(Imagem meramente ilustrativa copiada de portallos.com.br)

Foi um alvoroço medonho. Ela entrou pela janela da cozinha e foi logo atacando o morador. Sentado e concentrado, ele fazia as contas do mês num caderninho sobre a mesa de tomar café da manhã.

Para se defender, salvar mesmo a sua vida, ele fugiu da agressão. Deu um pulo tão grande que alcançou à sala ao lado em fração de segundo. Sonorizado com um grito de pavor, o pulo derrubou a cadeira.

De tão altos, barulhos de medo e fuga chamaram a atenção da esposa. A mulher estava no banho, mas, na velocidade do susto, fechou chuveiro, vestiu roupão, da toalha fez turbante e veio socorrer o marido.

Encontrou-o em estado de choque, balbuciando algo ininteligível, todo trêmulo, apontando para a cozinha. Ela deu uma espiada. Viu que a invasora estava na maior calma, encostada no balcão da pia de lavar louça.

“Vá pro quarto e se tranque, que aqui eu resolvo”. Aquela ordem, naquele tom, ativou algum neurônio ou resto de coragem no homem. Recobrando a fala, suplicou para que ela o acompanhasse até o esconderijo.

– Venha comigo, pelo amor de Deus. Vamos ligar pra Polícia.

– Polícia?

– Quer dizer, bombeiro….

– Ômi, deixe de ser frouxo. Vá, vá, mas passe direto pro banheiro, viu? Faça o favor de não se deitar, que acabei de trocar os lençóis.

Ele obedeceu, prontamente. Mas não foi até a privada. Preferiu ficar atrás da porta, de ouvido colado na madeira para acompanhar a batalha entre a sua mulher e aquela agressiva e repulsiva criatura.

Captou palavrões, desafios, sons de toalha surrando parede, de móveis bruscamente arrastados e de uma queda. “Mô, você tá bem?”, gritou, já temendo que algo de ruim imobilizasse a sua destemida defensora.

“Uhuu! Matei, matei. Venha ver, venha ver”, bradou ela de lá, com inflexão de vitória. Aí, ele se encheu de brios e arrebatou-se até o cenário de guerra. Viu que sua amada estava bastante ferida, mas com ar triunfante. Tentou abraçá-la.

– Nem venha! Nem venha! Se quiser fazer alguma coisa, pegue a vassoura, a pá, recolha e jogue essa nojenta lá fora, no camburão do lixo.