Dos 50 aos 80 do século passado, quando o jornalismo paraibano viveu mais intensamente sua fase heroico-artesanal, no dizer do Professor Chico Pereira, a boemia funcionava como extensão natural do ofício.
Boemia, é preciso esclarecer desde logo, aparece aqui no papel de eufemismo glamouroso para o alcoolismo que desde então já desgraçava ou desencaminhava vida e carreira de muita gente boa na profissão.
No período recortado há pouco, era obrigação tácita e quase diária sair para ‘tomar uma’ após o expediente nas redações, batendo ponto nos pontos de encontro mais frequentados pelos jornalistas.
Era assim ou pelo menos é na minha lembrança do batente e incursões boêmias por bares e restaurantes que se espalhavam literalmente de Tambaú ao Sanhuá, feito as muriçocas do Mestre Fuba.
Frequência não inteiramente aleatória, posso garantir. Havia certa amarração do lugar de beber ao fim da jornada de trabalho de cada um. Final da tarde, por exemplo, Luzeirinho de Jaguaribe ou Cassino da Lagoa.
Meio da noite, Grande Ponto das Trincheiras e La Verita do Tambiá. Saideira, Drive-In da Epitácio e Braseiro Continental, na Torre, ou Gambrinus, que foi onde hoje é loja de vender rede de dormir na Feirinha de Tambaú.
Inaugurei-me nessa vida aos 17 anos, quando me senti enturmado em O Norte. Comecei devagar, com moderação imposta pelo bolso limitado. Minha primeira mesa de bar com colegas aconteceu no Luzeirinho.
Fui até lá na carona de Pedro Moreira, sem intenção alguma de beber. Encontramos já uma roda formada em mesas dispostas na frente do estabelecimento, em plena calçada da Avenida Vasco da Gama.
Tão logo nos aboletamos em cadeiras de madeira ornadas com símbolos da Brahma, o garçom despejou na nossa frente dois copos americanos e uma garrafa de cerveja envelopada em embalagem de isopor.
Sem que eu pedisse ou assentisse, já foi enchendo meu copo e o de Pedro, a quem perguntou qual tira-gosto iríamos comer. “Traz codorna”, ordenou meu então editor, sem curiosidade alguma sobre o que eu queria ou não.
Sem força para resistir, muito menos para recusar, comecei a bebericar. De bicadinha mesmo. Pedro notou e ralhou. “Deixa de frescura, Maguin. Ou bebe direito ou não te trago mais aqui”.
Depois dessa, emborquei meio copo de uma vez. A partir daí…
• Imagem copiada de medium.com
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3 Respostas para Uma boemia com razão de ser
Não raro essa bebedeira chegava a ocorrer antes ou durante o batente.
Arretado. Deu pra sentir o gosto do primeiro gole. Abraços
A boemia nos insere nas mais reais histórias, são páginas escritas a cada rodada de genéricos, onde se autentica as amizades confidentes, onde se aprende as histórias passadas que guiarão as escritas futuras.
Hoje, já com meio século de vida, conto histórias que hoje na memória eu sei de cor, pois faz parte da edição do primeiro volume da minha vida, a boêmia, que para mim é quase sinônimo de alegria.