VENEZUELA JAMAIS! por José Mário Espínola

Bolsonaro desce a rampa ao encontro de manifestantes golpistas (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Este domingo, Grande Amiga inundou meu celular com imagens de manifestações em Brasília e noutras capitais onde manifestantes voltaram a atacar os poderes Legislativo e Judiciário, que juntos com o Executivo representam os pilares da nossa democracia.

Pediam (e não param de pedir!) que as Forças Armadas fechem o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, usando quantos cabos e soldados queiram. Desafiando a Lei, bradavam contra a Carta Magna, a Constituição, o que é crime previsto no Código Penal.

Os manifestantes, aglomerados e desprotegidos, desafiavam todas as normas de higiene recomendadas pelas autoridades da saúde do Brasil e da Organização Mundial de Saúde (OMS), arriscando a sua vida e a da sua família, visto que estamos no auge de uma grave epidemia.

Em posição de destaque, em todos os sentidos, estava o chefe do Executivo brasileiro. Se ele não dissesse nada, a simples presença sua naquela manifestação, por aqueles objetivos, já seria o suficiente para estimular a horda. Quem cala consente. Mas ele não consegue se calar.

Andou para cima, para baixo, distribuindo sorrisos e perdigotos, e principalmente estímulos ao ódio da parcela da população que ainda nele acredita. E que, felizmente, está se desmilinguindo. Afirmou que as Forças Armadas o apoiam nessa cruzada do Mal.

Estamos assistindo a essas mesmas manifestações todos os fins de semana. O mote é sempre o mesmo: contra o Congresso livre e contra o Judiciário independente. A cada semana o presidente, líder dessa turba, sempre acrescenta uma nova pitada de ódio.

Semana passada, insinuou que as Forças Armadas apoiam esses ataques. Ontem, que as Forças Armadas estão por trás disso tudo, que chegou ao limite do direito democrático e num futuro mui breve elas agirão.

O silêncio das Forças Armadas serve aos propósitos do presidente e de seus apoiadores. Quem cala consente? Ao longo da semana, eles distribuem mimos de ódio à imprensa livre, aos adversários e até mesmo aos recentes “ex-patriotas”, que até outro dia com eles perfilavam, entraram em desgraça e foram expurgados, no melhor estilo da falecida União Soviética.

Escondidinhos, agrupam-se no que eles denominam “Comandos Patrióticos,” organizações de extrema-direita que estão fazendo um raio-X político do país, com o objetivo de intervir em movimentos paredistas ou de resistência à escalada do fascismo no Brasil.

Também estão identificando pessoas que de alguma forma possam discordar de suas idéias infames e já estão começando a praticá-las. Ao longo da semana, agrediram enfermeiros e outros profissionais que estão trabalhando durante a pandemia para curar ou mitigar o sofrimento quando não for possível salvar aqueles que adoecem da Covid 19.

São tão imbecis que não enxergam que se adoecerem nessas manifestações ou fora delas serão justamente esses profissionais que irão tratar deles. Ou será que eles pensam que o seu presidente vai abrir uma UTI no Planalto, dentro do Gabinete do Ódio? Neste domingo, agrediram profissionais da imprensa.

Não, eles não são originais. Copiaram a ideia dos antigos Comandos de Caça aos Comunistas que se formaram logo que a ditadura militar se instalou no Brasil, em 1º de abril de 1964. Outrora os CCC delatavam aos militares como sendo comunistas as pessoas que eles antipatizavam.

Muita gente foi presa, torturada, perdeu o emprego, graças a esses débeis mentais e doentes sociais.

Mas os autodenominados “patriotas” de hoje aprimoraram as ações nefastas contra a população indefesa. Além de derramarem um mar de ódio pelo país, já estão atacando pessoas, como vimos acima.

Diante de tudo isso, e sentindo um forte mau cheiro de passado, travei o seguinte diálogo com minha Grande Amiga:

JM – Grande Amiguinha, por que vocês tanto resmungam, qual é o motivo dessas manifestações?

Grande Amiga – Livrar o país dos comunistas!

JM – Comunistas? Hoje? 

Grande Amiga – Sim. Que estão querendo transformar o Brasil numa Venezuela!

JM – E o que você acha da Venezuela de hoje?

Grande Amiga – Um monte de excrementos!

JM – Vamos ver… Lá às instituições funcionam assim: Executivo, inatingível. Quem discordar sofre alguma ofensa. Quem se destaca perante a opinião pública, é perseguido e transformado em monstro, traidor. Congresso, submisso ao governo, só faz o que ele quer. Judiciário, submisso ao governo, só processa quem é da oposição. Exércitos paramilitares, milícias bolivarianas pelas ruas e bairros, dedurando e perseguindo os que têm a coragem de opinar contra o governo. Imprensa, censurada e controlada. Amordaçada! Redes sociais: controladas pelo governo, disseminando o ódio e o terror.

Grande Amiga – Exatamente!

JM – O quê, então, o presidente, seus filhos e seus seguidores querem para o Brasil? Executivo, inquestionável, jamais permitindo que seja contrariado. Se alguém se destaca mais que o presidente é perseguido, mesmo que seja do esquema! O presidente não poder ser processado, mesmo que cometa algum crime. Congresso: depois que for reaberto, só poderá aprovar o que o presidente quiser. Submissão total! Judiciário também. Depois que for reaberto, não poderá julgar o presidente, mas tão somente os seus adversários. Exército paramilitar: comandos patrióticos controlando os próprios vizinhos e os adversários do presidente e de seus filhos. Imprensa, controlada e submissa. Amordaçada! Redes sociais, controladas pelos milicianos digitais, disseminando o ódio e o terror.

Depois dessa, talvez sem argumentos para contestar, Grande Amiga fez uma longa e refletida pausa. Aproveitei e arrematei:

JM – Qual a diferença do Brasil dos sonhos de vocês para a Venezuela de hoje?

Grande Amiga – Será a mesma bosta, então…

JM – Pois é… O que vocês estão querendo é uma Venezuela com o sinal trocado. Ou de cor trocada. Eu não, Grande Amiga. Eu quero um Brasil livre, leve e solto. Sem ódio invadindo a minha vida. Onde se tenha a liberdade de divergir sem ofender, onde se possa ter uma discussão sadia. Esse é o Brasil que idealizei 40 anos atrás, um Brasil que por força de um regime de força custou a vida e a liberdade de muitos conterrâneos. As nossas manifestações, no passado, eram o contrário das vossas de hoje. Nós pedíamos por um Congresso livre e um Judiciário independente. E a duras penas conseguimos. E hoje me disponho a lutar para não perdê-lo. Um bom domingo para você!

José Mário Espínola
Cidadão Indignado

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Uma resposta para VENEZUELA JAMAIS! por José Mário Espínola

  1. Paulo Montenegro escreveu:

    Admirado amigo José Mário, seu artigo deveria ser publicado como editorial nos jornais e revistas de maior circulação do país. Verdeira peça verde e amarela, repleta de verdades de um escritor patriota. Vivemos momentos delicados em todos os sentidos, pois o planeta está governado por malucos psicopatas, de norte a sul, de leste a oeste, não bastasse a pandemia e os delicados momentos porque passa a biosfera. Mas temos que fazer eco com vozes como a sua para que possamos acordar enquanto houver tempo. Oxalá!