APEGO AOS PAIS, por Aderson Machado

Adélia e Firmino, os pais de Aderson Machado (álbum familiar)

No ano da Graça de 1966, antes de completar 14 anos de idade veio a necessidade de continuar os estudos, o que me privou do convívio diário com meus pais, Firmino Victor Machado e Adélia Mendonça Machado. Morávamos no Sítio Fechado, em Areia, de onde saí para estudar no Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN), em Bananeiras.

Entre os dois municípios do Brejo Paraibano atravessei o primeiro período de dificuldades em minha vida, por ficar ausente da presença física de meus estimados genitores, isso por uma questão assaz justa: o prosseguimento da minha educação regular, da escolarização e formação decisivas para o meu futuro como cidadão e profissional.

Era exatamente isso o que os meus pais queriam. Afinal, havia terminado o curso primário na área rural onde morava e os estudos não poderiam ter uma solução de continuidade. Segundo eles, não adiantava ter a presença física dos filhos sem que eles não progredissem nos estudos, para que um dia se tornassem independentes e seguissem as carreiras que bem lhes conviessem.

Na verdade, o meu pai, em particular, queria mesmo que seus filhos fossem doutores. Para ele, ser doutor de verdade era ser engenheiro, médico ou advogado. Ficamos devendo a ele o título de médico. Mas tudo bem, porquanto, no final das contas, todos conseguimos uma profissão, e assim tocamos as nossas vidas.

Quanto a mim, depois de concluir o curso primário, fiz o tradicional Exame de Admissão, passei e fui estudar no CAVN, em regime de internato, durante cinco anos duros, ausente dos pais e convivendo com colegas nada agradáveis, em sua maioria – para ser justo, eu próprio não me considerava um ouro 18…

Foi, sem dúvida, um período muito difícil na minha vida de estudante, porquanto ficava contando os dias e as horas para ter uma oportunidade de voltar ao meu lar, como no período de Carnaval, Semana Santa, férias de meio e final de ano, bem como nos feriados longos, quando havia. Eram, portanto, poucas as oportunidades, ao longo de cada ano, que tinha para ir ter com os meus pais, já que eles não me visitavam, haja vista as dificuldades para fazê-lo, uma vez que não dispunham de automóvel.

Apesar de o CAVN distar apenas 36 km do sítio onde morava, eu só ia em casa quatro vezes ao ano, em média, puramente por condições financeiras. Afinal, era apenas um estudante, sem dispor de uma mesada, ao contrário de muitos colegas cujos pais tinham uma boa condição financeira.

Devo dizer que todas as viagens que fazia eram de ônibus e ainda tinha que andar 11 km a pé para poder chegar à minha casa. É bom lembrar que o percurso em apreço se tornava uma verdadeira maratona, porquanto tinha que galgar encostas íngremes, atravessar rios, às vezes com muita água, sem falar que, não raras vezes, levava chuva durante o trajeto, chegando em casa todo molhado.

Mas tudo isso valia a pena, pois o prazer de estar junto com meus pais superava todo e qualquer obstáculo. Esse ritual, é bom frisar, durou cinco longos anos, em se tratando de estudar em Bananeiras. Depois, tive que ir estudar em João Pessoa, mas, nas minhas férias, eu continuava visitando o Fechado, para a minha alegria e, por extensão, a dos meus pais.

E foi assim até concluir o curso superior, ocasião em que, depois de passar em um concurso do DNER, fui trabalhar em Floresta, Pernambuco. Mais uma vez, continuei visitando a minha terra natal durante as minhas férias bem como nos feriados longos.

Ao fim e ao cabo, gostaria de dizer que, enquanto os meus genitores estavam neste mundo, eu sempre tomei a iniciativa de ir visitá-los. E o fazia por um amor incondicional que nutria por eles, que tudo fizeram para que eu chegasse aonde cheguei.

Pelo posto e exposto, devo dizer, por uma questão de justiça, que tenho uma dívida impagável para com meus genitores, em função mesmo de tudo que consegui na vida, graças aos estudos que eles me proporcionaram.

  • • Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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