim: o do nosso presidente, que sofre total influência do presidente americano. Compreensível, todavia. Trata-se de uma cabeça totalmente oca, facilmente influenciável, portanto. De uma cabeça cheia de coisas ruins para outra vazia, vocês podem imaginar o conteúdo transmitido. De um ácido forte para uma base fraca.

Vem sendo apurado que mensagens de ódio disseminadas ao longo da última campanha eleitoral influenciaram o eleitorado e definiram o resultado. E não parou por aí. Continua a influenciar, ainda hoje, dois anos depois, tendo até gabinete próprio no Palácio do Planalto.

Tudo isso serviu de influência para que eu pensasse em procurar ver como anda a minha cabeça. Será que ela está sólida o suficiente para escapar dessas más influências? Ou vazia o bastante para mudar o meu pensamento, transformando-me num zumbi vivo?

Por tudo isso, estou pensando em fazer uma revisão da cabeça. A revisão dos 70. Não penso em procurar o psiquiatra, que seria o lógico. Ou o neurologista. Penso em procurar um desses influencers (será que eles têm alguma espécie de oficina?). Chego lá e digo mais ou menos assim:

– Examine a minha tolerância para com a imbecilidade alheia, os freios do meu ímpeto, a minha forma de pensar no próximo, de encarar as decepções, a minha maneira de rever o passado, o fluido para as minhas evasivas, o óleo para cara-de-pau. Quais são os riscos para que eu me transforme numa metamorfose ambulante. Aproveite e faça uma revisão das minhas preferências.

É provável que eu leve um bom chute. Mas é como estou interpretando e somatizando todas essas notícias e informações, para concluir o seguinte: se conservarmos o nosso senso crítico, sem exageros, dificilmente sofreremos as más influências.

José Mário Espínola
Refratário a influências

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