RECORDANDO CRUZ DAS ARMAS, por Aderson Machado

Trecho da Avenida de Cruz das Armas, que leva o mesmo nome do bairro (Foto: Arquivo ClickPB)

Foi Cruz das Armas o primeiro bairro que conheci em João Pessoa nos dourados anos 60. Mais precisamente no ano de 1963. Eu tinha, à época, apenas onze anos e era a primeira vez que visitava a capital paraibana, onde me hospedava na casa da saudosa Tia Júlia.

Em 1971, meu pai comprou uma casa no bairro em apreço para que, na capital, seus filhos concluíssem os estudos. Assim, de mero visitante de outrora, passei a ser um morador desse importante e imponente bairro.

Cruz das Armas já era muito populoso nessa época, além de ser um dos bairros mais tradicionais de João Pessoa. Lá de tudo existia, o que não se fazia necessário que as pessoas se deslocassem para o centro da cidade para adquirir alguma coisa.

Com relação ao item lazer, com exceção da praia, lá não faltava nada. A propósito, devo dizer que havia dois cinemas, e assisti a muitos filmes no outrora Cine Glória. Também era um frequentador do tradicional Clube Internacional, onde, normalmente, ia aos sábados à noite, ou aos domingos à tarde.

Como não tinha o costume de beber, ia ao Internacional com a finalidade precípua de dançar, embora não fosse um autêntico pé-de-valsa. Muito pelo contrário: incontáveis vezes era abandonado no meio do salão pelas parceiras, exatamente por não acertar o passo quando tocava determinadas músicas.

Cruz das Armas é o portal de entrada de João Pessoa, para quem vem de Recife, dispondo de pista dupla para segurança, bem como para desafogar o trânsito, tanto para quem entra ou sai da cidade em direção, principalmente, à capital pernambucana.

É bom lembrar que na época em que morei em Cruz das Armas o sistema viário ainda era precário, porquanto não havia mão dupla e a única pista era construída pelos tradicionais paralelepípedos e sequer havia semáforos. A propósito, esse fato não era motivo de preocupação para mim, posto que não possuía veículo, sendo o ônibus o meu meio de transporte tradicional.

As minhas andanças por entre o bairro fazia a pé mesmo. Afinal, era adolescente e essas caminhadas me faziam muito bem. Principalmente ao corpo. Hoje em dia, como sabemos, a caminhada é recomendada para as pessoas de todas as faixas etárias.

Como adolescente e aguilhoado por alguns amigos, normalmente, nos finais de semana, aventurava-me a frequentar alguns “assustados”, mais com a finalidade de dançar do que qualquer outra coisa.

Certa vez fui informado de que havia uma festinha famosa no Bairro dos Novais, vizinho a Cruz das Armas, mais precisamente numa localidade conhecida como Tabaco da Burra. O nome em si não me cheirava muito bem. Literalmente. Na verdade, tratava-se de um prostíbulo de quinta categoria e as garotas que lá frequentavam eram do tipo “comeu-morreu”.

Preferi continuar vivo e foi a primeira e a última vez que frequentei esse lugar repugnante. Depois tomei conhecimento de que nesse inferninho, não raras vezes, muitos crimes aconteciam, porquanto era um lugar por demais perigoso.

Como sempre fui um amante do futebol, desde pequeno, ao chegar em João Pessoa comecei logo a ir a jogos. Nessa época, o campeonato estadual era realizado no estádio José Américo de Almeida (depois conhecido como Dede) e na Graça, em Cruz das Armas.

Não raras vezes, quando o Botafogo ia jogar na Graça, eu assistia aos jogos de graça, apesar de não ter nenhuma credencial que me desse esse direito. O artifício que usava, juntamente com outros colegas, era pulando o muro mesmo! Afinal de contas, era estudante, a grana era curta, fazer o quê?

Em 1973, tive a alegria de passar, na primeira tentativa, no vestibular de Engenharia Civil – um vestibular muito concorrido nessa época. Já como universitário e ensinando, deixei de assistir aos jogos na Graças, de graça, porque, graças a Deus, já tinha condições de comprar ingresso para ver os jogos do meu Botafogo.

Devo dizer que também fazia parte da vida religiosa do bairro. Todos os domingos à noite, costumava ir à missa na Igreja de São José, além de não perder a tradicional Festa das Hortênsias, a Padroeira do Bairro, no mês de outubro.

No ano de 1974, troquei Cruz das Armas por Tambauzinho. A partir de então, fui perdendo o contato com meu antigo lugar de morada. E o bairro, por sua vez e apesar do progresso que experimentou, também perdeu. Perdeu, infelizmente, espaço e referências para outros bairros que surgiram em João Pessoa.

  • • Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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