Corre-corre na redação, tédio em sala de aula

Mencionei em artigo anterior o quanto me ajudaram a aprender e a desempenhar diversas funções no jornal as oportunidades que me deram de substituir jornalistas mais qualificados e mais experientes, eventualmente em falta, folga ou férias do batente.

Aprendi a editar, por exemplo, e mais ou menos a diagramar. Tudo por necessidade pessoal somada à sobrecarga dos diagramadores. Necessidade decorrente do fato de acumular o eito jornalístico com o tédio em aulas do curso de Direito da UFPB em João Pessoa, no qual ingressei em 1975.

O acúmulo agravar-se-ia um ano depois, quando aceitei convite para trabalhar n’A União, estando ainda empregado em O Norte, o que viria a servir de pretexto ou justificativa para a minha demissão, em fevereiro de 1977, do carro-chefe dos Diários Associados na Paraíba.

Segundo a legislação trabalhista, é motivo de dispensa por justa causa o fato de o empregado trabalhar simultaneamente para empresas concorrentes. Sob o ponto de vista formal, legal, nada a questionar ou contestar, portanto. Só não imaginava que A União, jornal estatal, pudesse ser considerada concorrente do então todo poderoso O Norte, na época líder absoluto de circulação no Estado.

De qualquer modo, dei causa. Dei com minha juvenil determinação de ‘abraçar o mundo com as pernas’. Que me fazia, inclusive, passar boa parte do dia dentro de um ônibus ou de uma redação. Bem mais do que nas quatro salas que frequentava pela manhã no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade, e outra no começo da tarde, no Centro de Humanas (CCHLA).

Era assim…

Manhã cedo, pegava ônibus de Mandacaru, bairro onde morava (em casa do Conjunto Boa Vista), até a Avenida Epitácio Pessoa, a principal da cidade. De lá, subia em outro que me levaria à Cidade Universitária, via Miramar e Castelo Branco.

Após as aulas, algumas bem enfadonhas ou de conteúdo ralo, corria para a fila do Restaurante Universitário. Boia no bucho, voltava pro CCHLA, onde assistia (dormia, mais do que assistia) a uma aula de Metodologia da Pesquisa (ou qualquer coisa do gênero) à uma da tarde.

Perto das 14h, após a madorna que fazia repousando a cabeça sobre o tampo de alguma carteira escolar do fundão, espremia-me num ônibus via Avenida Pedro II para descer na terceira parada da Rua Camilo de Holanda, por trás do Liceu Paraibano. Era o ponto mais próximo de O Norte, para onde me dirigia na maior pressa e esperança de encontrar diagramador disponível para fechar minhas páginas o quanto antes.

Este tradutor de telegrama, além de atuar como folguista de outras editorias, já tomava conta regularmente das páginas de Nacional e Internacional, herdadas de Pedro Moreira, promovido a ‘secretário adjunto’ de Redação, para dividir a carga pesada que Evandro Nóbrega concentrava e desembarcava na oficina a partir de sua mesa, a mais central e ampla da redação.

Da parte deste noviço, o jeito era cumprir a missão diária o mais rápido possível e mais ligeiro ainda caminhar até a Cidade Baixa. Na General Osório ou ao lado do Quartel da Polícia Militar, na Praça Pedro Américo, aguardava o ônibus que me levaria ao Distrito Industrial, na Zona Sul de João Pessoa, saída pro Recife.

Meu ponto final ficava na BR 101, bem na frente da Churrascaria Gauchinha, de onde seguia a pé por uns 10 minutos até A União, onde trabalhava como redator das sete da noite ao começo da madrugada. Encerrada a lida, a viagem de retorno, numa Kombi, rodava meio mundo, mas nos deixava em casa.

Nem sempre. Dependendo da fome ou sede, tinha gente que desembarcava em algum cachorro-quente ou bar de Jaguaribe. Aí começava uma “boemia sem razão de ser”, como diz a canção, que devo abordar em próximos capítulos.

  • Foto: imagem meramente ilustrativa copiada de elsemanario.com
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